Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

18
Mar 15

A poesia habitava num edifício caquéctico, quinto andar esquerdo, António folheava as fotografias de Margarida,

O tempo entranhou-se nas nossas estórias,

Ouvia-a enquanto ela se despia,

Sentia-me uma letra esquecida nas pálpebras do anoitecer, lá fora brincavam crianças, fingiam que eram sombras húmidas abraçadas ao mar, o eterno

Se despia, dançava para mim, enquanto eu, eu nem a olhava, lia um poema de um autor desconhecido, embrulhava-me no poema... e

Se despia, o eterno momento do desejo, dois corpos de luz sós no vazio, nada, ninguém em redor, apenas percebia que o espelho do sexo baloiçava nas mãos de uma andorinha,

Miguel,

A guerra, “a merda da guerra”, a morte anunciada antes de partir

Vais morrer,

Antes de partir, nas mãos de uma andorinha, ele,

Fotografias...

Ele imaginava o pai um herói, e afinal... um covarde, o perfeito covarde das algas em flor...

Migue?

Sim, pai,

Ontem chegaste tarde a casa...!

Eu, pai?

António

Que não,

António defendia o irmão,

Tarde?

Cheguei depois dele...

Que não, que as guerras não deviam existir

Angola,

Amor de “mãe”,

Foi-se,

Morreu, em combate...

 

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 17 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:39

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