A tarde despede-se em pedacinhos de ninguém, e hoje, hoje nada aconteceu de relevante para contar. Hoje um dia perfeitamente normal, hoje um dia igual a tantos outros, acordei, estou vivo… e logo quando aos bocadinhos a noite for adormecendo, eu espero ainda estar vivo, e repetidamente, sem me ausentar do rumo sem rumo, ir tirando fotocópias aos dias que tenho para viver.
Os dias sempre iguais, os dias continuamente estúpidos, ou será que o estúpido sou eu, não, não poderei ser assim tão estúpido, os dias é que são estúpidos, não eu.
A tarde despede-se em pedacinhos de ninguém, e as minhas mãos adormecem, os dedos perdem-se na sensibilidade dos minutos que aos poucos, que aos poucos se transformam em sombra, e da tarde fica apenas o cheiro, o silêncio, e da tarde o meu corpo absorve a estupidez dos dias, fotocópias.
E dou-me conta que não preciso de estar vivo. Se todos os dias são meras fotocópias do dia anterior de que me serve o original?
Sou uma folha de papel fotocopiada de um original que há muito deixou de existir, e nessa simples folha de papel, e nessa simples folha de papel nem as letras conseguem sobreviver; uma página em branco à espera que alguém queira escrever alguma coisa…
E se hoje não passasse por Alijó o candidato do Partido Socialista e Primeiro-Ministro demissionário Eng. José Sócrates,
- Eu diria que hoje, hoje um dia perfeitamente normal, hoje um dia igual a tantos outros, acordei, estou vivo…
Não critico aqueles que dão a cara e andam de bandeira na mão para apoiarem e defenderem os seus ideais e convicções, seja de que partido for, eu próprio fui militante do PCP e várias vezes candidato, mas confesso que tenho medo dos outros, daquelas pessoas que têm em casa duas bandeiras, uma Socialista e outra Social-democrata, e no dia 5 de Junho à noite, conforme os resultados, vão ao guarda-fato e pegam na bandeira do partido vencedor; desses, desses tenho eu nojo.
Luís Fontinha
24 de Maio de 2011
Alijó