Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

29
Mai 13

foto: A&M ART and Photos

 

Sentavas-te nas clarabóias do sorriso insónia madrugada

e eu imaginava-te voando sobre a cidade

voando desesperadamente como quem procura árvores baloiçando no vento de ninguém

em braços de aço sem odor sem fingimento

e no entanto tínhamos dentro de nós pequenas papoilas falsificadas

que um comerciante estrangeiro tinha estonteantemente inventado durante a noite desgovernada,

 

Éramos de pano como os cortinados da tia Adosinda

e vestíamos-nos enrolando-nos em palavras doentes com cabeças de néons abandonadas

pelos transeuntes imaginados na loucura das horas da Aspirina após o jantar...

havia uma janela de suor que escorria do teu corpo insuflável

porque das tuas palavras cresciam cravos encarnados como clavículas desperdiçadas depois de morto o esqueleto de água salgada,

 

Chovia-nos como chovem as lágrimas dos pilares de betão

quando do silêncio acordam mangueiras e capim envenenado

tive o mar na minha mão quando criança

como em nós

choviam barcos com plumas e rímel nos olhos transatlânticos em sinais de fumo,

 

Tocávamos cigarros por cigarros

beijávamos-nos dentro de um poço de prazer quando a lua escondia os mapas e as bússolas

que nos impediam de viajar pelas grandes planícies do medo e dos corpos suspensos na morte

chovia-nos como chovem pequenos adereços em papel e havíamos de encontrar uma porta

em fina cerâmica com bilhete para a eternidade...

 

[oiço “Eu Seguro” Samuel Úria e Márcia]

Encontro-me plenamente “SEGURO” porque já partiram os paquetes ensonados

e das poucas ruas ainda acordadas hoje nesta cidade

apenas uma a tua boca de Inferno

saboreando portas e janelas que as rochas transportam para a ilha do desejo

sem sabermos porque choravam os barcos com rímel nos olhos e plumas e cores nas faces rosadas da íngreme tristeza das asas de cartolina com palavras agastadas...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:13

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