Tínhamos o mar
e a bancarrota de uma existência fictícia
tínhamos um barco de prata
com sais de frutos para a ressaca
tínhamos uma barraca em lata
e solstícios com malícia
depois do deitar
e nunca sentíamos a falta do azar,
Das ruas cintilações dos xistos com rugas ao amanhecer
tínhamos cama roupa lavada e sexo na varanda
tínhamos o mar
e as janelas de esquecer
como todas as palavras em voos de falar
pequeníssimas entre as vozes de quem manda
e ninguém para nos separar
como os pássaros no Inverno à procura do calor e da solidão de viver,
Tínhamos na garganta
uma réstia de esperança
e amor
tínhamos no sótão da madrugada a pimenta
e os cigarros da lembrança
em flor
o fumo que alimenta
a insónia tua nossa janela entre as fotografias que a noite atormenta.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha