Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

12
Mai 18

Gostava que as tuas mãos fossem palavras,

Sonhos encantados nas páginas de um livro embriagado,

Gostava que as tuas mãos fossem fósseis,

Pedaços de ossos,

Adormecidos no lençol da madrugada.

 

Gostava que as tuas mãos fossem um sorriso,

Um rio envergonhado correndo para o mar,

Gostava que as tuas mãos tivessem nos dedos pequenos dardos de sangue…

Quando acorda a lua.

 

Gostava que as tuas mãos fossem papéis,

Pedacinhos de jornal,

 

Entre parêntesis,

 

Em cada final de tarde.

 

Gostava que as tuas mãos fossem um carrossel,

Com crianças de sombra,

Gostava que as tuas mãos fossem um poema,

Cantado pelo silêncio,

Nos lábios de uma pomba.

 

Gostava que as tuas mãos fossem a Primavera,

Flores,

Jarras envenenadas por flores…

Das flores desencontradas.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12 de Maio de 2018

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:55

17
Nov 15

Tudo ou nada

Nada de tudo

Tudo de mim

Desde a árvore indefesa que me protege

E habita o meu jardim

Até ao rochedo invisível que caminha comigo

Quando cresce a noite

E adormece o dia nos teus olhos

Tudo ou nada

E nada tenho

De mim

Nada de tudo

Assim, como as flores que choram junto à minha lápide

E nunca perceberam o significado da palavra “chorar”

Tudo

Avassalador

Triste

Tudo consumido na fogueira da paixão

De nada ter

E de tudo perder

Tudo ou nada

Nada de tudo

Assim

De mim

Sem o saber.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 17 de Novembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:28

08
Ago 15

desenho_08_08_2015_2.png

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

Canso-me dos teus olhos

Quando a fotografia se suicida na madrugada indolor,

Não tenho medo da noite,

Da morte…

Mas canso-me dos teus olhos

Semeados numa seara de vento,

Sem nome,

Sem gente,

Há na tua mão uma triste flor,

Com pétalas descalças,

E nos lábios…

Transportam dor,

 

Ai meu amor…

Os rochedos da insónia alicerçados aos cortinados do sofrimento!

 

Canso-me,

Dos teus olhos impregnados nas minhas palavras,

São tão tristes… os teus beijos

Dançando na barcaça do “Adeus”,

São tão tristes os teus desejos,

E os desenhos esquecidos no teu corpo… em movimento,

 

(Ai meu amor…

Os rochedos da insónia alicerçados aos cortinados do sofrimento!)

 

Se há noite… meu amor…

Que me leve…

E me faça adormecer,

Para sempre,

Como os teus olhos…

Que me cansam… e cansam…

 

E me fazem chorar

Quando me olho no espelho da manhã…

Sabes, meu amor!

 

(Ai meu amor…

Os rochedos da insónia alicerçados aos cortinados do sofrimento!)

 

O silêncio é uma faca cravada no meu peito.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 8 de Agosto de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:11

28
Mar 15

Não entendo os teus cabelos em cerâmica doirada

Como as andorinhas desnorteadas

Entre árvores

Entre filamentos de saudade

Sobre a cidade

Dos sonhos

Acordar

O espelho da vida

Em liberdade condicional

Espera

Caminha

A pedra ensanguentada

Das ruelas em flor

O ruído ensurdecedor dos morangos

E das plásticas cabeças de alfinete

O fato prisioneiro no guarda-fatos

O meu esqueleto

Dentro do fato

Os sapatos

As meias

E todo o resto

Em chamas junto ao rio

Não entendo o perfume dos teus lábios

O sorriso que se alicerça em ti

E me sufoca

Quando acorda a noite

E a noite me transporta

Para a carta sem remetente

Oiço-te

E não percebo porque brilham os teus cabelos

Dentro do cubo de gelo

Da paixão

Em aventuras

Entre árvores

Entre filamentos de saudade

Saudade…

Dos sítios obscuros com pulseiras de vidro

Cacos

Sílabas

Na seara do cansaço

Atrevo-me a olhar a lua

E não querendo ofender ninguém…

A lua suicida-me contra os pigmentos do prazer

Não sei

Como poderia eu saber

Se as candeias se extinguiram nas marés de prata

Os sonhos

Os sonhos acorrentados ao silêncio

O medo de amar

Não amando

E comer

Todas as pétalas da rosa embalsamada

Tão triste

Eu

Neste cubículo de lata

Sem janelas

Sem… sem nada

Como uma simples folha de papel

Desesperada

Sobre a secretária

Eu mato-a com a caneta

Escrevo palavras

Palavras

Que só o mar consegue entender

E… escrever

Nos meus braços

Dentro de mim há buracos negros

E as equações da relatividade

Sós

Entranhando-se no camafeu alicerce do sofrimento

Como eu sabia

Antes de a madrugada bater-me à porta

Olá bom dia

Meu amor…

Hoje não

Volte para a semana

Não

Não quero comprar nada

Hoje

Porque sinto a solidão

Nos arrozais

E nos pássaros

Que os homens constroem

Enquanto o poeta morre…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 28 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:51

16
Jan 15

Pintura_62_A1_Nova.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Que faço a estas flores...

se tu, se tu já não existes,

voaste em direcção ao Tejo,

suicidaste-te na Calçada da Ajuda,

sem ajuda nenhuma,

sem perceberes que habita na noite o amor,

a literatura, a poesia,

e a pintura...

que faço, meu amor,

a estas flores de névoa, a estes silêncios sem horário,

que faço a estas flores...

diz-me...

diz-me por favor,

e a pintura,

se tu, se tu já não existes,

e agora, e agora és uma flor sem leitura...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 15 de Janeiro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:02

07
Jan 15

habitas no jardim descolorido da paixão

gritas às lágrimas envergonhadas de um pequeno sorriso

palavras

entrelaçadas

nas sombras clandestinas dos plátanos caducos

miosótis

minha flor

meu poema... minha canção de amor!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 7 de Janeiro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:01

12
Set 14

Encurvado,

o maligno cansaço entre as montanhas da dor,

lá longe o rio embalsamado procurando o luar,

desce a nuvem do sofrimento sobre a madrugada,

há lápis de cor embrulhados em pergaminhos transparentes...

começa a noite,

e encurvado... o apeadeiro da solidão,

só,

enlatado numa caixa de sapatos,

o mórbido alimento dos pássaros sem asas,

há tristeza nos teus olhos,

só,

há lâminas de silêncio onde habitam lágrimas de néon,

a cidade perde-se na algibeira nocturna das amendoeiras em flor,

e só...

vejo o apeadeiro da solidão desfalecer junto à ponte.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 12 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:46

02
Ago 14

Olhaste os vinhedos da saudade,

percebeste que dentro deles, eu, eu deambulava como um sorriso de vento,

chamaste aos meus olhos, olhos de desgovernar,

e às minhas pálpebras, e às minhas pálpebras apelidaste-as de cansaços do mar,

não tinha mãos para te acariciar,

não tinha braços... não tinha braços para te abraçar...

nem cores para te pintar,

olhaste os vinhedos da saudade, e percebeste que eu era um rio sem nome,

 

Uma cidade sem coração,

uma tempestade,

 

Olhaste os vinhedos da saudade,

escreveste na ardósia da tarde os versos de amar,

percebeste que dentro deles, eu, eu habitava como uma flor carnívora,

que te absorvia entre os horários nocturnos do desejo,

sem lábios para te beijar...

uma cidade sem coração,

uma tempestade,

um homem vivendo no corrimão com vontade de caminhar...

 

Uma cidade sem coração,

uma tempestade,

olhaste os vinhedos da saudade,

e percebeste que o amor são socalcos olhando um rio,

o mesmo rio sem nome,

que um dia decidiste que eu seria até morrer...

um rio encurvado entre os seios das montanhas madrugadas,

um rio..., um rio apressado no corpo de uma enxada.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 2 de Agosto de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:35

25
Jul 14

Quando o tambor do desassossego entoa no coração da sanzala,

há uma palavra reescrita na pele húmida do amanhecer...

leio... leio SAUDADE...

 

Sento-me junto ao pequeno charco acabado de nascer,

puxo de um cigarro,

e finjo ver o mar a regressar da sombra das mangueiras,

as pequeníssimas películas de cacimbo alicerçam-se aos meus dedos,

ao longe, mulheres... e fogueiras,

e missangas de medos,

saltitando nos braços cansados de um esqueleto de papel,

oiço o bater fulgurante do zinco conta a solidão de um menino chorando,

 

Um dia a guerra o levará,

sua mãe morta rezará no altar da areia branca do faroleiro de pedra,

os meus dedos minguam quando um cadáver de insónia poisa no meu cigarro...

e espero... e não regressa o mar,

desce um corpo de prata dos coqueiros envelhecidos,

há uma palavra reescrita na pele húmida do amanhecer...

leio... leio SAUDADE...

e adormeço sem me apetecer,

 

Em criança brincava com silêncios e um velho triciclo em madeira,

acreditava nas flores,

acreditava que um dia..., que um dia voava como os pássaros,

envelheci, e o meu cigarro terminou quando um paquete de rebuçados atracou em mim,

transeuntes com pesadíssimos caixotes em madeira,

choravam...

e círculos de espuma saltavam à corda no cais dos caixotes em madeira...

perdi-me, e hoje... e hoje sento-me junto ao pequeno charco acabado de nascer,

 

O mar não regressará nunca,

 

E,

 

Quando o tambor do desassossego entoa no coração da sanzala,

há uma palavra reescrita na pele húmida do amanhecer...

leio... leio SAUDADE...

 

E leio sofrer!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 25 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:37

17
Jul 14

Não me perguntes onde vivem as cidades com coração de pedra,

porque a noite é escura, porque a noite é bela, e sombreada...

não me perguntes de quantos desejos estou à espera,

porque não espero desejos,

porque não existem desejos nas cidades com coração de pedra,

 

Não me perguntes a cor do meu olhar,

não,

sim, sim... eu tenho olhar,

mas... mas não desconheço as cores,

mas... nunca vi o mar, o amor, e as flores,

 

Não me perguntes...

porque há em mim uma lâmina em betão armado,

triste,

triste e cansado,

não,

não me perguntes pelas árvores do meu quintal,

não, e nunca... e nunca tive um quintal,

e nunca, até ver... fui... fui degolado,

posso ser parvo,

e louco,

mas... mas não conheço as cores,

mas... mãos não sei o significado de “amores”,

 

Tudo para mim é pouco,

e perguntarem-me pela madrugada é como se me tirassem os livros, e o luar,

e a insónia, e todos os sonhos de criança...

 

Não me perguntes onde vivem as cidades com coração de pedra,

não me digas que amanhã os beijos são de papel,

não, não o suportaria...

que um dia,

que um dia me perguntasses como são os meus lábios enquanto dormem...!

 

Porque,

Porque os meus lábios nunca, nunca, porque os meus lábios nunca dormem.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 17 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:41

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