Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

06
Mai 11

O Alex em círculos concêntricos à volta de um ponto imaginário, cigarro na boca e braços abertos em gritos histéricos,

- sou um pássaro,

Eu sentado numa cadeira a fumar cigarros imaginários, olhava pela janela, e eu lá fora a brincar com os pássaros junto aos pinheiros, e o Alex à minha volta em voos rasantes, cada vez mais pequeninos… poisava a mão no meu ombro, pegava no cigarro com a mão direita, e,

- sou um pássaro, sou um pássaro e sei voar…

E eu olhava pela janela e ele poisado nos pinheiros de cigarro ao canto da boca, e ele olhava-me e acenava-me, livre, voava, saltitava, e eu sentado na cadeira junto à janela, e eu lá fora a brincar com os pinheiros, e o Alex,

- sei voar e sou livre,

Livre e eu fechado dentro da sala de chuto a contar os cigarros que sobejavam quando eu dormia e o plátano do jardim vinha até mim, poisava a mão nos meus ombros, e eu com dores, o meu esqueleto catalogado e preso com arames, sinto a falta de um osso, não sei se o perdi no corredor ou… talvez na sala de chuto,

- sou um pássaro e sei voar,

E não na sala de chuto, e não no jardim junto aos pinheiros, quando entrei aqui já não o trazia, talvez o tenha perdido junto ao rio, quando os carris se revoltam e desaparecem com a luz do dia, talvez na sala de chuto, quando os cigarros adormeciam na minha mão, dava um salto, e

- foda-se… queimei-me,

Sou um pássaro e sei voar, sou livre…

- Vai-te foder, Alex.

 

 

 

(texto de ficção)

Luís Fontinha

6 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:52

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