Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

02
Dez 14

Não saboreies as minhas tristes palavras de zarcão

que a manhã come enquanto dormes e finges sonhar

não permitas que entre o mar dentro de ti

e se alicerce aos teus desejos

não tenhas medo dos cortinados cinzentos

que a madrugada esconde nas pálpebras do vento

como quem morre

em sofrimento...

 

Não saboreies os meus lábios encaixotados

como pedaços de cacos e miudezas...

que galgaram o Oceano em direcção ao teu coração

não digas que a noite é uma mistura gasosa de iões e positrões...

 

Não

não saboreies os meus tentáculos de espuma

como se eu fosse uma cidade voando na preia-mar

não confundas o amor com a amizade

não

não confundas as palavras tontas com as palavras embriagadas

pelo cansaço

ou... ou pelo Inverno em desassossego,

 

Não saboreies as minhas tristes palavras de zarcão,

 

Inventa amanheceres de cartão

gaivotas de porcelana...

mas... não

não saboreies as milhas tristes palavras de zarcão.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 2 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:32

29
Nov 14

A astronomia loucura do profeta

as paredes encarceradas do guerreiro desconhecido

à força e pela força

o cansaço espaço de luz nos confins rochedos da melancolia

a astronomia

embriagada pelos momentos sem pressa

numa carta de despedida

sem palavras

ou... ou remetente

uma aventura na escuridão da cama do sonambulismo

os cigarros absorvidos pela morte do fumo colorido...

e um caixão de espuma poisado nos alicerces da canção de revolta

 

cessem este destino

e o silêncio

da atmosfera encarnada em comestíveis soluços de desejo

a astronomia loucura do profeta

sentado em frente ao espelho da agonia

sem sentido

sem... sem melodia

antes de acordar o dia

 

o vento sofrido

o corpo mordido pelos meus dedos

o odor embalsamado do prazer

em finíssimos gemidos

e uivos...

e no entanto

não existem ruas na minha mão

casas

flores

nada

apenas... um rio adormecido numa fotografia

e um Domingo desorganizado e despido...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 29 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:17

06
Out 14

O vampiro ensanguentado

é filho de um quadrado,

à noite, coitado, adormece empoleirado no cansaço,

e pela madrugada, acorda vestido de roseira,

nunca conheceu a mãe,

apenas existe uma fotografia pendurada no espelho do amanhecer,

e ao longe, e ao longe uma fogueira...

e no centro da fogueira... palavras que ele recusa ler,

é destemido, e é solitário,

o vampiro ensanguentado desiste de observar os plátanos

e os anzóis de papel, senta-se junto ao rio...

e sonha com os barcos de vidro,

 

apanha com a mão os pedacinhos mais frágeis do vento,

sorri, sorri porque acredita no luar,

o vampiro... ensanguentado...

é filho de um quadrado,

e detesta as tempestades de amar,

 

não sei, não sei se ele vai ler estas palavras...

 

terá de apagar a fogueira,

ir ao seu centro...

e das cinzas,

ressuscitar os corações de sofrimento.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 6 de Outubro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:27

23
Ago 14

Procurava nas penteadas espigas de milho,

o sabor amargo de amar,

deitava-me sobre o chão frio do granito ensanguentado da eira,

pincelava o luar de madrugada,

e procurava...

adormecia sem o perceber,

porquê?

e se era aquele o momento de o fazer!

o sino ouvia-se ao longe,

o horário deixou de fazer sentido,

tal como o calendário,

procurava... e nunca as encontrava...

 

As chaves do espigueiro telintavam numa algibeira furada,

que servia de esconderijo a um corpo emagrecido,

cansado,

e ferido...

 

Havia lágrimas nos olhos das frestas do espigueiro,

a madeira envelhecida... rangia... parecia um homem desiludido com a vida,

acordavam-me para o jantar,

e fazia de conta que não ouvia...

nem sentia...

o vento soprar,

e eu procurava... e ele em pequenos círculos... me abraçava,

acreditava que das pálpebras dos pinheiros fugiam as estrelas em papel,

acreditava que à resina regressavam as plumas fluorescentes das meninas de cartão...

e nunca vi o mar acorrentado ao granito ensanguentado da eira,

nem os barcos, nem os marinheiros com odor a sexo,

e no entanto... havia uma mulata que dançava na eira só para mim,

 

O zinco da sanzala gritava,

e um menino em calções chorava grãos de pólen,

não havia abelhas para me consolarem...

nem... nem mangueiras sombreadas nas mãos dos mabecos enfurecidos com o meu sorriso,

 

Bufunfa...

o kimbundu poético da paixão dos pássaros,

o voo silencioso dos dentes de marfim sobre a mesa da sala de jantar,

uma ténue luz que iluminava o capim que jazia nas bermas da estrada,

caminhava, caminhava... e não tocava no granito ensanguentado da eira,

brincava com os papagaios de papel inventados nos seios de um coqueiro,

cintilavam em mim as gazelas, os elefantes... e ao meu lados os entristecidos marinheiros...

e procurava...

adormecia sem o perceber,

porquê?

e se era aquele o momento de o fazer!

Levantar-me do chão frio do granito ensanguentado da eira.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 23 de Agosto de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:33

18
Jul 14

O amor,

movimento circular uniformemente acelerado,

dois corpos prisioneiros no espaço,

três pontos os absorve,

o desejo,

o beijo...

e o abraço,

o amor,

o rio que corre para o mar...

e não mais vai regressar,

o silêncio impregnado nos lábios da madrugada,

o amor,

 

O amor desgovernado,

sem cais para aportar...

o amor de amar...

o amor, o amor submerso num triste olhar,

 

Entrelaçadas mãos,

numa cama deitadas,

o amor quando de um espelho ressaltam os pigmentos do amanhecer,

a janela encurralada na floresta,

o amor,

o amor verdadeiro, o amor... o amor sem se ver,

 

(o amor,

movimento circular uniformemente acelerado,

dois corpos prisioneiros no espaço,

três pontos os absorve,

o desejo,

o beijo...

e o abraço,

o amor)

 

O amor vestido de saudade,

o amor pintado numa parede invisível, o amor... o amor sem tempo para pensar,

as estrelas, o luar, o amor... o amor das palavras quando um túnel de vento se esquece de acordar,

o amor,

duas mãos entrelaçadas,

milhares de dedos encostados à tua pele bronzeada,

o amor, o amor de uma caravela,

correndo, correndo... correndo no pulso de uma sanzala...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 18 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:43

11
Mai 14

mergulho nos sonhos da tempestade,

depois, depois adormeço na espuma invisível do vento,

pergunto-me se existem cabelos de porcelana no teu sorriso,

dizem-me... dizem-me que o teu sorriso não me pertence,

há um exíguo cansaço no meu peito,

uma corrente de aço que me suspende ao Luar,

um constante fluxo de iões voando nas asas da gaivota madrugada,

mergulho em ti, mergulho nas tuas mãos de rosa ensonada,

mergulho no amanhecer,

sem o saber,

como um inocente corpo abandonado nas sombras da cidade,

como um esqueleto sem vontade de amar...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 11 de Maio de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:21

19
Abr 14

não percebo a prisão de vento que são os teus braços

quero voar... e não consigo subir à árvore do teu sorriso

planar no teu silêncio

não percebo as andorinhas do teu cabelo

parecem tristes

parecem aquilo que sou quando cessam todas as luzes

 

não percebo porque sou obrigado a sonhar

quando deveria navegar sobre um Oceano de insónia

não percebo as nuvens cinzentas das montanhas abandonadas

sem vida

sem... sem madrugadas

afinal... nada percebo e nada sei a teu respeito

 

percebo que vives

percebo que morrerás sem perceberes que eu já percebi... que aquela montanha é apenas uma sombra de olhos cerrados

não percebo os cigarros que vivem como se fossem palavras

palavras que se escrevem em ti

e de palavras será construída a tua lápide

quando acordar o Sol e eu talvez sentado sobre um pedaço de xisto esperando que acordes

 

não percebo a ausência dos calendários sem janelas

as ruas parecendo um jardim vestido de nus obscuros sons

um baterista esquecido num coreto de aldeia

e tu moves-te como se fosses um pedestal pesadíssimo

granítico

ignóbil cansaço nos teus braços que são uma prisão de vento.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 19 de Abril de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:55

23
Mar 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Sem o vento ardem as minhas asas,

evaporam-se todos os meus sonhos de neblina adormecida,

hoje, hoje pareço um transatlântico enferrujado, velho e cansado,

sem coração, eu, eu a pedra do muro em desgosto,

subo as escadas do silêncio... e, e sei que não lhes pertenço,

ausento-me, escondo-me, invento vidas anónimas com sabor a naftalina,

sem o vento,

ardem...

ardem as minhas mãos coloridas,

e de dentro de ti vêm a mim as palavras mortas, as palavras não minhas,

ardem e sinto,

sinto que deixei de caminhar nos teus olhos envergonhados...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 23 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:47

16
Mar 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Não sei quem és, como te vestes e o que pronuncias, não sei se és um pássaro em decomposição, uma árvore solitária que habita os jardins da cidade adormecida, tão pouco se és a madrugada, o Domingo quase a terminar, a noite a nascer, não, não sei o que és e quem tu és,

Como posso eu sorrir às tuas lágrimas? Percebes-me agora? O Domingo em término, a noite quase noite, a crescer e a erguer-se na tua boca de cristal, e quase não oiço as tuas palavras de porcelana, e quase, a janela da paixão a encerrar-se eternamente, para sempre e só..., hoje tu, amanhã eu, depois as pedras e os canteiros, as flores, os pinheiros de uma infância entre o mar e a montanha, sinto-me prensado, sinto-me um muro argamassado pela tristeza,

Quem sou?

Não sei, nunca soube, talvez... talvez no Domingo que vem, talvez amanhã, talvez no descanso das roldanas, uma corda em direcção ao sexto andar, subo as escadas, sinto-me cansado, os cigarros, a idade, a saudade, novamente os cigarros,

Oiço-os como testemunhas de uma fogueira em evaporação,

Cigarros vadios, como-os vivos, oiço-te e não sei

Quem sou?

Sim, e tu, quem és, o que fazes aqui, aqui dentro de mim?

Uma esplanada vazia, e regressa o dia da Poesia e eu sem poemas para ti... porque, porque não sei quem és, o que fazes dentro de mim, deixas-me cansado, ausente, embriagado, e sei que algures nessa cidade vives e choras, e recordas meia dúzia de cartas, poucas palavras,

E eu, eu sem poemas para ti,

Quem sou?

O vento, sim o vento, pensas que eu sou o vento? Sim, penso, imagino-te sentado na esplanada vazia, apenas uma mesa e quatro cadeiras, conversas com duas ou três sombras, bebes uma bebida invisível, pegas num livro, voltas a poisa-lo sobre a mesa, depois vais à gabardina e puxas de um pequeno caderno, acendes o cigarro, desorientadamente...

Quem sou?

O cigarro acende-se a ele próprio, ganha vida como as tuas palavras, sofre e chora, e acredita na tristeza como acredita que tu, sim tu

O vento!

Sim eu, percebo que me imagines como o vento quando se alicerça na minha pele, sim como o vento, quando rodopia em redor dos meus seios, e tu, e tu

Eu?

Oiço a voz, oiço-os a arder na escuridão de um final de Domingo, amanhã, amanhã talvez..., amanhã talvez “uma esplanada vazia, e regressa o dia da Poesia e eu sem poemas para ti... porque, porque não sei quem és, o que fazes dentro de mim, deixas-me cansado, ausente, embriagado, e sei que algures nessa cidade vives e choras, e recordas meia dúzia de cartas, poucas palavras”, e eu, e... eu,

Só, eu e uma corda em direcção ao sexto andar...

E eu, eu sem poemas para ti,

Quem sou?

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 16 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:37

30
Jan 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Engasgo-me nas palavras tuas das comestíveis ausentes marés do Inferno,

oiço o telintar da janela em fervor, depois, as pétalas cinzentas desgovernam o leme da tempestade,

a saudade existe?

pergunto-te se me ouves quando adormeço nos teus finos ombros de colmo... e sinto na tua pele o desejo indesejado do sofrimento,

o cansaço da tua voz,

o vento da nuvem de gelatina que sobrevoa a tua triste cama,

oiço...

finjo pertencer aos cadáveres invisíveis como esqueletos fotográficos em fina prata,

o livro de ti como eu, ambos esquecidos no oitavo andar das árvores de copa gaguez...

engasgo-me nas palavras, fumo os cigarros embebidos em alfinetes de pura lã virgem,

e...

e dizem-me que do outro lado da rua, uma criança brinca, passeia... pega na rosa dos teus lábios,

sente-se o beijo,

sente-se a tua mão pasmada sobre o silêncio da alvorada,

e do nu teu corpo,

e do... e do nu teu corpo alguns ossos desistem de sonhar...

e tu,

tu acreditas na saudade, no Inverno, e tu... acreditas nas sandálias de corda... e tu...

… e tu dizes-me...

- Amanhã, num pedaço de papel, deixo-te a minha dor.

 

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:48

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