foto de: A&M ART and Photos
não oiço a tua voz desde que terminaram as manhãs de orvalho
abríamos a janela do sonho
e víamos as acrobacias tontas dos pássaros embriagados pelas nuvens de cerâmica encarnada
havia na nossa mão pedaços de desejo
beijos
e réstias dentadas no teu pescoço deliciosamente belo e doce
como as cerejas
não oiço a tua voz fotocopiada desde que percebi ser um ultraleve magoado
uma jangada envidraçada
uma porta mal fechada
não te oiço desde que tínhamos pequenos sons melódicos em vasos de cristal
e brincávamos como crianças à volta de uma lareira esfomeada
dizíamos que o Sol era nosso depois de fazermos amor debaixo do candeeiro abandonado
beijos
como as cerejas
os vidros
e as paredes
caquécticas
e às vezes
lá tínhamos de correr em direcção ao mar
versos ancorados
quando no cais de desembarque o murcho sexo do marinheiro escapulia-se pelas frestas da madrugada doentia
em cio
corríamos como loucos vestidos de versos
e palavras sobrepostas como posições de embarque
fodíamos sem saber que o fazíamos
em cio
versos camuflados depois das tempestades de areia
tombarem sobre o teu corpo húmido de alvorada
e beijos
e caquécticas amêndoas brilhavam no teu púbis de Segunda-feira à noite...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 18 de Novembro de 2013