Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

28
Set 14

Se eu voasse

não atravessava o Oceano para em ti poisar...

 

se eu voasse

não me levantava deste banco de silêncio

com mãos de pérola adormecida

não gritava

não... não chorava

porque as palavras são searas de insónia sobre um papel queimado,

 

um punhado de trigo

voando

sonhando...

na planície dos corpos embalsamados,

 

se eu voasse

não atravessava o Oceano para em ti poisar...

 

não escrevia

não lia...

não

não acreditava no amanhecer amar!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 28 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:41

22
Set 14

Este pano azul cansado

deitado sobre o teu corpo

acariciando a tua pele de luar

que a madrugada fez esconder

este pano... que o piano amar acorrenta

este sofrer...

a saudade do mar

entranhada nos meus lábios,

 

Este pano azul...

que o silêncio consegue desenhar no teu sorriso

o morrer

sabendo que todas as flores deixaram de brincar

a tua mão vazia

como o rio que desce a montanha

a tua mão entrelaçada nas sombras da paixão

que o pano azul escreveu numa noite de loucura...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 22 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:21

15
Set 14

Tão longe, esses olhos escondidos no silêncio da minha mão,

tão perto, a tua fotografia a preto e branco suspensa no estendal da solidão,

sentado, escuto, e olho, e sonho...

sentado felicitam-se pela minha ausência,

torno-me invisível, I N V I S Í V E L...

e... e tão pequenino... que nem uma qualquer página de jornal me consegue encontrar,

dizem, quando passam por mim, que enlouqueci,

escrevem nas paredes do meu corpo...

“AUSENTE”,

e um ausentado não sofre,

não chora, não sente,

e... e não quer ser amado,

repito,

sou um simples AUSENTADO,

tenho asas,

tenho ventos nas minhas pálpebras de diamante,

e... e repito,

não,

não quero ser encontrado,

tão longe, esses olhos...

desejam-me como um esqueleto formatado,

e há quem pense que eu sou uma antiga disquete...

não, não o sou,

impossível... impossível formatarem-me,

tão perto, a tua fotografia a preto e branco...

e já me apelidaram de banco de jardim,

de árvore,

gaivota,

apelidem-me de tudo o que quiserem,,,

mas prefiro ser um AUSENTADO,

do que estar presente e pertencer ao amanhecer dos formatados,

porque não um falhado?

um falhado de fato e gravata,

de jornal com três dias de atraso debaixo do sovaco,

agacho-me,

e com o lenço de linho dou graxa aos sapatos...

Ai... anda por aí tanto engraxador,

que me farto,

que me cansa,

que... que não encontro explicação para pertencer ao amanhecer dos formatados,

antes um AUSENTADO...

mesmo sendo um AUSENTADO falhado...

do que um engraxador diplomado,

um... um engraxador fornicado...!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 15 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:24

22
Jul 14

Não te mexas,

deixa poisar o Cometa Amar na Sombra do teu olhar,

não grites,

mantém-te imóvel nos lábios do entardecer,

não fales, não... não grites,

geme no salivar nocturno que acolhe o luar,

não te mexas, por favor!

Silencia-me como se eu fosse apenas e só o teu livrinho de cabeceira,

a tua almofada recheada com seios de verniz...

o espelho do teu quarto, onde dormes, sonhas... e... e brincas...

como uma menina mimada,

escondida na madrugada,

 

Não te mexas,

fala-me, ouves-me?

Não te mexas,

acaricia o cansaço dos meus abraços com o teu cabelo de cetim,

não grites,

por favor... não sejas assim...

 

Assim, como?

Assim... menina mimada,

menina com sabor a Musseque,

menina... menina bronzeada,

 

Não,

não te mexas,

escreve no meu peito de xisto tudo aquilo que te apetece fazer,

sei lá eu...

também não o sei, meu Amor, mas não te esqueças de nada,

escreve tudo, escreve...

mas... mas não te mexas,

escreve em mim, desenha em mim,

o mar,

o pôr-do-sol, ou... ou a saudade,

o poema mais belos da montanha do desejo,

escreve, não te mexas, escreve... escreve beijo,

 

(Assim, como?

Assim... menina mimada,

menina com sabor a Musseque,

menina... menina bronzeada).

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 22 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:24

13
Jul 14

Que faço a estas páginas sem nome,

que digo às palavras escritas nestas páginas sem nome...!

 

Triste, a mão que se recusa a escrever,

a mão trémula que inventa cigarros de arder...

que faço a estas páginas de escrever,

anónimas, desorganizadas... páginas mortas, páginas amarguradas,

triste, a mão que acaricia o rosto da madrugada,

e não se cansa de amar,

 

Que faço... ao cabelo sem vento!

 

Sem nome, prontas a escrever,

que faço eu mergulhado no teu corpo de neblina...

triste, a mão que não se cansa de sombrear o amanhecer,

 

Que faço, eu!

 

Que faço eu nesta tela envergonhada,

onde moram os teus seios de menina...

que triste..., que triste as páginas deste livro quase a morrer,

que faço eu, às palavras não escritas,

aos beijos desenhados na mesa-de-cabeceira,

sem saber o que fazer...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 13 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:02

10
Jul 14

Não alimentes a minha fome,

porque eu não quero comer,

não, não grites o meu nome...

… porque sem a tua mão sou capaz de viver,

 

Escrever,

e... e sonhar,

 

Não alimentes a minha fome,

não cerres toas as janelas do meu olhar,

não me peças para chorar,

não, não sei chorar...

 

(escrever,

e... e sonhar),

 

Não alimentes a minha fome,

não quero os teus lábios de ciclone,

vagueando no meu peito, sobrevoando os meus cabelos tristes,

não,

porque insistes?

que eu seja o que nunca quis ser,

não,

não quero comer,

não,

não quero correr...

apenas quero ser o mar,

com lençóis de amanhecer,

 

(escrever,

e... e sonhar),

 

Não, não me obrigues a voar!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 10 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:24

22
Mai 14

foto de: A&M ART and Photos

 

sou uma triste borboleta

cansada de voar

um rio que deixou de correr para o mar

o barco

uma pedra a chorar

sou uma triste borboleta

com olhos de insónia

com asas de papel

com mãos de amónia

uma triste borboleta

eu sou

como as madrugadas de mel...

 

sou uma triste borboleta

em busca do Inverno

e desce a noite aos teus cabelos

e acorda o maldito Inferno

e deixo de viver

e deixo de habitar

os teus olhos sem palavras de escrever

sem as palavras de sofrer...

uma triste borboleta

cansada de voar

cansada de amar...

nas manhãs da manhã ensonada.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 22 de Maio de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:41

11
Mai 14

O corpo é de espuma verde,

cintilam nela as cerejas de papel,

o corpo incendeia-se quando cresce a noite nas mãos do desejo,

e ouve-se o beijo,

deambulando nas orgias marés de Inverno,

o corpo em chamas, o corpo Inferno,

como lábios de mel...

a cidade desamarra-se do cais da liberdade,

 

O corpo é de espuma verde,

erva daninha nas encostas da montanha sem amanhecer,

o corpo brinca na lareira inventada dos olhos em verniz envelhecer,

o corpo ginga como uma moeda a morrer,

sei que vês os Oceanos marginais que a cidade embarca,

o corpo diminui, o corpo procura a sílaba tonta com perfume de naftalina, e há uma arca,

e há uma sombra, apenas com uma palavra e que não quero escrever...

o corpo é uma bala com nome de cidade,

 

A cidade a arder.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 11 de Maio de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:32

09
Jan 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Desejar o sol é muito

porque nada desejei

escrever é estar vivo... amar quem nunca amei

e nunca quis acreditar nas esplanadas em vidro

desejar a lua é tão pouco pouco

para quem quer ser as frestas de solidão que embrulham o teu desnudo corpo

as flores

os cansaços emagrecidos do plasma adormecido,

 

Desejar é pouco ou quase nada

desejar o silêncio que embainham os teus lábios... desejei-o e cansei-me de esperar

que abrissem as janelas do doce colarinho de espuma que o mar deixa sobre os lençóis de seda...

desejar é tudo

desejar... desejar que arrefeça a tua mão

que cresça o tua paixão com asas em papel... desejar o sol

e ter a lua

desejar a lua

e ter apenas a sombra da montanha... sem o sol vomitando asneiras em palavras envenenadas

desejar-te como o és... uma rosa nua

de veludo

uma rosa apaixonada dos jardins suspensos que habitam a madrugada,

 

Sem fronteiras de cetim

deitada a meus pés...

desejar o sol é muito

porque nada desejei

escrever é estar vivo... amar quem nunca amei

e nunca quis acreditar nas esplanadas em vidro

desejar a lua

é pouco... tão pouco... tão pouco... que deixei de acreditar que estou vivo...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 9 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:10

10
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

As pedras rasuradas que alimentam os teus olhos

às lágrimas choradas

como ribeiras em declínio tombando sobre a calçada

vêm as árvores à tua dócil mão de chocolate adormecido

vens tu procurar-me no interior da fértil maré que a solidão semeia nos teus seios...

sou filho pródigo do teu ventre

sou as palavras que escreves nas pálpebras da inocência

as pedras

rasuradas...

onde deitas o teu cabelo em pedacinhos amanhecer

sombras e telhados olham um líquido escorrer...

das folhas enlameadas dos velhos saberes,

 

Choram as tuas pedras rasuradas

um livro recusado à mão escrever

escorrem de ti as uvas embriagadas...

em videiras tuas lágrimas choradas

as pedras

e o feitiço dos lábios suspensos na tua boca

as pedras

loucas quando adormeces sobre mim antes de nascer o sol,

 

Loucas quando... nascer o sol

as tuas pedras amarguradas

as tuas doces pedras rasuradas

que a chuva engole nas tardes de neblina...

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 10 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:16

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