Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

10
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

os pigmentos da sinceridade desfazem-se nos meandros seios de espuma das andorinhas em flor

oiço-as vorazmente sem o saber

as canções melódicas das Princesas com vestidos de prata

os pigmentos olhos da mulher impregnada de insectos e palavras adversas

escondem-se

e mergulham nas algas salgadas dos campos de maré agoniada como papeis emagrecidos nas tendas do circo ambulante

sinto-os correr nas travessas dos carris do aço abraço

e acorrentam-se-me como se eu fosse um barco naufragado

fundeado no teu peito em arbustos artificiais como o era a tua boca transversal

e desconexa

ofegantes dedos de cristal nas plumas do cansaço avião invisível em pequenos desenhos de granito

e imaginas-me vagueando mendigos nas ruas de uma cidade sem lei

da cidade dos tristes corações de pedra...

sou forçosamente obrigado a suicidar-me pelas palavras que escrevo

e detesto quando acordam as manhãs de Domingo...

e não encontro os óculos

e não encontro a tua mão para me guiar até às escadas do silêncio

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 10 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:16

09
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

viver sem saber o que é viver

viver a vida

mas que a vida se despede aos poucos de quem vive

a vida não vida vivendo acreditando que a vida...

a vida é viver sem saber o que é viver

ama-se a vida

e esquecemos-nos de quem nos ama sem a vida

vivendo

crescendo a vida dentro de nós

e longe da vida

a vida que nos espera quando formos apenas pó e pedacinhos de osso sem sabor

sem palavras de viver

 

a vida

a vida que se vive no meu corpo é um cansaço sem vida

viver sem saber que vivendo se vive... o que é viver...

 

o que é a vida.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 9 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:17

30
Out 13

foto de: A&M ART and Photos

 

não precisaria da noite para reescrever-te e reinventar-te das neblinas marés do inferno

não precisaria de ver-te

acariciar-te

tocar-te como o faço sempre que te observo nas sombras dos cansados telhados de suor

não precisaria

mas também não fazia sentido sentir-te

sentindo-me agachado junto aos rochedos da miséria

indefinidamente

sem pontuação

nem um simples ponto final... e despedir-me

de ti

 

(sem precisar

não precisaria de despedir-me das pegadas em flor

ou

dos candeeiros verdes das janelas em plátanos solitários)

 

não precisaria de imaginar-me nas ravinas doentes das montanhas com reumatismo

obesas caminhando abraçadas aos três carris que o Inverno tece nas mãos da geada

não precisaria

e preciso

olhar-te

imaginar-te deitada no meu desajeitado colo

porque os meus joelhos parecem dobradiças enferrujadas

barcos encalhados nos finíssimos bancos de jardim

à madeira empobrecida

no caruncho bicho das palavras derretidas nos talheres do açúcar em pedra...

o mar alimenta-me a saudade

de precisar quando eu não precisaria... dos teus beijos amanhecer

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

quarta-feira, 30 de Outubro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:35

14
Out 13

foto de: A&M ART and Photos

 

poéticas madrugadas de ninguém

mergulhadas no mar parecendo um veleiro embriagado

coitado...

poéticas manhãs sem sentido que da vida absorvem as tristes palavras de viver

as tristes caligrafias embainhadas no sofrimento alheio...

pensava-te dentro do meu corpo de estanho

montanha arrefecida depois da explosão de insónias labaredas em lábios de incenso

as tristes

poéticas madrugadas de ninguém

porque o são adormecem sem o saber

comendo magoados corações de areia

e bebendo as tempestades das sanzalas com telhados de vidro

poéticas tuas mãos

que poisam sobre o meu ombro curvado na sombra nocturna dos corredores sem portas

há fotografias perdidas que acordam de vez em quando

hoje umas

amanhã...

… as outras

todas elas poéticas madrugadas de ninguém

que ardem

e se extinguem no sonho de uma criança

esquecida

perdida...

perdida dentro do curvilíneo livro da infância

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 14 de Outubro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:21

17
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

as pedras castanhas filhas da noite cinzenta

fundem-se-lhe nas mãos clandestinas que a dor adormece

faz de conta que vive

sem viver

sem resmungar com os transeuntes vestidos de negro

que se fazem passear

entre os gladíolos do jardim da insónia

e a triste numeração da calçada sem memória,

 

caçávamos borboletas dentro do escuro quarto com janelas gradeadas

e o aço que antes gemia

hoje morto

derretido como os dedos do poeta amaldiçoado,

 

as pedras castanhas filhas da noite cinzenta

em vidros de pergaminho...

 

cinzentas as árvores de linho

que adormecem nos teus cortinados

a fome emerge

submerge

como pregos semeados na seara tua cama

as pedras castanhas... como ravinas de azoto...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 17 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:21

16
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Não tenho dias de ti

em todos os horários mergulhados nas amoreiras cinzentas

não posso acreditar nas tuas tristes palavras

que alimentam a máquina dos sonhos

não

não tenho dias de ti

e em ti

as películas negras da paixão

desertaram

morreram

esgotaram-se como amêndoas de cartão

no amanhecer desconhecido,

 

Não

não tenho dias de ti,

 

Em ti

e em ti,

 

Não

não tenho dias em ti

e em ti,

 

Não tenho dias de ti

às conversas mórbidas das tardes poeirentas

há silêncios que demoram...

há em ti

momentos

desejos

circos ambulantes entre rosas e palavras sem sentido

tu

eu

perdidos dentro do mundo sem fechadura...

e sofremos

e sofremos as sílabas dos calendários falsificados.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

sexta-feira, 16 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:45

10
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

As pedras rasuradas que alimentam os teus olhos

às lágrimas choradas

como ribeiras em declínio tombando sobre a calçada

vêm as árvores à tua dócil mão de chocolate adormecido

vens tu procurar-me no interior da fértil maré que a solidão semeia nos teus seios...

sou filho pródigo do teu ventre

sou as palavras que escreves nas pálpebras da inocência

as pedras

rasuradas...

onde deitas o teu cabelo em pedacinhos amanhecer

sombras e telhados olham um líquido escorrer...

das folhas enlameadas dos velhos saberes,

 

Choram as tuas pedras rasuradas

um livro recusado à mão escrever

escorrem de ti as uvas embriagadas...

em videiras tuas lágrimas choradas

as pedras

e o feitiço dos lábios suspensos na tua boca

as pedras

loucas quando adormeces sobre mim antes de nascer o sol,

 

Loucas quando... nascer o sol

as tuas pedras amarguradas

as tuas doces pedras rasuradas

que a chuva engole nas tardes de neblina...

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 10 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:16

09
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

embriagas-me os olhos em silêncios neblina

como esperanças vãs

e manhãs adormecidas

que dentro ti

voam como serpentes em desejo

no veneno tua doce mão

que dentro de ti

entre o beijo e a saudável poesia

embriagas-me

os meus olhos sintéticos pintados com acrílicas insónias

e dizes que as minhas pálpebras são os pedaços da noite

mergulhadas em mesas de café...

 

embriagas-me como paixões de areia

no coração dos barcos apaixonados

indefinidos sem saberem o sexo das marés travestidas de baloiço

onde me embriagas

e me comes

e sinto o meu esqueleto vaguear sobre as tuas coxas de cereja

como um transeunte ausentado das madrugadas em papel

branco vazio sem palavras ou... recheado de cadáveres empobrecidos...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:52

01
Mai 12

Limito-me a quatro paredes

de ardósia

e ao cheiro do mar,

 

limito-me às palavras de argila

semeadas nas tardes imaginárias

sem mendicidade

sem saudade

na cidade,

 

Limito-me a quatro paredes

de ardósia

e ao cheiro do mar,

 

sentado

não sabendo

que sendo amado

vou lendo...

um livro cansado,

 

ao acordar,

 

e ao cheiro do mar,

 

limito-me sofrendo não sofrer

sem perceber que a noite é como a morte

sem sorte

dentro de um corredor profundo

o mundo

ao adormecer.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:00

26
Ago 11

Entras madrugada

Sem dizeres bom dia

Sem dizeres nada,

Entras e olhas-me

E ignoras-me como se eu fosse uma sombra

Um arbusto de jardim,

 

Entras madrugada

E nem um olhar

Ou um sorriso ao acordar

Entas sem dizer nada,

 

Entras madrugada

Sem dizeres bom dia

Sem dizeres nada,

Entras madrugada

No meu corpo sem saída

No meu corpo de nada…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:29

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