Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

27
Mai 13

foto: A&M ART and Photos

 

Sabia que te escondias na sombra de uma locomotiva louca

entre carris imaginários

e praias de incenso sobre tingidas nuvens amarguradas

sabia e não fazia nada

deixava-te sombrear nas planícies rebeldes da solidão,

 

Inconstante este amor que os comboios deixam nos socalcos ao rio doirado

milagrosamente só como sandálias de couro e pingos de espuma

e o mar transpirava

e quase me levava até à pedra onde te sentavas

só como eu só nas locomotivas loucas,

 

Sabia que te escondias... louca

entre cartas invisíveis nas palavras famintas

sabia-o e nada fazia para te resgatar da ausência que a saudade constrói nos sorrisos de amendoeira

e olhava-te como uma louca locomotiva em movimento

procurando sombras que o rio Douro vomitava...

 

Tínhamos um mala simples com objectos simples com destinos diferentes

eu sabias que me transportava para Sul

e tu

tu fingias transportares-te para Sul obliquamente sabendo-o que irias para Norte

opostamente de mim como uma serpente envenenada,

 

Hoje somos apenas dois cadáveres de areia que o tempo

semeia sobre a água salgada onde se escondem os teus seios de cereja

e brincam as tuas coxas como livros em poesia depois de lidos relidos e transcritos

pela louca locomotiva

de uma imagem a preto-e-branco...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:40

Maio 2013
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