Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

14
Mar 15

O suicídio embrulhou-o na almofada do sono

como quem semeia numa fogueira

palavras

e desenhos

e corpos

e beijos

o desejo

meu amor

a saudade dos tentáculos teus braços

quando olhávamos petroleiros brincando no Tejo

o vento

levava o teu cabelo até à outra margem...

alguns minutos

poisava na minha mão

estrelas

os teus olhos

Belém fervilhava

como um campo de centeio

nos corredores da cidade

os livros em viagem

atravessavam a ponte

sem autorização

sós

o café

e a água

a esplanada em cio

quando ouvia o uivar de uma gaivota

em todos os finais de tarde

sós

o café

e a água

estrelas

nos teus olhos de rosa embalsamada

o jardim nos esperava

e abraçava

com corrente de aço pinceladas de silêncio...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 14 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:28

05
Mar 15

Está escuro

no exíguo espaço dos teus braços

mantenho-me aceso como uma fogueira invisível

no meio do campo

deserto

sem árvores

pássaros

ou... enforcados marinheiros

procuro a enxada do silêncio

e gemem as pedras xistosas dos lábios da alvorada

escuro

nada

 

como o transeunte sentado

na Calçada da Ajuda

procura

procura o carteiro

carta escrita

sem remetente

vem a morte

e leva-o para a biblioteca

abre um livro

folheia-o como se fosse o teu corpo adormecido sobre as lágrimas do veneno...

afugenta as palavras

e a tempestade alicerça-se-lhe no peito

 

começa a voar nos cortinados da noite

acende o seu último cigarro do dia...

e pergunta-se

quando?

quando terminará este dia...

a morte dos sonhos

envergonhados

lânguidos nas janelas sem vidros

o mar dança-lhe na algibeira da solidão

bebe um uísque...

e acredita que a poesia

habita no terceiro esquerdo dos teus seios...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 5 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:29

01
Jan 15

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

deixei de sentir a tua fotografia nos meus lábios

vi uma lágrima de vácuo galgando o teu rosto

em direcção ao mar

pertencíamos aos peixes sem asas

brincando sobre a árvore das palavras

havia uma tempestade de aço

sobre as tuas pálpebras amordaçadas

e não sabíamos que o amor era um fugitivo

um cadastrado destino

um homem suspenso na gravata dos cintilantes amanheceres

um cadastrado destino

acorrentado à tua fotografia

sem tu o saberes

perdemos os abraços

os beijos

e as caricias defeituosas da madrugada

perdemos o orgasmo literário de uma janela em Belém

sem tu o saberes

a noite construída de infinitos gemidos

e nem tempo tivemos para desamarrar o luar que nos cercava...

o fugitivo amor

um cadastrado destino

a noite construída de mimos

e armadilhas

e simples ruínas

como o vómito da cidade depois de acordar...

sem tu o saberes

o exilado casaco de couro balançando na ponte da angústia

o cheiro sulfuroso das avenidas em flor...

e da tua fotografia que vivia alicerçada aos meus lábios...

nada

desapareceu na neblina

talvez cansada

talvez... talvez

talvez ensanguentada nas mãos em ciúme.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 1 de Janeiro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:13

15
Nov 14

invento-te nos nocturnos cortinados da insónia

acaricio-te sabendo que não passas de um mísero desenho da minha autoria

não sei desenhar...

invento-te nas noites de água invisível

quando sei que lá fora...

… distante de mim

há uma tempestade de desejo em rotação

calculo o seu centro de massa

calculo o seu centro geométrico...

e descubro que és uma invenção de uma mísera folha de papel

sem odor nem corações

nem beijos

 

apenas um desenho meu

 

invento-te nas madrugadas cinzentas

quando todas as luzes dormem

e sonham...

e... e morrem nos meus braços

 

cacaréus

pedaços de ossos

cabelos teus que deixaste nos lençóis clandestinos de uma pensão sem nome...

e em frente à janela

o rio

a fome

 

cacaréus

cacaréus

… e cacaréus...

 

pedaços de nada sobejantes de uma noite em construção

ofegante tu

ofegantes os transeuntes em desalinhado cansaço...

e eu... e eu apenas queria desenhar-te no espelho do guarda-fato

 

e depois... e depois vestir a gabardina e fugir dos teus lábios

como um louco

sem perceber porque chove hoje...

sem perceber porque choram os pássaros do teu olhar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 15 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:55

03
Nov 14

Pindéricos esqueletos sobrevoando o pólen embriagado

marinheiros raquíticos encostados ao mar salgado

esta vida de sangue entranhada nas mandíbulas da cidade

este vento envergonhado que se enforca nos meus abraços

os sinos da ferrugem engatados numa ruela quadriculada

a tarde que se afunda

e mata

nos estilhaços de uma espingarda

as mulheres procurando carícias debaixo das palmeiras

um poeta encardido

sentado numa cadeira...

e ninguém... e ninguém olha a ponte de nylon com cabeça de xisto,

 

O poeta enlouquece

e transforma-se em pedacinho de poeira

não escreve porque lhe falta a esplanada de Belém...

cerra hermeticamente os olhos de areia

e... e ninguém...

e ninguém olha a ponte de nylon

que o rio embala nas noites de neblina

os pindéricos esqueletos consumindo vodka falsificado...

os apitos de um drogado

quando os carris de aço desaguam em Cais do Sodré

e o magala desgovernado

tomba... tomba suavemente no pavimento florido,

 

O céu em chamas dançando nas espinhas do almoço

o guardanapo esbranquiçado poisado sobre o clitóris da esperança

gemem as sílabas nas ruínas que a tua voz devastou

canso-me das marés

e desta cidade sem escala

não encontro o fim do sacrifício

que o poema me obriga...

cambalhotas e palhaços encerrados numa tenda clandestina...

solto-me

e grito

e saltito...

como o encharcado luar no centro da tempestade...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 3 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:46

04
Ago 14

O vociferar do teu corpo de anémona-do-mar doirada,

sinto-o nos meus dedos, ele entrega-se às minhas mãos,

desvairado, aparece-me o silêncio mais longo da noite,

não há estrelas que adormeçam a tua pele...

se eu pudesse.... se eu pudesse embrulhava-te no meu olhar,

acendia a lareira dos meus braços...

e... e ficávamos prisioneiros a um livro,

líamos, líamos... líamos até que os cortinados do nosso quarto vomitassem os gemidos de granito dos orgasmos envenenados...

 

E o livro, e o livro ardia,

e a tua pele... e a tua pele... ardia,

 

O vociferar do teu corpo incandescente,

descendo a Calçada da Ajuda...

levavas contigo o rio,

e... e todas as gaivotas de papel,

 

E o livro, e o livro ardia,

e a tua pele... e a tua pele... ardia

num Domingo de cio,

 

Até que eu sentia o teu corpo de cinza na minha triste algibeira!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 4 de Agosto de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:02

29
Jul 14

Desejastes-me Senhora,

quando eu tudo tinha,

hoje, que não tenho nada,

vós, minha Senhora,

odiais-me...

pareceis, hoje, uma alminha,

denegrida,

deitada na madrugada,

 

Desejastes-me Senhora,

nas mansardas de Belém...

fazíamos amor olhando o rio,

triste, e habitado por chulos, putas... e Cacilheiros,

à janela,

os cigarros semeados numa casa amarela,

fumegavam, e gritavam... e gritavam... esta Senhora é bela,

bela Porcelana,

que rica Porcelana... ela!

Desejastes-me Senhora,

quando eu tudo tinha,

hoje, que não tenho nada,

 

vós, minha Senhora,

odiais-me...

 

O poeta é um fotógrafo de palavras,

um pintor de caricias e medos,

o poeta é... o poeta é um escultor...

molda, molda o corpo da minha Senhora bela,

do granito embalsamado...

que olhando outro rio,

não triste, não habitado por chulos, putas... e Cacilheiros,

vive como um coitado,

 

vós, minha Senhora,

odiais-me...

 

E ainda guardais dentro de um livro uma envelhecida flor,

 

Não morreu o poeta, não morreu a minha Senhora bela...

mas... mas morreu o amor,

 

E morreu a casa amarela.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 29 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:25

07
Jul 14

O teu beijo amorfo,

clandestino do enclave da insónia,

cai a noite sem perceberes que a noite é uma mulher invisível,

uma amante cobiçada por todos,

suspensa nos tentáculos das estrelas sem nome,

o teu beijo silencia-se e morre...

o teu beijo deixa de ser beijo,

e transforma-se em desejo,

inverso, transverso esforço que alicerça o teu corpo à ponte metálica...

balança e não cai,

e levita depois de acordar a madrugada,

como se de um pôr-do-sol em decomposição se tratasse...

 

O teu beijo amorfo... evapora-se,

morde os lábios de cetim, e... e vai à janela da solidão procurar pedacinhos de papel colorido,

imagina-me uma sombra com pequenos ramos que partem na ferocidade do vento,

vergo-me, troço-me até palmilhar a terra húmida depois da chuva do fim de tarde,

e fico estendido como uma pedra entre o sacrifício e a vontade de correr...

beija-me, penso-o enquanto aos poucos esforço-me para me levantar,

 

Agarro o teu beijo amorfo,

acaricio-o na palma da minha mão de caduca folha,

sinto-me desgovernado quando imagino o mar a entrar no meu corpo,

penso que vou morrer,

penso que serei o primeiro a partir... por motivos de um beijo amorfo...

sei que a morte é natural... normal,

mas... tudo por um beijo?

o cansaço invade-me,

a força motriz que alimenta os eléctrodos do meu coração... começa a esvaziar-se,

os eléctrodos apaixonam-se por mim,

e fico sem jeito,

fico... impávido enquanto o teu beijo amorfo desce a Calçada da Ajuda...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 7 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:46

04
Jul 14

Sabias dizer-me a cor dos teus olhos,

nunca esqueceste o cansaço dos meus cabelos,

sabias... e deixaste de saber...

o que escrevo,

o que quero escrever,

sabias como eram as madrugadas de Agosto num jardim clandestino,

tão pequenino,

tão...

e deixaste de perceber os silêncios do amanhecer,

sabias dizer-me a cor dos teus olhos,

sabias,

sabias e tinhas medo da minha voz trémula,

 

Desfocada no espelho de um quarto escuro...

sabias,

e não me querias dizer...

como eram belas as gaivotas do Tejo,

 

De como eram belas as ruas desertas de Belém,

sabias a cor dos teus olhos...

… e não sabias... e não querias saber...

de como eram belos os barcos que vociferavam palavras nas noites frias de Inverno,

que inferno,

saberes...

e não me quereres dizer,

que... que havia uma janela pintada de veludo,

que... que havia uma clarabóia sobre o esqueleto do Oceano,

tu sabias,

tu sempre soubeste...

que eu, que eu era construído em ferro fundido dúctil.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 4 de Julho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:18

09
Jun 14

As tuas mãos são pétalas de rosa,

não de uma rosa qualquer,

têm coração de prata,

sabem a palavras acabadas de escrever,

uma rosa, uma sombra, e pedaços de luar,

pétalas de silêncio mergulhadas nos meus lábios,

desejos de amar,

amar... as tuas mãos, as pétalas... sem esquecer o teu olhar,

 

As tuas mãos são frágeis,

como jarras de porcelana onde adormecem as rosas que têm pétalas com perfume de madrugada,

amo-as, amo-as sem o saber,

às tuas mãos, entrego o meu corpo cansado, o meu corpo de estanho...

o meu corpo envenenado pela solidão,

o meu corpo envenenado pelo teu sorriso de amanhecer,

 

(oiço-as no meu peito, os gritos teus, e os solstícios suicidados)

 

As tuas mãos... as tuas mãos me encantam,

são sons melódicos que se abraçam a nuvens poéticas,

frágeis,

macias,

tão finíssimas... Meu Deus, que tenho medo de lhes tocar!

que tenho medo que me toques, e se evaporem na neblina de Belém,

 

(oiço-as, oiço-as e tenho-lhes medo)

 

Podem quebrar,

podem morrer,

… podem se apaixonar,

 

As tuas mãos são pétalas de rosa,

são mimos,

são... são néons perpendiculares deambulando na cidade,

as tuas mãos, ai... ai as tuas mãos de felicidade,

quando imaginam círculos de areia em busca de uma gaivota revoltada,

elas te olham, e elas ficam encantadas...

com as tuas mãos, com as pétalas das tuas mãos,

rosas, rosas castigadas.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 9 de Junho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:40

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