Enquanto ouvir os pássaros, percebo que estou vivo, sentindo os barcos em círculos no rio dos sonhos, sim, percebo que estou a sonhar, e enquanto olho, uma cidade em voos silenciosos debaixo das pontes que ligam o amor e a paixão, sim, percebo que estou “fodido”, porque a paixão mata, mói, corrompe as mandíbulas das asas de papel, e oiço-as, a elas, e percebo, porque oiço os malditos pássaros, que estou vivo. Sou um espelho insignificante, com luzes e brilhantina na cabeça, um palhaço de circo ambulante, um zumbi com cabelos soltos e mergulhados nas espinhas do amanhecer, e sim, que percebo, a paixão emagrece o céu, alimenta-se dos corpos em desejo, e depois, depois de mastigar os ossos e a carne, foge, e esconde-se no monte mais secreto do abismo; e começo a não ouvir os pássaros, e percebo que os barcos em círculos no rio dos sonhos, sim, percebo que a paixão mata, como matam as balas da solidão, quando embatem contra o peito da paixão...