Uma simples côdea de pão, um cordel suspenso no pescoço, três cigarros na algibeira, e Tony carrancudo percorria as feiras do povoado, pegado à sua sombra um rafeiro embrulhava-se com os silêncios do caminho para o rio, e das giestas acabadas de acordar sorriam palavras que se ouviam nas encostas dos seios dela, íngremes, bofetadas na face do peito, as coxas presas no cais, e o corpo flutuava como se fosse uma gotinha de algodão,
- Foi bom
Maravilhoso. Foi bom, maravilhoso, foi bom mas a tarde aos poucos extingue-se na algibeira, e dos três cigarros nada, por entre as paredes encardidas, sumiram-se nas fendas de um sorriso, e talvez tenham passado a parede, e do outro lado, do outro lado o Zé a convencer-me que fixando um ponto na parede, fixando, fixando… passava a parede,
- E os meus cigarros do outro lado à espera das loucuras do Zé, e o Zé em finíssimos fios de seda emagrecia, tornava-se invisível, e quando chamava por ele, Zé, onde anda o Zé, o Zé no compartimento contíguo a olhar o rio e a contar os petroleiros rumo ao infinito, e o infinito encalhado entre duas rectas paralelas, os comboios deitados de barriga para o ar,
E os seios dela estacionados no meu peito pesavam e agarravam-se a mim como o musgo de pinheiros ranhosos no recreio da escola, fazia-me comichão no corpo, e a cada pontapé numa bola um vidro que se finava, quando é o funeral, logo pelas seis junto ao quiosque, e o quiosque durante a noite mudava de dormitório, uma simples côdea de pão, um cordel suspenso no pescoço, três cigarros na algibeira,
- Foi bom
Maravilhoso. Em cada gemido uma pétala que se espetava junto ao pescoço, dois dentes marcados, e uma rosa entranhava-se no umbigo, e no púbis um plátano agarrava-se às gaivotas que no final do dia se confundiam com serpentes abraçadas ao mastro de um veleiro pasmado à espera da maré,
Maravilhoso.
(texto de ficção)
Luís Fontinha
3 de Junho de 2011
Alijó