foto de: A&M ART and Photos
sentíamos as toupeiras dos milhafres romperem as lágrimas tuas
das pequenas aldeias em flor
sentíamos os rios e riachos e ribeiras e ribeiros e o mar
o mar amar vagueando no peito de quem não dorme
sentíamos os telhados vergarem ao peso da claridade
e dos relógios envergonhados
sentíamos a escuridão da escravidão
debaixo das mesas do café com esplanadas entrelaçadas
havia abraços de palha
e mãos de hortaliça
tínhamos beijos na algibeira
e fumávamos livros de poesia
sentíamos os carros vagabundos trilharem a cidade dos Oceanos
víamos os barcos encalhados no silêncio da paixão
sabíamos que os candeeiros eram fictícios
e invisíveis como sempre o foram as volúpias pálpebras da sanzala encarnada
sentíamos o sangue cortejar os telhados em zinco
corredores da morte transformados em lojas de luxo
roupas angustiosas em corpos apodrecidos
mortos
sem sentido
e sentíamos o cacimbo mergulhar nos ossos da madrugada
rompiam as sombras com janelas de cristais de iodo...
e uma bala tracejante vomitava ais e uis junto a um charco de alegria
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 4 de Novembro de 2013