Hoje olhei-me ao espelho, não reconheci a imagem reflectida, aguardei uns segundos, abri e fechei os olhos, voltei a olhar, e o que vi não foi o meu rosto, vi o meu cansaço impresso na luz, vi as minhas mãos penduradas no guarda-fatos, e vi à minha volta os pássaros da manhã saltitando na janela do meu quarto.
Pergunto-me o que foi feito do meu rosto durante a noite, pergunto-me onde estará neste preciso momento o meu rosto, entretanto calculei que o meu rosto voltasse a mim, corri para o espelho do meu quarto, mas em vão, o meu rosto desapareceu para sempre, ausentou-se na noite, cansou-se do meu corpo.
E eu, e eu já há muito que tinha deixado o meu esqueleto arrumado dentro do guarda-fatos, agora tenho lá as minhas mão penduradas, e o meu rosto, o meu rosto voou antes de acordar a manhã, hoje olhei-me ao espelho, não reconheci a imagem reflectida, aguardei uns segundos, abri e fechei os olhos, voltei a olhar, voltei a olhar e chego à conclusão que o meu corpo anda disperso por vários locais, e será difícil, vai ser impossível voltar a ser eu.
Luís Fontinha
11 de Maio de 2011
Alijó