Vejo no espelho excrementos
Que são a minha imagem reflectida na noite
Eu dançando no fundo da sanita
Engasgado pelo silêncio da casa de banho
Tento aos poucos emergir da merda
Mas a água do autoclismo puxa-me
Agarro-me às paredes
Escorrego… começa a afundar-se
A minha imagem dentro de uma conduta
Entro no vácuo
E caminho por um tubo de cento e dez milímetros de diâmetro
Percebo de estou debaixo da rua
Percebo que a rua cansada de mim
Farta da minha imagem de excremento
E eu feliz
E eu em direcção ao mar…
Vejo no espelho excrementos
Que são a minha imagem reflectida na noite
Eu dançando no fundo da sanita
Eu sufocado no desejo
Deitado de barriga ao ar
E tudo tinha peninha da minha imagem de excremento
Dançando na madrugada
E infelizmente eu não gaivota
Brincando dentro de uma conduta
Em direcção ao mar
À procura do amanhecer…
À espera de adormecer
E morrer.
Luís Fontinha
7 de Maio de 2011
Alijó