A voz poética e inspiradora, e quando ele triste, ouve incessantemente esta música, e adormece embrulhado nas palavras, agarradinho aos sons melódicos… e espera a chegada da manhã.
Sobre a mesa-de-cabeceira ele guarda os óculos que o ajudam na procura das palavras quando estas vêem até à janela e da janela voam até ao espelho pendurado numa parede triste, numa parede feia, numa parede velha, esta música ajuda-o na viagem até às galáxias mais distantes e fora do nosso universo, deus sentado no fim de tarde, juntinho ao cais, à espera das ondas que vêem de longe e vão para longe, levam bálsamos lábias no esquecimento da sombra das árvores que gemem no mostrador de um relógio de pulso,
- Ai que frio,
Balançam na tarde em termino e sacodem os pássaros irritantes que poisam nas suas costas, choram, tremem na incandescência dos minutos perdidos com uma conversa perfeitamente estúpida, perfeitamente sem nexo,
- Que importa se deus criou ou não o universo?
Ai que frio.
A voz poética e inspiradora, e quando ele triste, ouve incessantemente esta música, e adormece embrulhado nas palavras, beija-as no silêncio da noite e o som entranha-se dentro dele, e das palavras crescem flores, e nas nuvens um poema despe-se, sorri e juntamente com as palavras olham deus sentado junto ao cais…
(texto de ficção sobre a música, Simple Words - Fingertips)
Luís Fontinha
11 de Maio de 2011
Alijó