Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

21
Jan 18

Os poemas morrem na tristeza do teu olhar.

Como sofre o dia nos teus ombros,

Enquanto lá fora, ainda noite, uma jangada de nylon gagueja em frente ao mar,

As lágrimas no teu rosto,

O silêncio das tuas mãos quando afagam o meu rosto…

Distante maré no meu corpo abalroado nas insignificantes janelas de vidro,

Os tentáculos de seda, todas as coisas impossíveis, nas tuas mãos,

Quando regressa a madrugada.

Choras.

Escreves nos meus braços as palavras invisíveis da tempestade,

Os barcos ancorados aos teus dedos…

E sofres.

E morres de mim.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 21 de Janeiro de 2018

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:09

14
Jan 18

Lívido sacrifício das noites indomáveis,

Os livros da despedida esquecidos no espaço,

Viagem sem regresso,

Habito neste pobre musseque,

Que deambula pela madrugada do meu sono,

Os esqueletos teus no vidro meu,

Uma cabeça de xisto suspensa na alvorada,

E as dores que assolam o teu corpo, e as dores que dormem na tua cabeça…

Despedidas madrugadas sem dormir,

Pensando em ti,

Como uma jangada livremente sobre as nuvens…

Tenho em mim o sono da morte,

E o desejo do abismo,

Os cartazes escondidos no meu quarto,

Caras, rostos desfocados, simplesmente abandonados,

E deixo na tua mão o silêncio do rio,

Que entre montanhas,

Corre nas tuas veias…

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 14 de Janeiro de 2018

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:24

03
Dez 17

Tens nas veias a saliva do desejo,

O cansaço disperso, quando a alvorada se despede de ti,

Os Oceanos infinitos entre quatro paredes de vidro,

O sangue das palavras embriagadas pela insónia,

Depois acordam as estrelas,

É dia,

Encostas-te a mim, dormes, sonhas, escreves no meu olhar as palavras proibidas,

É dia,

Pegas na minha mão, levas-me para os jardins longínquos da memória,

Ouvíamos música, líamos os limos da madrugada, na serpente, a maçã envenenada,

E outras coisas mais…

Vivíamos sonhando com livros em xisto, descendo os socalcos da miséria,

O poço da aldeia, a água límpida da manhã,

Que absorve toda a porcaria das tuas veias,

Está frio, ranges os dentes e entrelaças as mãos,

Desprega-se do teu cabelo, finíssimos pingos de geada,

Até que seja noite na nossa cidade,

Recordas-me as árvores no Outono, aos poucos despidas, sombrias…

Porque a noite é vadia, porque a noite traz recordações de outros tempos,

Relógios ensanguentados de saliva, do desejo, que alimentam as tuas veias.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 3 de Dezembro de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:42

04
Nov 17

Não sei o que te diga... A minha vida é um círculo em pequenas rotações, sem esperança, um cubo vazio, grená quando a escuridão invade o meu espaço. Não, não sei o que te diga... Porque as minhas palavras estão nas tuas veias.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:43

22
Out 17

Nas cinzas do meu corpo

Habitam as palavras do fogo sombrio do sofrimento,

A dor semeia-se na terra cansada da minha mão,

Quando o luar adormece, quando uma flecha sangrenta se espeta no meu coração,

Domingo à noite,

Música fúnebre para me alimentar,

Palavras que voam em direcção ao mar…

E te levam, e te levam para o Oceano da tristeza,

E fica a beleza,

Os livros sobre a mesa…

Escrevo-te,

Imploro-te…

Que fiques, aqui, comigo…

À lareira.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 22 de Outubro de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:12

06
Out 17

O vento emagrece os ossos pincelados na Ressonância Magnética, a chuva miudinha alicerça-se-lhe no cabelo prateado do Outono, aos poucos caem as folhas no pavimento térreo das lágrimas invisíveis, aconchega-se contra o espelho suspenso há anos no quarto, e vê a fotografia de um condenado à morte, sofre, chora… e brinca com as pétalas das drageias que lhe envenenam o corpo, os ossos partem-se como veleiros à deriva no Oceano sem nome, sempre só, ele deita-se na cama desengomada e dorme ao sabor da tempestade encarnada, vomita as palavras nocturnas que lhe correm nas veias, e para assassinar o tempo vai até à casa de banho fumar um cigarro,
Escreve “merda” na vida, desenha sombras nas sombras da vida, e tenho medo da partida, o só, o desajeitado das palavras encostado a uma esplanada esperando o engate do final da tarde, lamenta-se,
Lamento-me, não sei o que fazer enquanto os ossos de ontem enfraquecem os ossos de hoje, respira fugazmente, pega nas lâminas da manhã e esconde-se no rio…, lamento-me nos dias em que sou possuído pelo medo, lamento-me quando abro um livro e ela,
Hoje não consigo respirar, as palavras voam como voa o meu cabelo quando os pássaros mergulham na minha mão e adormecem, não consigo, queria dormir, quero dormir, quero brincar no quintal e fazer-te um papagaio em papel, daqueles que eu te fazia,
Lembras-te?
Ficavam sempre pendurados nas mangueiras, entre o Sol e a alegria da juventude, e o vento?
O vento emagrece os ossos pincelados na Ressonância Magnética, e os teus braços abraçam-me na solidão vagabunda do planalto, olho a montanha, olho-me no teu espelho,
E tão velha…, e tão sonâmbula das noites sem dormir.



Francisco Luís Fontinha
06/10/2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:16

30
Set 17

O invisível sono nas pálpebras tua dor, os beijos inventados pelos teus lábios nas gélidas noites de Inverno, o latido de um cão, solitário, na rua das traseiras, os teus lençóis suspensos na madrugada, enquanto nas minhas mãos crescem pedacinhos de esperança, serei capaz de cuidar de ti?

A serpente da dor…

As lágrimas envenenadas do teu sangue, as límpidas madrugadas sem destino camuflada pelo sofrimento, os ossos rangem, o cabelo voa em direcção ao mar, e longos silêncios de pequenos muros de xisto nos separam, o dia, a longínqua noite, a claridade das sombras dispersas no teu corpo,

Serei capaz? As nuvens desencontradas nas frestas do cansaço, as pequeninas sílabas de dor comestíveis nas nocturnas avenidas do sonho, e o maldito sono embriagado saltitando de casa em casa, e tu, e tu aconchegada ao meu ombro, sempre sonâmbula, e embrulhada num cobertor de medo…

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 30 de Setembro de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:12

24
Set 17

Os pássaros, mãe…

Poisados no teu frágil cabelo, vomitando vozes nas tuas mãos enquanto lá fora o Outono se veraneia junto aos Plátanos da saudade,

Os sons melódicos dos teus ossos quando a madrugada não acorda, por preguiça, por nada… ou por tudo,

O sono, o sono que te alimenta e te transforma em esqueleto desempregado, lutando contra a dor, e o sofrimento…

Os pássaros, mãe…

Junto ao rio esperando a tua sombra, e os teus beijos,

Os pássaros desesperados, os pássaros envenenados de químicos complexos alvorando as tuas veias… e nada nem ninguém a brincar na eira,

Os pássaros, mãe…

Descendo os socalcos, dando curvas infinitas num cadeirão estático, morto, uniformemente acelerado, o seno, o co-seno alicerçado aos teus pulsos de verniz… como as serpentes do anoitecer,

Como eu odeio os teus pássaros, mãe…

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24 de Setembro de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:13

26
Ago 17

Dizem que sou o homem invisível,

Sentado numa mesa invisível,

Desenhando na sombra quatro cadeiras invisíveis…

Estou numa esplanada invisível,

Num bar “Mercado” … também ele… invisível,

 

Solto-me das amarras de vento,

Liberto-me das searas perpendiculares ao quadrado da hipotenusa…

Brinco com um velho copo de uísque,

E o invisível homem cresce na praia da areia branca,

Está noite, meu amor,

Tenho nas mãos os três livros invisíveis que me ofereceste pelo Natal…

E sinto que todos os Natais são invisíveis…

 

Tenho saudades do meu pai,

Abraço a minha mãe durante a tempestade, somos fortes, e vamos resistir a este caos invisível…

 

Sabes, meu amor…

 

Nunca poderás beijar este homem invisível,

 

Filho das cavernas,

Homem dos barcos de papel navegando no Oceanos invisível da madrugada risível,

Agacho-me, sento-me no teu colo, meu amor, e tenho medo dos furacões com olhos de serpente, e tenho medo de perder-te neste bar invisível.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 26 de Agosto de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:08

27
Mai 16

Imagino-te arrastando os suspensórios do cansaço,

O cigarro suspenso na boca,

E nas mãos as minhas mãos,

Trémulas como a tempestade…

Apareces,

Desapareces,

E ausentas-te durante o sono,

Entras nos meus sonhos,

Escreves no meu corpo com a caneta da saudade,

O rebelde menino,

Sentado à janela a olhar o mar…

Sinto-te dentro de mim,

 

Alimentas-te do meu sofrimento,

E pertences às flores do meu jardim,

Imagino-te arrastando os suspensórios do cansaço…

Enquanto lá fora alguém chora a tua partida,

Apátrida memória que se alicerça aos meus braços,

E tens no olhar um triciclo, um velho triciclo moribundo,

Doente,

Sem nome…

 

Imagino-te, meu amor,

Deambulando pela casa embriagada de dor,

Os cinzeiros cessam o sorriso dos teus lábios,

Há no teu corpo uma barcaça desnorteada,

E que se afunda no meu Oceano…

Fico com medo de perder-te…

E perdi-te sem o saber…

Foste, foste sem dizer Adeus,

E nem coragem tiveste de escrever-me…

Abraçar-me,

Dizer-me que partias e um dia aparecias no meu peito,

Como se fosses uma gaivota junto ao Tejo.

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 27 de Maio de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:25

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