Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

02
Jul 13

foto: A&M ART and Photos

 

Vivíamos não percebendo que das marés de Inverno

habitava em nós o tédio

construíam-se-nos alicerces envenenados por doces lábios de incenso

como Primaveras desenhadas num papel esquecido em ti

eu

de esquadro e régua

tu

deitada sobre o estirador do desejo

delineava-te em curvas com sombras de trapézios

e dos poucos ângulos que sobejavam em ti

davam para alimentar-me quando chovia nos lençóis da espuma infância

e sorrias como os milímetros de noite inertes entre pilares de granito e luzes ancoradas pelo suicídio,

 

Vou deixar de escrever

(confesso-o apenas a ti)

porque tudo tenho perdido com as palavras

hoje

(confesso-o apenas a ti)

olhei-me no espelho do meu guarda-fato (que te garanto, nada guarda)

e vi os meu olhos em pedaços de lume

como a lareira de Carvalhais

(lembras-te do Inverno?),

 

Sorrir para quê?

Se todas as minhas fotografias são tristes

inexpressivas e doentes

até parecem (disseram-me um dia)

cadáveres voando sobre os Oceanos onde mergulhavas em busca de cardumes inexistentes

de peixes

e lobos descendo a Serra

aldeias perdidas em ti

como eu

(disseram-me um dia, que as madrugadas não eram todas iguais)

apelidei-te de PARVALHONA e hoje percebo que errei

(peço-te desculpa)

porque nenhuma madrugada consegue ser decalcada no estirador onde habitas

digamos que (onde ainda consigo ver o teu corpo no esquisso),

 

Abro a janela

(para quase todos eles, já é noite)

para mim (para mim acorda agora o dia)

começam as brincadeiras dos meninos enquanto mães desassossegadas

habitam como tu no estirador semi-nu das estrelas de plátano adormecido,

 

(confesso-o apenas a ti, tenho fome)

fome daquela que estávamos habituados a saciar

coisa que conseguíamos resolver com dois ou três livros

alguns beijos

e corações com o marcador encarnado

deixando no teu peito uma rosa

um silêncio

sem queixumes

saudades

ou pieguices...

abro a janela

e deixaste de descer a Serra

como os lobos

(quando ouviam a velha máquina de costura Singer),

 

Hoje

Que dia é hoje, (se posso apelidar-te de amor)?

Não sabes ou não queres responder...

deixei de perceber se é Sábado

Terça-feira

não o sei porque não o desejo saber

(Vivíamos não percebendo que das marés de Inverno

habitava em nós o tédio

construíam-se-nos alicerces envenenados por doces lábios de incenso

como Primaveras desenhadas num papel esquecido em ti

eu

de esquadro e régua

tu

deitada sobre o estirador do desejo)

porque se o soubesse

perceberia o quanto feliz eu era sem as malditas palavras...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:45

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