O Alex em círculos concêntricos à volta de um ponto imaginário, cigarro na boca e braços abertos em gritos histéricos,
- sou um pássaro,
Eu sentado numa cadeira a fumar cigarros imaginários, olhava pela janela, e eu lá fora a brincar com os pássaros junto aos pinheiros, e o Alex à minha volta em voos rasantes, cada vez mais pequeninos… poisava a mão no meu ombro, pegava no cigarro com a mão direita, e,
- sou um pássaro, sou um pássaro e sei voar…
E eu olhava pela janela e ele poisado nos pinheiros de cigarro ao canto da boca, e ele olhava-me e acenava-me, livre, voava, saltitava, e eu sentado na cadeira junto à janela, e eu lá fora a brincar com os pinheiros, e o Alex,
- sei voar e sou livre,
Livre e eu fechado dentro da sala de chuto a contar os cigarros que sobejavam quando eu dormia e o plátano do jardim vinha até mim, poisava a mão nos meus ombros, e eu com dores, o meu esqueleto catalogado e preso com arames, sinto a falta de um osso, não sei se o perdi no corredor ou… talvez na sala de chuto,
- sou um pássaro e sei voar,
E não na sala de chuto, e não no jardim junto aos pinheiros, quando entrei aqui já não o trazia, talvez o tenha perdido junto ao rio, quando os carris se revoltam e desaparecem com a luz do dia, talvez na sala de chuto, quando os cigarros adormeciam na minha mão, dava um salto, e
- foda-se… queimei-me,
Sou um pássaro e sei voar, sou livre…
- Vai-te foder, Alex.
(texto de ficção)
Luís Fontinha
6 de Maio de 2011
Alijó