Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

04
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

sentíamos as toupeiras dos milhafres romperem as lágrimas tuas

das pequenas aldeias em flor

sentíamos os rios e riachos e ribeiras e ribeiros e o mar

o mar amar vagueando no peito de quem não dorme

sentíamos os telhados vergarem ao peso da claridade

e dos relógios envergonhados

sentíamos a escuridão da escravidão

debaixo das mesas do café com esplanadas entrelaçadas

havia abraços de palha

e mãos de hortaliça

tínhamos beijos na algibeira

e fumávamos livros de poesia

 

sentíamos os carros vagabundos trilharem a cidade dos Oceanos

víamos os barcos encalhados no silêncio da paixão

sabíamos que os candeeiros eram fictícios

e invisíveis como sempre o foram as volúpias pálpebras da sanzala encarnada

sentíamos o sangue cortejar os telhados em zinco

corredores da morte transformados em lojas de luxo

roupas angustiosas em corpos apodrecidos

mortos

sem sentido

e sentíamos o cacimbo mergulhar nos ossos da madrugada

rompiam as sombras com janelas de cristais de iodo...

e uma bala tracejante vomitava ais e uis junto a um charco de alegria

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 4 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:44

Novembro 2013
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9





Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO