O cordel que se escondia na minha mão quase sempre se estampava contra o sol, e o meu papagaio de papel, com muitas cores e onde costumava escrever com um sorriso, acabava sempre por se incendiar, desaparecia na escuridão, não do dia, mas da escuridão do amanhecer que há pouco acabava de acordar, preguiçoso, mal educado, e os meninos das cubatas arregalavam os dentes ao verem o meu papagaio desfeito em cinzas, malandros, e o cordel aos poucos vinha na minha direcção, enrolava-se ao meu pescoço e acabávamos por adormecer debaixo de uma mangueira, às vezes acordados pela passagem de um monstro dos céus que por perto costumava poisar, onde passava a noite, e eu lá ficava eternamente à espera que uma nuvem amiga me viesse buscar e me levasse para longe, junto ao mar; o mussulo.
A tarde escondia-se na luz que começava a dispersar e era quando eu e o ausente íamos para o portão da entrada, os dois, olhávamos para o infinito, eu despedia-me da nuvem que brincava comigo, enquanto ele apenas agarrava-se à minha sombra adormecida no chão, e de barriga para cima, olhava-me nos olhos e dizia-me baixinho; boa noite.
(texto de ficção)