Cesário morto ou vivo encontrado no meio do trigo envenenado com água e açúcar,
- queres colinho ai queres queres,
A tarde evapora-se na liquidez das coxas dela quando na sombra e em brincadeiras no colinho dele, a tarde, a tarde pendurada na janela com vista para o mar, e nas profundezas dos campos de trigo ele em busca do prazer, perde-se nas horas e na secretária poisa uma gaivota embrulhada no desejo, o Cesário morto ou vivo,
- queres colinho ai queres queres, dá-me a tua mão, a minha mão, sim a tua mão, para quê, não tenhas medo e dá-me a tua mão, poisa-a no meu rosto, dás-me um presente, sim dou, está bem pega lá a minha mão,
E das coxas a tarde transpira, finge esconder-se nos sobressaltos dos minutos quando ele em cima dela, não o Cesário em cima da gaja, quando ele em cima dela balança no silêncio das espigas de trigo, está vento, e o sol consome-lhes a pele cálida depois de uma queca apressada e nem tempo teve de tirar as calças, as calças penduradas nos tornozelos, e nos sapatos o cansaço das viagens,
- queres colinho ai queres queres,
Cesário morto ou vivo encontrado no meio do trigo envenenado com água e açúcar, os segundos pendurados no silêncio do número treze, sexta-feira, e a gaivota sobre a secretária sorri para o Cesário, uma gaivota embrulhada no desejo, o desejo quando nas coxas a mão adormece e a água com açúcar abraça-se às plantas de trigo.
- Queres colinho ai queres queres…
(texto de ficção)
Luís Fontinha
13 de Maio de 2011
Alijó