E falas de poetas, da lua… e eu, teimosamente, ainda acredito que um dia, talvez no futuro, vou abraçar a lua… e quando o fizer, cruzo os braços, sento-me no silêncio, e… rio-me perdidamente, porque finalmente o meu sonho foi realizado.
Outros sonhos adormecem em mim, em mim, na busca da minha sombra, outros sonhos caminham na minha mão, beijar o mar, deitar-me no chão embriagado pelo sol de verão, e de barriga para o ar, ou de barriga para baixo, sempre suspenso na sombra das mangueiras, brincar com o sorriso do capim, rebolar por entre os destinos das amoreiras, outros sonhos, outras superfícies que vivem em mim, dentro de mim, e falo de poetas, da lua, e falas de comboios apressados entre os carris do desassossego, indiferentes à paisagem, ao rio que deixas para trás, que corre para a frente, e depois, abraçar a lua, olhar um cargueiro empanturrado de contentores no porto de Alcântara, desespera, espera pela mão amiga, impacienta-se pela passagem das horas, dos minutos, em segundos adormece.
E falas de poetas, da lua… e eu, teimosamente sentado nesta fraga de xisto, rendilhada, cansada de caminhar pelos mesmos trilhos, adormecer na mesma montanha, desde que foi criada, desde que separada da fraga mãe, e falas de poetas, da lua, e eu, abraçar a lua, beija-la enquanto tu, que falas da lua, olhas à distância a lua, eu sentado no silêncio, cruzo os braços, olho… e rio-me perdidamente, porque finalmente o meu sonho foi realizado.
(texto de ficção)
Luís Fontinha
Alijó