Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

06
Mai 11

E falas de poetas, da lua… e eu, teimosamente, ainda acredito que um dia, talvez no futuro, vou abraçar a lua… e quando o fizer, cruzo os braços, sento-me no silêncio, e… rio-me perdidamente, porque finalmente o meu sonho foi realizado.

 

Outros sonhos adormecem em mim, em mim, na busca da minha sombra, outros sonhos caminham na minha mão, beijar o mar, deitar-me no chão embriagado pelo sol de verão, e de barriga para o ar, ou de barriga para baixo, sempre suspenso na sombra das mangueiras, brincar com o sorriso do capim, rebolar por entre os destinos das amoreiras, outros sonhos, outras superfícies que vivem em mim, dentro de mim, e falo de poetas, da lua, e falas de comboios apressados entre os carris do desassossego, indiferentes à paisagem, ao rio que deixas para trás, que corre para a frente, e depois, abraçar a lua, olhar um cargueiro empanturrado de contentores no porto de Alcântara, desespera, espera pela mão amiga, impacienta-se pela passagem das horas, dos minutos, em segundos adormece.

 

E falas de poetas, da lua… e eu, teimosamente sentado nesta fraga de xisto, rendilhada, cansada de caminhar pelos mesmos trilhos, adormecer na mesma montanha, desde que foi criada, desde que separada da fraga mãe, e falas de poetas, da lua, e eu, abraçar a lua, beija-la enquanto tu, que falas da lua, olhas à distância a lua, eu sentado no silêncio, cruzo os braços, olho… e rio-me perdidamente, porque finalmente o meu sonho foi realizado.

 

 

(texto de ficção)

Luís Fontinha

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:00

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