Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

06
Set 15

E se o mar me levasse para o seu imaginário mais secreto…!

O dia transforma-se em noite,

O vento veste-se de chuva,

Fina, miudinha…

Frágil o olhar da serpente envenenada pela paixão,

O luar morre nas mãos de uma andorinha,

Dá-lhe beijos na face mais longínqua do Universo,

Cansa-se e deita-se sobre o meu corpo em travestido xisto,

Não sei se quero,

Ou se existo nos teus lábios de madrugada lapidada,

E se o mar me levasse…

E se o mar me levasse na tua jangada…!

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 6 de Setembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:05

29
Ago 15

desenho_30_08_2015.jpg

(desenho Francisco Luís Fontinha – Agosto/2015)

 

Deixou de habitar este corpo a paixão diabólica da alma sem destino,

Deixaram de escrever as palavras do vento estas mãos esfarrapadas,

Longínquas do olhar da madrugada,

O medo alicerça-se ao peito, as facas do silêncio grunham como as serpentes envenenadas pela noite,

O tédio quando esqueço a solidão e construo círculos de luz nos teus seios…

O teu corpo desabitado, encurralado nas cordas de nylon dos Oceanos mendigados,

E não consigo perceber o amor das flores desenhadas nos teus lábios perfumados,

Como nunca percebi o desejo em mim do estranho luar…

E este mar, meu amor,

Crucificado nas espingardas do coração abandonado,

Semeado nas searas do cansaço…

É triste, meu amor…

Deixar de habitar este corpo a paixão diabólica da alma sem destino,

É triste, meu amor…

Cair sobre mim o tecto do sofrimento junto ao Tejo,

E os Cacilheiros na minha boca… sufocando-me com o relógio enforcado nas pontes do Cacimbo fugindo do pôr-do-sol…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 29 de Agosto de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:29

20
Ago 15

Não há drageia

Nem poesia que me valha,

Entrelaçávamos as mãos nos infinitos Oceanos de luz,

Caminhávamos como crianças sobre as pedras invisíveis da carícia,

E tu olhavas-me quando eu ficava transparente,

Simples,

E ausente,

Voava abraçado às gaivotas,

Fotografava com o meu olhar os barcos de papel

Em velozes corridas contra o vento,

Um dia, despareci da tua sombra…

Subi os degraus do desejo,

Alicercei-me às tuas coxas salgadas…

E sentia os teus ossos na margem do rio onde nos sentávamos,

Tive medo,

Porque descia a noite sobre os nossos ombros,

E quando acordava a noite…

Ficávamos agachados junto aos beijos hipnotizados,

Dormíamos,

Dançávamos à janela com retractos para o Tejo,

A ténue velhice levava-nos para as ilhas rochosas da solidão,

Hoje…

Pareço um pedaço de aço

Esquecido numa qualquer sucata,

E espero,

E espero o regresso do forno…

E novamente serei um esqueleto nas mãos dos infinitos Oceanos de luz,

E espero… espero pela tua mão iluminada.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 20 de Agosto de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:01

18
Ago 15

Voltarei

Um dia

A este porto de náufragos imaginários,

Venderam os ossos à escuridão

Trocaram a alegria pela tristeza…

E parecem tão felizes como eu,

Desenho-os na minha mão

Enquanto lá fora

Lágrimas em papel caiem sobre a calçada íngreme da solidão,

Sofro

E tenho medo da paixão,

Voltarei

Um dia

A este porto de náufragos encalhados na fina insónia do corpo,

Saberei porque durmo nesta cama de água salgada…

Saberei porque vivo nesta roldana enferrujada pelas nuvens da manhã,

Ao acordar,

Não estás,

Pertences aos ventos do Tejo…

Entre um beijo de despedida

E petroleiros acorrentados aos jardins de Belém,

Voltarei

Um dia

E este porto…

Sem ninguém,

Voltarei

Um dia

Sem saber o significado de regressar aos teus braços,

Esqueci o odor do teu perfume,

Esqueci a fúria do teu ciúme…

E esqueci a janela do teu olhar

Diluída numa folha amarrotada pelas montanhas da saudade…

Voltarei

Um dia

A este porto de náufragos...

Sem remetente,

Ausente de ti.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 18 de Agosto de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:08

11
Ago 15

Permaneço impávido em frente a este cadáver espelho,

 

Olho e sinto o mar enrolado nos meus braços,

Sou um prisioneiro das marés vadias,

Sem flores na minha algibeira,

As abelhas trazem-me os tristes beijos da madrugada,

Nos rochedos habitam os ossos da noite,

E nunca tenho tempo de sorrir para as estrelas…

Permaneço sentado,

De corda ao pescoço,

Como um boneco em palha…

Enlatado,

Vagabundo rosto,

Que ninguém consegue desenhar,

 

Que ninguém sabe consolar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 11 de Agosto de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:34

06
Ago 15

desenho_06_08_2015.png

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

Sentíamos o vento saltitar na janela dos sonhos,

Havia em nós a clandestinidade de um amor proibido,

Sem sentido… como quase todos os amores,

Livros,

Líamos os textos que durante anos viveram encaixotados na ínfima sombra da madrugada,

Mas nada,

Nada tinha vida nesta cidade abandonada,

Desenhávamos beijos nos socalcos sorrisos da solidão,

Pegava na tua mão…

E sabia que uma gaivota

Brincava no teu cabelo,

Como brinca hoje no meu cabelo o silêncio envenenado pela paixão…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 6 de Agosto de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:14

10
Jun 15

Não sei…

Meu amor,

A tarde parece uma planície infindável,

Uma semi-recta apaixonada pela sombra do rochedo,

Um canhão disparando sonhos

E beijos,

Não sei…

Meu amor,

Os teus desejos,

Não sei…

Meu amor,

Porque tens nos lábios uma cereja em veludo,

 

E nas mãos…

Palavras para me oferecer,

 

E tudo

Porque não sei…

A razão de a tarde ser uma planície infindável.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 10 de Junho de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:30

02
Mai 15

Ouvíamos os tímidos limites da solidão

Como se eles pertencessem aos adormecidos fantasmas

Dos telhados de vidro

Não existiam janelas no teu peito

Nem sol no teu cabelo

Não havia um único rochedo de lágrimas

Que nos abraçasse sem querer nada em troca

Fomos engolidos pela paixão

Como são engolidos todos os pássaros

Pelas ingrimes tempestades de areia

O tecto deslizava encosta abaixo

Sentados na sombra

Trocávamos beijos

Por palavras

E palavras

Por nada

Nem ninguém

Em nossa casa

Vazia

E só

Regressávamos e apenas uma ténue luz nos esperava

De língua afiada

Lambia-nos envergonhadamente

Como quem desenha telegramas

Nos muros de xisto da paixão

O amor entre parêntesis no Rossio

O ponto de interrogação

(que tem o ponto de interrogação, meu amor?)

O ponto de interrogação massacrado pelas amarras do abismo

E mesmo assim

Queríamos voar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 2 de Maio de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:06

24
Abr 15

Enquanto escrevo

Acredito no esboço do beijo

Deitado

Sobre o esquiço do cansaço

As palavras entre lábios de esperança

E bocas de amargura

Deitado

Submerso

Ele

Enquanto dorme

Submersa ela

Enquanto deambula na cidade

E vê nas sombras

A verdade

A mentira disfarçada de verdade

As lágrimas

No esconderijo do silêncio

Caminho desesperadamente sobre as pedras inanimadas da solidão

Não percebo o sofrimento

Nem… nem o reencontro de alguém

Com o espelho da madrugada

Não acredito

Em nada

Nada

Na

Da

Amanhã

As sílabas magoadas dentro de um livro escuro

A capa em cor de noite

Com pedacinhos de algodão

Lá dentro

Habitam pessoas

Casas

Ruas

Nuas

Nu

As

E amanhã

Caminho

O livro escuro

Encerrado

Para descanso do pessoal

Reabrimos…

Nunca

Nun

Ca

Os cigarros espalmados nos alicerces do passado

Não

Não sei

Talvez

O dia seja desejado

Ou…

Ou…

Deitado

Sobre o esquiço do cansaço

As palavras entre lábios de esperança

E bocas de amargura

E não consigo olhar o envidraçado olhar

Das gaivotas de espuma…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 24 de Abril de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:27

Solidifica-se o corredor da esperança

Sinto as vergastadas palavras

Do sofrimento

Alimento-me de poemas

Meu amor

(meu amor inventado)

Vê tu

Poemas

Sei que todas as tempestades

Morrem

Como o amor

Solidifica-se o corredor

Sento-me

E durmo

Não sonho meu amor

Imagino transeuntes brincando na areia

Folheando peles cintilantes

E namorados invulgares

Tanto sofrimento

Meu amor

Perceber que a vida

É a vida

Um segundo apenas

No teu relógio

A madrugada sobressai nas límpidas telas dos beijos encarnados

Imaginava-te penumbra como a noite

Com asas

E voavas…

O infinito adeus

Quando tu

Sentado

Me abraças

Gosto de ti

Gosto de ti como se fosses o meu preferido livro de infância

Aquele com desenhos de estanho

As curvas

Uma pulseira nos teus lábios

O marfim

A morfina andorinha pregada ao teu texto

Escrevo com odor

Sem pensar

Que tu

Meu amor

És inventada

Inventada

Uma boneca de sorrisos

Um cortinado em linho

Suspendido

Crucificado ao amanhecer

Existes

Meu amor?

Porque são desertas as ruas da nossa cidade

Do nosso bairro

Da nossa infância

Os primeiros beijos desenhados num velho Castanheiro

As castanhas entranhavam-se nos teus seios minúsculos

A morte

Meu amor

És inventada

Uma carta nunca escrita

Secreta

Anónima…

… Amo-te

Meu amor…

Adormecida cancela da escuridão

Sei que tu…

Partirás para o Inverno

Não importam os teus álbuns fotográficos

Porque

Meu amor…

Perdi a paciência para te amar

Meu querido

Como é o sofrimento?

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 24 de Abril de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:31

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