desenho de: Francisco Luís Fontinha
pigmentas-me as palavras envenenadas pelo teu cansado suor
prometes-me o silêncio das prisões nocturnas do medo
sinto-o a cada milímetro de sofrimento na minha direcção
sei que não conseguirás chorar
sei que finges estar tudo bem
mas eu sinto-o dentro de ti
cada medo teu encalhado no espelho da vida
pegas nos álbuns fotográficos do teu passado
e brincas com as imagens minhas chapinhando canções sem estória numa praia de Luanda
e ouvimos o vento baloiçar nas mangueiras em sombras minguas do quintal sem telhado de vidro...
pertencemos aos pigmentos horários da cinzenta madrugada em pedaços mendigo
como serpentes de areia correndo sobre o cacimbo das algibeiras em flor
sofrerás tu?
pigmentas-me as palavras envenenadas pelo teu cansado suor
e pergunto-me se a solidão é um homem
ou o homem que existe em ti se veste de solidão
traiçoeiro condomínio da saudade
a fome das árvores quando os pássaros perdem a liberdade
e tu nada dizes...
e tu pareces serenamente feliz para sentires os cadeados em arame farpado à volta dos teus desejos como o eras quando atravessavas o rio e sentavas-te do outro lado da fronteira...
sofrerás tu?
olhavas a paisagem imaginária do antigo Congo belga...
e uma criança ainda não nascida... pegava na tua mão e sussurrava-te as pigmentadas palavras...
(envenenadas pelo teu cansado suor)
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 22 de Novembro de 2013