Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

18
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

não oiço a tua voz desde que terminaram as manhãs de orvalho

abríamos a janela do sonho

e víamos as acrobacias tontas dos pássaros embriagados pelas nuvens de cerâmica encarnada

havia na nossa mão pedaços de desejo

beijos

e réstias dentadas no teu pescoço deliciosamente belo e doce

como as cerejas

não oiço a tua voz fotocopiada desde que percebi ser um ultraleve magoado

uma jangada envidraçada

uma porta mal fechada

não te oiço desde que tínhamos pequenos sons melódicos em vasos de cristal

e brincávamos como crianças à volta de uma lareira esfomeada

 

dizíamos que o Sol era nosso depois de fazermos amor debaixo do candeeiro abandonado

beijos

como as cerejas

os vidros

e as paredes

caquécticas

e às vezes

lá tínhamos de correr em direcção ao mar

 

versos ancorados

quando no cais de desembarque o murcho sexo do marinheiro escapulia-se pelas frestas da madrugada doentia

em cio

corríamos como loucos vestidos de versos

e palavras sobrepostas como posições de embarque

fodíamos sem saber que o fazíamos

em cio

versos camuflados depois das tempestades de areia

tombarem sobre o teu corpo húmido de alvorada

e beijos

e caquécticas amêndoas brilhavam no teu púbis de Segunda-feira à noite...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 18 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:34

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