Quem sou eu que tinha um boneco chamado chapelhudo, que com um martelo, fingindo que arranjava, passava a tarde inteira a bater no triciclo, e a minha avó, que estás a fazer menino, o menino está a arranjar, e pumba, pumba… até os ferros começarem a chorar, e eu, quem sou eu, esquecido nas horas, despreocupado do tempo, apenas sabia que o dia acordava e depois, começava a adormecer, e ao outro dia, novamente dia, luz, vinha a chuva, eu, irritado, depois, sol, depois noite. Quem sou eu que só me lembrava do chapelhudo quando a minha avó penteava as folhas das mangueiras desarrumadas pelo quintal, e ao fundo da rua, a estrada para o Grafanil, veículos militares em marcha lenta, cansados da guerra, e eu, quem sou eu, que ao portão passava horas, não sabia contar os carros, e depois, perdia-me, quem sou eu que só sabia que eram muitos…
(ficção)