Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

20
Fev 14

foto de: A&M ART and Photos

 

O corpo roda e sofre

morre

evapora-se dentro das graníticas rochas do coração de água

límpida solidão caminha nas mãos da mulher apaixonada

ela vive

ela ama

ela... ela é a própria madrugada

e não sabe que dentro de mim habita uma triste palavra,

 

O corpo é como um livro disperso no cacimbo

e alicerça-se ao cais dos mendigos envergonhados

ela senta-se no dorso cansado que todas as quintas-feiras submerge na penumbra noite dos pobres esqueletos de vento

morre

ela vive

ela ama

ela... sente o pólen mergulhado no soalho da insónia

e dos lençóis do desejo... ela absorve o sémen do poema acabado de nascer...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 20 de Fevereiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:30

05
Fev 14

foto de A&M ART and Photos

 

Sorrisos do pincelado amarelo na tela da insónia,

pequenas poucas palavras sobrevivem nos teus lábios de sanzala perdida na noite,

ouves as vozes do deambulante cacimbo caminhar sobre os charcos invisíveis da madrugada,

e sorrisos do pincelado amarelo, sobressaem dos granitos verdes em jardins de papel, sorrisos, amarelo pincelado na tela da saudade, mergulhados... encarcerados todos, todos os homens de gabardina cinzenta...

nas cavernas das tempestades nocturnas dos comboios em movimento,

 

Sei que sou perdidamente um filho do circo,

um trapezista, um mísero malabarista... um feliz palhaço com dentes em marfim,

um velho crocodilo de mpingo apaixonado pela terra encarnada das manhãs tuas mãos...

 

Sorrisos que eu não esperava,

que eu... nunca acreditei existirem,

nuvens de porcelana,

janelas sem persiana... portas com vidro duplo e de gonzos embriagados,

sorrisos, tantos sorrisos de pincelado amarelo...

sorrisos cansados da vida construída sobre as árvores de cetim.

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 5 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:58

02
Out 13

foto de: A&M ART and Photos

 

odeio-me por existirem dentro do meu peito as palavras das encarnadas flores

vivo inventando rosas

amores

e chuva miudinha sobre as íngremes rochas do mar da tristeza

sou um barco em fuga das conversas loucas que iluminam os teus lábios de papagaio em papel

e sobes entre o Céu nocturno do desejo

e desces às catacumbas do silêncio

há em ti uma palavra prometida numa tarde de Outono

e éramos crianças vestidas de negro

dançando sobre a mesa de um velho café

esquecendo as amarras Luas dos sótãos clandestinos como divãs de areia

na mala de couro adormecido que a tua mão saboreava

 

me levavas encarcerado até encontrares os beijos das garças quando rompem o cacimbo embriagado pelo capim dos poemas encalhados

distantes

doentes

húmidos

… teu corpo e teu vestido

sós simples abandonados... molhados como saliva de sémen na clarabóia da insónia

o texto reflecte-se no espelho da agonia

dorme

vomita

sangra das veias suicidadas as ardósias com sabor a chocolate

e baunilha

 

terminas a noite voando sobre a cidade dos anjos

entranhas-te em mim

és minha

como todos os livros que vivem na minha algibeira,,,

imagino-te sentada no Rossio

vendando folhas de cartolina com caracteres inanimados

mortos

imagino-te brincando em Cais do Sodré correndo sobre os carris da paixão

escrevem-me e esqueço-me que deixaste de pertencer aos meus sonhos

que deixaste de fabricar sorrisos nos fósforos das manhãs embaciadas

ruas infinitas à volta de uma fogueira de casas abandonadas

e... odeio-me por existirem dentro do meu peito as palavras das encarnadas flores

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 2 de Outubro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:41

27
Set 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Acredito que o Sol voltará a brilhar nas íngremes encostas mergulhadas nos seios mendigos do rio mais belo do Universo, acredito que a chuva das vindimas transformar-se-á em pequenos balões de hélio sobrevoando as lâmpadas do silêncio como xistos em revolta, acredito que todas as grades em aço que cercam as prisões brevemente acordarão vestidas de botão de rosa, de muitas cores, e em pétalas poeira cintilando nas mãos tuas madrugada

Liberdade?

Liberdade...

Viver como um pássaro e voar como um barco cambaleando sobre as ondas sonoras dos poemas de AL Berto, do cimo da montanha e em pétalas poeira cintilando nas mãos tuas madrugada, ele revestido a prata, ele sorrindo, poisando o desejo sobre a mão dela,

Acredito que as nuvens vão ser de algodão, leves, leves como os círios da Igreja onde me esperas quando eu morrer, e sem lágrimas, e sem demandas... acreditarás que eu vou voar e que mais tarde... mais tarde nos encontraremos junto a uma mangueira, e sobre nós sombras de cacimbo e o latejo dos mabecos felizes por

Acreditares,

No futuro, na liberdade, nas grades em aço que transformar-se-ão em rosas, rosas, rosas com lábios encarnados,

Perfumadas pois então,

Nós

Felizes

E viveremos nas encastradas encostas da chuva em vindimas de pergaminho, ouvem-se os pais beijarem os filhos, vêem-se as mães acreditarem nas alegrias dos filhos, ouvem-se os arbustos despedirem-se do ferrugento barco em suspiros profundos

Fundeando há vinte anos..., afundam-se e gritam

Os outros,

Liberdade, acredito que as flores vão ser de papel, e que dos meus livros, e que dos meus livros acordarão todas as personagens que vivem em mim, estas há mais de vinte anos, e no entanto, não tão ferozes como as outras,

Tudo servia para comer,

O quê?

Tudo, tudo... e até as pedras acreditavam no medo...

O medo?

Em capa dura, do amarelo sobressai o peso de um corpo em ziguezague, sonolento, o título é em oiro futuro, e ele

Embrulhado em plumas de cetim

Acreditava que “O medo” não tinha medo,

Acredito que com a trovoada vêm as sílabas palavras com pele sedosa, e das caricias de uma gaivota, ele

Acredita,

Acredita que o mar é de todos, que o Sol iá nascer para todos

(enquanto hoje, apenas alguns dementes têm o prazer de o ver)

Nunca vi o Sol, não sei como é o Sol...

Mas acredito que existe, que vive, sorri...

(Perfumadas pois então,

Nós

Felizes

E viveremos nas encastradas encostas da chuva em vindimas de pergaminho, ouvem-se os pais beijarem os filhos, vêem-se as mães acreditarem nas alegrias dos filhos, ouvem-se os arbustos despedirem-se do ferrugento barco em suspiros profundos

Fundeando há vinte anos..., afundam-se e gritam

Os outros),

Não sabem que a chuva das vindimas é uma mulher nua abraçada a cachos de uva, em seu redor, um louco grita,

Acreditar,

E eu, que apaixonei-me pela chuva...

Acredito.

 

(Não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 27 de Setembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:59

19
Set 13

foto de: A&M ART and Photos

 

trazias nas mãos uma jangada com olhos castanhos

cansavas-te com o olhar das crianças

e dos pequenos botões de rosa

 

trazias dentro de ti um cubo de faces rosadas

dos pobres lábios ensanguentados pelo bâton uma lâmina de tristeza

absorvia a tua boca enlatada

como uma conserva

esquecida numa qualquer prateleira da despensa

 

sentia-te vociferar debaixo do sombreado fantasma

agarrado a uma pétala fotográfica

e a preto-e-branco

o fotografo vestido com sais de prata

alicerçava os pobres desejos da madrugada

 

(trazias nas mãos uma jangada com olhos castanhos

cansavas-te com o olhar das crianças

e dos pequenos botões de rosa)

 

e sabia-te enlouquecida quando te embrulhavas nas marés de areia

e corrias

e brincavas num corredor longo e estreito e alto

choravas parecendo a chuva desencadeada pelos sorrisos adormecidos

dos tristes minguados sonhos que a infância assassinou

 

trazias nas mãos a jangada da paixão

escrevias nos absolutos números complexos as amêndoas com chocolate

que o vento imaginava

e não sabendo que o cacimbo lhe pertencia...

ela adoptou como filha a doce menina equação diferencial

 

ela é a integral tripla dos seios loucos com voz de rascunho

sente no corpo o aparo da caneta de tinta permanente

acaricia-lhe as coxas como quando se folheia um livros de poesia...

e as palavras saltitam como gotinhas de suor na face alegre da Lua

ela é a integral que transporta na mão a jangada com olhos castanhos

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 19 de Setembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:04

21
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

há um traço descontínuo que nos separa

nuvens que encobrem o teu olhar

abraços dispersos pela madrugada

há um traço descontínuo

um ruído ensurdecedor que acorda com o amanhecer

há um poster de uma mulher nua na paredes da tua insónia

descontínuos

as pernas e a sombra dos triciclos em madeira...

há uma casa dentro de uma estrada

rodeada por um fino traço descontínuo

há chuva

há crianças correndo e saltando as sebes do invisível

há uma menino especial

com dentes em marfim

há uma menino que dizem ser filho do sol

e do cacimbo...

há um traço de ti que é descontínuo...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 21 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:45

17
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

As hormonas fervilham, cobre-se a lua com um fino manto de sémen, há delírios dentro dos calções brancos, tínhamos deixado na atmosfera um leve e intenso cheiro a sonho e a desilusão, ela diz que o dinheiro tudo compra, eu

Não o tenho,

Ela diz que eu

Tu nada podes comprar,

Vende-se, prostitui-se intelectualmente como se tratasse de um livro ainda por escrever, as hormonas

Fervilham,

Transparente como a chuva depois de se masturbar sobre os zinco telhados das sanzalas, a sombra desce da cidade, cobre os ombros da mulher emagrecida, triste, como o tecido depois de molhado, depois

Fervilham,

Diz ela,

Porque para mim, um simples aldeão esquecido no musseque da escuridão, não fervilham hormonas, nunca existiram os calções brancos, nunca... como o sabor da manga depois de dissipado o Cacimbo das margens íngremes do rio, mabecos, girafas, zonzos, todos os bichos da selva, lá fora fumava-se erva e outras raízes, que só

Diz ela

Fervilham as hormonas,

Ai se não fervilham, que só em África existem, que só em África fervilham, e diz ela, que a cidade dorme, extingue-se no silêncio vestido de cansaço, acabam-se as realidades virtuais, e começam verdadeiramente os

(nem uma foto de calções brancos encontro, coloco a mulher onde quando em criança rabisquei todo o seu corpo, tinha... cerca de cinco anos, pobre, sem dinheiro, e ela, ela deixou-o fazer, por caridade, por nada)

Textos infestados por pequenos insectos, os calções, os calções brancos dançam no interior do ânus ao som de Pink Floyd, o escritor lê poemas de AL Berto e alguns textos de Luiz Pacheco, cobre-se a lua com um fino manto de sémen, há delírios dentro dos calções brancos, tínhamos deixado na atmosfera um leve e intenso cheiro a sonho e a desilusão, ela diz que o dinheiro tudo compra, eu

Não o tenho,

Ela diz que eu sou um sonhador perpétuo, difícil de construir, fui feito a partir do barro e dizem elas, lá do velho musseque, que,

Tu nada podes comprar,

Oiço-o dizer (“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de AL Berto) e dos calções brancos, nada, nem barcos, âncoras, fins de tarde no Rossio, nada, nem o pobre cimento que segura as asas do vento, e tu

Diz ela

Nada podes comprar,

Não o tenho,

Ela diz que eu sou um sonhador perpétuo, difícil de construir, fui feito a partir do barro e dizem elas, lá do velho musseque, que, o barro é como o cristal, lindo e belo, só que... muito mais barato, ele diz-me que eu com cinco anos escrevi todo o corpo das películas em desejo que chegavam até mim, bebíamos, e comestíveis cinzentas neblinas junto ao porto camuflavam todos os barcos em regresso, e ficávamos

A ouvir o mar,

E ficávamos...

Simplesmente a ouvi-lo,

(“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de AL Berto)

Fervilham as hormonas dentro dos finos calções brancos, (nem uma foto de calções brancos encontro, coloco a mulher onde quando em criança rabisquei todo o seu corpo, tinha... cerca de cinco anos, pobre, sem dinheiro, e ela, ela deixou-o fazer, por caridade, por nada), e uma nuvem de gelo entra porta adentro da miséria cubata invisível...

Uma placa sobre a porta de entrada,

“Há caracóis”, e vivíamos felizes como serpentes no interior do ânus abraçados à fina réstia em tecido dos calções brancos,

Definitivamente,

Hoje, Hoje há caracóis...

(“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de AL Berto).

 

(não revisto – texto de ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 17 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:52

27
Jul 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Tínhamos Mabecos sobre os joelhos

e uma fina cortina de Cacimbo

balançava sobre o teu cabelo negro

havia espuma

brumas árvores em cio

havia um triste rio

deitado nos teus seios apaixonados pela madrugada

tínhamos pedaços de silêncio nas pálpebras nocturnas do desejo

e sabíamos que era a última nossa noite...

choravam as janelas viradas para o Tejo

e os barcos magoados brincavam na cidade suicidada

que os Mabecos iluminavam com o olhar da solidão...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:55

06
Jul 13

foto: A&M ART and Photos

 

Terei em mim as sobejadas tuas lágrimas?

E as tuas algas, meu amor,

como conseguem elas sobreviver sem as minha mãos...

sem o meu olhar,

terei em mim as algemas flutuantes do silêncio

quando apareces no espelho da noite

e começas a cantar

sorrindo,

 

Sou uma gota de água salgada

que voa nas clarabóias do teu doce cabelo

sou uma gaivota disfarçada de gota de água...

que te ama quando deitas a tua cabeça no meu peito confeccionado com as pobres pétalas

do xisto laminado da paixão,

 

O amor dispara palavras contra os uivos meninos da cidade dos abismos

sentavas-te nos corredores da noite como se fosses uma árvore

uma menina vestida de árvore

como as tuas algas e os teus peixes e a rosa que deixaste no interior de um velho livro...

o amor disfarça-se de madrugada

e assim, nós, os eternos amantes, dormimos parecendo pássaros envenenados pelo cacimbo,

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:26

04
Mai 13

foto: A&M ART and Photos

 

Perdia constantemente, as coisas boas da vida, perdia relógios, perdia calendários, perdido eu, perdia-te sempre como perco as gaivotas de Maio, um barco indefinido, sombrio, no domingo, não estou, fui, como ela, fui e não regressei e não vou regressar

porquê

Perdia-te, e perco, nasci perdido, nasci dentro de um mês explícito, também ele, perdido, perdido, era verão,

em Janeiro, verão

Precisamente, em Janeiro, verão, perdia-te, comei a perder-te já dentro da maternidade, depois, depois no baptismo, e parece que caíram todos os santos quando me viram, e a Igreja da Nossa Senhora da Conceição, toda ela, por mim, em lágrimas,

e por vinte escudos,

Nada,

ninguém?

A terra, o pavimento térreo, pequenas janelas, pedacinhos de luz, entre o branco e o negro, circunferências de corpos, incluindo, o teu, o dela, o dele, de lábios em triângulos, de bocas em cubos, ou... ai as saudades dos hipercubos, das lareiras em flor, da Ajuda subindo a Calçada, descendo cordas de sombra, comendo sandes rápidas depois de voar a tarde sobre a ponte com acesso ao teu púbis de mel, a outra cidade em ti, e de ti, as ruas resumidas a pequenos grupos de palavras, simples palavras, pequenas canções, melodias que eu ouvia quando te sentavas sobre o meu ventre descarnado, sem folhas, suspenso num paralelo de vidro

ninguém e nada, entre nós como Dezembro depois da madrugada,

Escrevia Janeiro e debaixo do Sol tórrido entranhavam-se-me os finos arames que seguravam o tecto das estrelas onde dormia uma tenda, um enorme oleado, por baixo, uma longa estrutura metálica

era o circo

Homens e mulheres e crianças, e palhaços, e cães amestrados, e trapezistas, malabaristas e eu como ninguém, sentado num banco, em madeira apodrecida, contava eu, cada buraco preenchido pelo bicho da madeira, quadrados, círculos de corpos, o teu, o meu, o dela e o dele, os nossos transformavam-se em madeixas coloridas, em pequenas sandálias de couro, entre calções e saias de chita, crianças que inventavam espectáculos, o público emergia, crescia, e depois

fugiam de nós,

Como hoje, ontem, e depois havia a cama de pregos onde o conceituado artista plástico, escritor e poeta, e zé ninguém, eu, ou outro igual, se deitava, adormecia, enquanto

gosto dela, assim, semi-deitada, com as pernas poisadas sobre a terra doirada, gosto dela assim, encurvada, quase nua, quase silenciosa, quase emagrecida nos poucos grãos de areia que o mar deixa nos circunflexos corpos com asas, com barbatanas, como tu, como nós,

E

(era o circo, e perdia constantemente, as coisas boas da vida, perdia relógios, perdia calendários, perdido eu, perdia-te sempre como perco as gaivotas de Maio, um barco indefinido, sombrio, no domingo, não estou, fui, como ela, fui e não regressei e não vou regressar...)

enquanto tu semi-nua, dizias-me com pequenos traços no chão agreste da terra adormecida que os meus olhos mudavam de cor, conforme os dias, as horas, as semanas, em Janeiro, em pelo verão

Verdes,

em Agosto, quando mergulhávamos no cacimbo, pareciam âncoras de cacilheiros esquecidos no Tejo, e no entanto, no meu cadastro

(Cento e setenta e cinco centímetros, branco ou caucasiano, olhos verdes – Verdes? - e foi visto pela última vez na zona do Roque Santeiro, vestia calças de ganga e t-shirt branca com pequenas formas geométricas estampadas no rosto)

verdes, verdes, verdes... como as ervas,

E ele não regressou dos olivais de Outubro, à volta de mim, pedaços de luz em decomposição, e esperava pelo comboio das dezanove horas, abria a porta, espreitava

às voltas, em círculos, como serpentes enfeitadas com veneno imaginário, como tu, imaginavas-me na aula de geometria descritiva, ou em termodinâmica... ou em mecânica dos materiais, e pelos vistos, eu, sem tu o saberes, há muito tinha desaparecido...

O comboio partia, e ninguém tinha poisado o pé sobre a plataforma em cimento sonífero como as plantas do teu Outono, ao contrário do meu, e ninguém a poisar um saco, uma simples mala, nada, e depois de três apitos fortíssimos, ela lá ia, lá ia até encontrar um poiso com olhos verdes, como os teus, como os teus, esses braços... que nunca abracei.

 

(ficção não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:37

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