Cresci a não acreditar em Deus, e hoje se me perguntam se acredito, a resposta obvia é não, mas por um segundo apenas vou colocar a hipótese da sua existência, e durante esse instante não o vou criticar por a minha vida, desde miúdo, ter sido um inferno, durante esse segundo ele sabe, ele sabe que não tenho emprego e às vezes vivo miseravelmente, e ele também sabe quais os meus sonhos, ter trabalho, escrever e publicar, pintar, terminar o meu curso de engenharia, ele sabe e se eu tivesse a oportunidade de lhe fazer um pedido, apenas um só, abdicava de todos os meus sonhos, todos, e pedia-lhe apenas que não a deixe morrer.
Luís Fontinha