Nas sílabas a minha boca suspensa
Na escuridão da tarde
E as palavras em pergaminhos
Das palavras onde vogais teimosas
Poisam nos meus olhos
Vagueiam dentro do meu peito
À procura dos livros da noite
Que se passeiam nas ruas da cidade
Oiço a tua voz sonâmbula
Na esquina junto ao rio
No sorriso de uma gaivota
Que dorme debaixo de um cartão
Pede esmola
E ninguém ninguém olha para ela
Nos passos apressados dos transeuntes
Que regressam do trabalho
Está escuro e vai chover
E a gaivota desordenada
Nas palavras que se escondem nas vogais
E brincam nas sílabas
Nas sílabas a minha boca suspensa
Na escuridão da tarde
Sei que tenho uma cabeça sobre os ombros
Mas sinto-a tão distante
Tão longe de mim
Tinha asas e as minhas asas voaram
No sorriso do vento
Foram com a tempestade
E agora também eu peço esmola
De mão dada com a gaivota
Também eu durmo debaixo de um cartão…
E ninguém ninguém olha para nós.
Luís Fontinha
29 de Abril de 2011
Alijó