Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

15
Mai 20

Sem ti, sou um pequeno ponto de luz nos braços da solidão.

Uma simples folha em papel,

Sem ti, sou um pedaço de terra, calcada pela desilusão,

Uma labareda de nada, entre sorrisos e abraços.

Sem ti, sou a cidade em combustão,

Crianças que guerreiam por um pedaço de chão.

Sem ti, os peixes cintilam dentro do aquário,

No leito cansado do pensamento.

Sem ti, sou um pequeno achado,

Palavra emagrecida, esplanada só, sem ninguém,

Sem ti,

Sou,

Aquele abraço aborrecido,

Dormindo na tarde.

Dormindo na esperança,

De um dia, sem ti,

Escrever nos teus lábios.

Sem ti, sou a personagem secreta da noite,

Sou lua enganada,

Sou luar das plantas inanimadas,

Sem ti, sou o jardim junto à calçada.

Sem ti, não sou nada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 15/05/2020

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:51

14
Mai 20

Não tenho pressa de regressar às tuas mãos.

Enquanto dormir nos teus lábios,

Os meus braços alicerçam-se à tua boca,

Escrevem,

Correm,

Nos poemas de viver.

Não tenho tempo de regressar ao teu corpo,

Em chocolate puro,

Doce,

Como a amêndoa amanhecer.

Não tenho pressa de escrever no teu cabelo,

Os poemas de esconder,

Os versos partidos e fatiados,

Ao pequeno-almoço.

Não tenho pressa de caminhar,

Em direção ao mar,

Porque o rio está longe,

Das fotografias de beijar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 14/05/2020

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:35

08
Mai 20

És as asas dos meus sonhos.

Os lábios pincelados da minha janela,

És a canção do meu sorriso,

Poema sem jeito, barco, barcaça, caravela,

És o silêncio da minha cidade,

Palavras semeadas na minha aldeia,

És o Sol sem juízo,

Nas noites de Primavera.

És a voz trémula dos sinos em descanso,

O mar calcetado pela esperança,

És o Rossio em demanda,

Passeando na calçada,

És gaivota,

Madrugada.

És a fala amestrada

Das noites choradas,

Beijo na despedida,

És o corpo ausente

Das varandas envenenadas

Pelas abelhas do nada.

Pelas abelhas da Ira.

És o oiro,

Verso em construção,

És o mar salgada da insónia,

Quando absorve o teu corpo na alvorada.

És rochedo,

Medo,

Palavra brava…

És a janela,

A porta,

Da cidade sem nome,

Que privilegia as flores do cansaço.

És rio,

Riacho,

És o calendário da insónia,

Nome,

Morada,

Das ruas em ebulição.

És o vento em aflição,

Bandeja de esplanada,

És tudo.

Não és nada.

És beijo e desejada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 08/05/2020

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:15

28
Abr 20

Sabes, meu amor,

As fechaduras do cansaço dormem nas tuas mãos,

Os pássaros, as abelhas, escrevem nos teus lábios de amêndoa o pólen da paixão,

E, as ribeiras, são canções de solidão,

Palavras envenenadas pelo vento,

A praia onde poisas o teu perfume.

Sabes, meu amor,

Os triângulos da saudade, a trigonometria da saudade,

O perfeito cansaço da manhã,

Quando nos teus braços me deito,

E, durmo docemente como um poema.

A noite veste-se de negrito acrílico,

Desenho-te, nua,

E, acredito que as montanhas têm paciência para me ouvirem.

Oiço as areias finas do Mussulo,

Os barcos e as caravelas,

Deitados na praia da infância,

A morte, regressa sem nome, idade ou sexo…

Sou assim, porque te amo,

Dentro destes livros calcinados pela ânsia de partir…

Chegar,

Ou sorrir.es, meu amor,

Sabes, meu amor,

As flores do nosso jardim, aquelas que plantamos na Primavera, cresceram, já falam e, gritam por ti; a fuga da serpente quando morre um triste cágado de suplante sargaço.

Sabes, meu amor,

A tristeza de te amar em silêncio,

Quando lá fora, tudo dorme,

E, não posso mais gritar; amo-te.

Ai… como são lindas as tulipas do teu cabelo,

Ai… como são lindos os abraços do teu sorriso…

E, no entanto, a noite cai sobre nós,

E, uma cama de sono nos espera.

As fechaduras são eternas.

 

 

Francisco Luís Fontinha

28/04/2020

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:52

31
Mar 20

89233816_318373012454136_6579632371232931840_n.jpg

Os livros dançam na paixão da manhã,

Envidraçada tempestade de areia,

O menino, sorri,

Canta canções de areia,

Grita,

Chateia.

O menino no circo,

De livro na mão,

Escreve um sorriso,

No chão,

Brinca, brinca com o livro de areia,

Não grita,

Agora,

Mas chateia.

O menino dos calções,

Correndo junto ao rio,

Em cio,

Em cio como as lâmpadas de néon.

Vende livros à porta da igreja,

Arrecada uns tostões,

Vai para o mar,

De bandeira na mão,

Deita-se na areia,

Já não chateia,

O menino dos livros,

Enquanto as gaivotas cantam,

E também elas gritam,

Canções de areia.

O menino está calmo,

Sereno com a tempestade,

Brinca, brinca na saudade,

Sem perceber,

Que nos livros,

Onde quer escrever,

Já não sonham;

Apenas brincam em canções de areia…

Nas canções de sofrer.

 

 

Francisco Luís Fontinha

31/03/2020

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:18

29
Mar 20

90028111_1586626108157212_5013121132522373120_o.jp

 

90185457_3467861076564667_2273212952960040960_o.jp

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:51

28
Mar 20

O tempo que passa,

Desassossega o desespero,

Finto a vaidade,

Perco o emprego,

Vagueio na distância,

Ilumino-me,

E, perco-me no cansaço dia.

Tenho pena,

Daqueles que por lá passaram,

E, desavergonhadamente,

Lá continuam,

Esperando as pedras que caiem do silêncio,

Aos poucos,

Em cio,

Os pássaros loucos,

No desvaneio da solidão.

O tempo passa,

A fome aperta,

Neste desespero acontecimento,

Dos novos marinheiros,

Entre sexos e chapas de zinco,

O rio, comem-me,

Quando a maré se abraça ao cansaço.

Todas as vezes, algumas, o tempo passa,

O mar envaidece-se de sonolências madrugadas,

Calcárias manhãs de Primavera,

Ao deitar,

Sobre o travesseiro da insónia,

Esqueço-me de acordar,

Tomo café, todos os dias,

E, vejo no jornal, a minha foto,

Necrologia,

Perdidos e achados,

Despeço-me,

Até logo,

Abraços.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

28/03/2020

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:26

21
Mar 20

Conheci a puta de uma laranja assassina.

O gesto de coçar os testículos,

Quando o Rossio entre orgasmos e gemidos,

Traz o cansaço,

Os berros,

E, os cubículos.

O restaurante, encerrado.

As putas em delírio,

Sem clientes,

Passam fome,

Deveras,

Quando a aldeia acorda.

E eu, aqui sentado,

Fumando cigarros de haxixe, toco clarinete,

Bombo,

Punhetas a grilos,

E, afins.

Se te podes revoltar, revolta-te,

Come tremoços,

Mija contra os postes de electricidade,

Vem-te,

Vai-te,

E fode-te,

Ao pequeno almoço.

As laranjas assassinas,

Na marmita do tesão,

O foda-se,

Então?

Ai Senhor,

As putas em delírio,

O cansaço delas,

Nas mãos calejadas do centro de massa…

A equação do caralho,

Lacrimejado,

Entre paredes,

E dias de desassossego.

Por isso não esqueço,

A maldade,

O sumo da laranja,

Quando assassina o sexo.

Morre o tesão;

Fodam, fodam, que agora é de graça,

E não digam a ninguém,

Contra os rochedos,

Marchar, marchar…

E, depois,

Não se esqueçam de encerrar a janela,

A fechadura,

Porque às vezes, parece,

Mas não o é,

Sempre, às escuras.

Faltou a luz,

Esqueci-me de pagar a electricidade,

Foda-se,

Vou mijar contra o poste,

E se não gostarem,

Acabou.

Fim.

Fodi-me.

Fui assassinado por uma laranja.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

21/03/2020

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:00

11
Mar 20

O tempo silencia os teus lábios de cereja adormecida,

Quando a nuvem da manhã,

Poisa docemente no teu sorriso;

Há palavras na tua boca,

Que absorvo com saudade,

E, nada me diz, que amanhã será uma manhã enfurecida pela tempestade.

Subo à sombra do teu olhar,

E, meu amor,

O cansaço da solidão deixou de acordar todas as manhãs.

Fumamos cigarros à janela,

Dentro de nós um volante de desejo,

Virado para a clarabóia entre muitas janelas,

Portas de entrada,

Escadas de acesso ao céu,

E, no entanto, o fumo alimenta-nos a saudade,

Porque lá longe,

Um barco de sofrimento, ruma em direcção ao mar.

É tarde,

A noite desce,

O holofote do silêncio, quase imparável, minúsculo, visto lá de cima,

Ruas, caminhos sem transeuntes, mendigos apressados,

Vagueando na memória.

STOP. O encarnado semáforo, cansado dos automóveis em fúria,

Correm apressadamente para Leste,

Nós, caminhamos para Oeste,

E, nunca percebemos as palavras que as gaivotas pronunciam,

Em voz baixa,

Com os filhos ao colo,

Sabes, meu amor?

Não.

Amanhã há palavras com mel para o almoço,

Dieta para o jantar,

E beijos ao pequeno-almoço;

Gostas?

Das nuvens da manhã?

Ou… dos pilares de areia que assombram a clarabóia?

Nunca percebi o silêncio quando passeia de mão dada com a ternura,

De uma tarde junto ao rio,

Ele, folheia um livro,

Ela, tira retractos aos pássaros,

E, porque te amo,

Também vagueio,

Junto ao rio,

Sem perceber o meu nome,

Que a noite me apelidou,

Depois do jantar,

Numa esplanada de gelo.

O ácido come-me, a mim, às palavras, como a Primavera,

Num pequeno quarto de hote,

Entre vidros,

Livros,

Palavras,

E, desenhos.

(aos depois)

Nada.

Brutal.

Os comprimidos ao pequeno-almoço.

Fim.

Amanhã, novo dia, nova morada, beijos,

Cansaços,

Abraços,

E, portas de entrada.

O amor é luz.

O amor são flores, árvores e, pássaros.

E pássaros disfarçados de beijos.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

11/03/2020

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:47

01
Mar 20

88302205_3425467300804045_8894945096139538432_n.jp

Brevemente

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:06

Agosto 2020
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
12
13
14
15

16
17
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30
31


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO