Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

06
Mai 11

Sem dúvida, o mais lindo olhar. Bateram dez ou onze, dez horas, porquê, só para saber, e ainda tu dizes que não ligas às horas, claro que ligo, às horas biológicas, também és daquelas e daqueles que diz sexo só à noite, claro, então quando Hades ser (Hades, deus do submundo e das riquezas dos mortos, mitologia Grega), quando nos apetece, claro, maluco…

 

É bom ter sexo durante o intervalo do trabalho, lanchar na Gomes, um cigarro, e pareces uma personagem dos livros de Milan Kundera, talvez a vida não seja aqui, a insustentável leveza do ser, tantos, tão bons, a imortalidade, sem dúvida, o mais lindo olhar.

 

Bateram à porta do meu pensamento, mas o cansaço era tanto, e é tanto, que não abri, não vou abrir, quem quer que seja, amanhã, pedimos desculpa pelo incomodo, reabrimos amanhã, descanso do pessoal, encerrado para obras, sim, diga, telefone, diga que não estou, não vim dormir a casa, mas é a sua mulher, minha, qual mulher, a sua, mas eu não tenho mulher…, mas ela diz que é…, quero lá saber, deixa-me dormir, mas o senhor está na biblioteca, e na biblioteca também não se pode dormir, sim… pode, peço desculpa…, e diga à minha mulher que me deixe em paz, quero dormir…

 

Dez horas e ainda tenho tanto que fazer…, só se for para dormir, o que ainda tens de fazer, umas coisas, coisas minhas, temos segredos, não são segredos, eu sei, são coisas tuas, e desde quando te metes na minha vida, eu não me meto na tua vida, só estou aqui e também gosto de ouvir…, pois, mas a mim… não me apetece falar.

 

Sabes, diz, quem roubou os teus sonhos deve ser bem desgraçadinho, porquê, viver com o sonho de outro…, pois, também há quem viva não por amor, e dizem que são felizes, pois são, são os ouros, aeros, ou lá com se diz…, achas, acho, tenho a certeza, sem certeza caminho longamente pela avenida, em cada esquina existe sempre alguém a pedir, eu nunca dou nada, qualquer dia tenho eu de pedir, meter uma cunha, lamber as botas, não serás o primeiro, ai não…, mas preferia comer merda…, daqui a nada já nem merda temos para comer…, sem dúvida, o mais lindo olhar.

 

 

 

(texto de ficção)

Luís Fontinha

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:47

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