Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

18
Mar 17

Um beijo que o silêncio madrugada

Afaga na escuridão da ausência,

As silabas estonteantes do sono

Que adormecem nas velhas esplanadas junto aos rochedos,

Vive-se acreditando na miséria do sonho

Quando lá fora, uma árvore se despede da manhã,

Um beijo simples,

Simplificado livro na mão de uma criança,

Um beijo,

No desejo,

Sempre que a alvorada se aprisiona às metáforas da paixão,

Sinto,

Sinto este peso obscuro no meu coração,

Sinto o alimento supérfluo da memória

Quando as ardósias do amanhecer acordam junto ao rio…

E na fogueira,

Debaixo das mangueiras…

Os teus lábios me acorrentam ao cacimbo,

Sou um esqueleto tríptico,

Um ausente sem memória nas montanhas do adeus,

Um beijo que o silêncio madrugada

Afaga na escuridão da ausência,

A uniformidade das palavras

Que escrevo na tua boca,

Sempre que nasce o sol

Sempre que acordam as nuvens dos teus seios…

E um barco se afunda nas tuas coxas,

Oiço o mar,

Oiço os teus gemidos na noite de Lisboa…

Sem perceber que és construída em papel navegante…

Que embrulham os livros da aflição,

Um beijo, meu amor,

Um beijo em silêncio

Galgando os socalcos da insónia…

Vivo,

Vive-se…

Encostado a uma parede de vidro

Como leguminosas no prato do cárcere…

Alimento desperdiçado por mim.

Desamo.

Fujo.

Alcanço o inalcançado…

E morro.

 

 

Francisco Luís Fontinha

18/03/17

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:06

17
Fev 17

Triste a vida de marinheiro,

Prisioneiro

Neste porto sem nome,

 

Estes socalcos me enganam

E abraçam o rio da saudade,

Estes socalcos lapidados na sombra da noite

Quando regressa a verdade,

E tenho no corpo o medo da revolta,

E tenho nas mãos o silêncio que não volta,

Estes socalcos da triste vida de marinheiro,

Prisioneiro

Neste porto sem nome…

E distante da madrugada,

 

Nem idade,

Nem dinheiro,

 

Triste,

Triste a vida de marinheiro

Assombrado pelo amanhecer do desejo

Que se perde num beijo…

 

Nem cidade,

Nem dinheiro,

 

E no tempo se esquece o coração de prata

Das marés loiras que o mar desajeita

E rejeita

Contra a corrente,

 

Triste a vida de marinheiro…

Triste,

Triste na cidade ausente.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

17/02/17

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:13

24
Jun 16

Habito neste poço

Mergulhado na escuridão,

Sinto o abraço do fantasma de cartão

Que foge da algibeira do moço…

Sem saber o significado do amor,

Ou da razão

De amar,

De ser amado,

O deslumbrante cidadão…

Aconchegado

Ao sorriso de algodão

Que alimenta a dor

E o cansaço da mão…

Esfuma-se no silêncio do mar.

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 24 de Junho de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:24

09
Set 15

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(desenho de Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)

 

Esta cadeira onde te recordo

Acorrenta-me aos sonhos da noite escura,

Sobre a mesa-de-cabeceira… o livro que emagrece o teu corpo nas lâmpadas incandescentes do desejo,

Minto-te, meu amor,

Como te minto quando digo que sou filho da noite…

 

Não, não meu amor,

 

Não,

Não existe noite

E tão pouco sou filho dela,

 

Sabes disso meu querido,

 

Sabes disso…

Que amanhã recordar-te-ei como um pedestal em movimento,

Uma orquestra vagueando sobre o balcão de um bar…

 

Sabes disso meu querido,

 

Algumas pedras e gelo…

E um beijo nas velas de um veleiro,

Esperam que esta cadeira se sente…

Que esta cadeira se sente no meu colo,

E me beije…

Como beijam os vampiros da noite escura.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 9 de Setembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:14

04
Set 15

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(desenho de Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)

 

“Sábados,

Domingos…

… E feriados,

Lamentamos,

Estamos encerrados”,

 

No pólen amanhecer

Cresce uma abelha em flor,

É disparada contra o coração

Uma bala de tinta florescente,

E de espingarda na mão,

Aquele louco transeunte…

Senta-se sobre a invisível espuma do mar,

Lamentamos,

O amor encontra-se encerrado para remodelação…

A paixão…

Afogada numa caixa em cartão,

Segue viagem, e não regressa a este cais ambulante,

 

“Sábados,

Domingos…

… E feriados,

Lamentamos,

Estamos encerrados”,

 

Apaixonados!

 

Não sei se vos diga o que sinto…

Porque nada sinto,

É estranho,

Saber que amanhã não vai acordar a madrugada,

É estranho,

Perceber que amanhã uma rosa embalsamada…

Acordará no estômago de um velho livro,

E o amor… e o amor é um gajo “fodido”.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 4 de Setembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:31

15
Ago 15

desenho_16_08_2015.png

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

Sei que me esperas nas searas adormecidas,

Escreves o meu nome numa granítica sombra,

E eu,

E eu permaneço aqui, esperando que regresse o silêncio

E me traga a paixão,

Deixei de ouvir a tua voz,

Deixei de tocar no teu rosto,

Mas tenho as palavras do teu sorriso

Cravadas no meu peito,

Hei-de amar-te eternamente,

Desenhando nas estrelas os teus lábios,

Hei-de amar-te eternamente,

Escrevendo as lágrimas da chuva no teu cabelo…

E um dia,

A paixão nascerá numa manhã de Primavera,

Como eu nasci numa manhã em Luanda.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 15 de Agosto de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:54

13
Ago 15

Encosto o meu cansaço aos sons nocturnos das tuas lágrimas,

Sinto o silêncio do teu coração,

Fogem-me as palavras,

E o medo embrulha-se em mim,

Não tenho alma,

Não tenho fôlego para gritar aos pássaros…

Que habitam no teu cabelo,

E o rio que brinca nas minhas veias,

Aos poucos,

Cessa de correr para o mar,

Senta-se,

Lê… e desaparece nos musseques da solidão…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 13 de Agosto de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:55

25
Abr 15

as hastes virtuais do cansaço alimento

tenho no corpo as sentinelas do abismo

pensando bem

amanhã perguntarei ao corredor envidraçado

se...

se a Primavera é isto...

a porcaria caligrafia dos voos nocturnos da paixão

o exilado amor

acorrentado às primeiras páginas de um livro

as tormentosas sílabas do adeus

caminhando junto à praia

a morte constituída arguida das sombras em flor

o prisioneiro eu

sempre só

meu amor

amor meu

sou uma árvore sem sorriso

um esqueleto de letras

cambaleando na noite dela

nunca tive a noite

meu amor

sentia-me disforme

ambíguo

sonâmbulo das viagens clandestinas

no teu corpo em STOP

Pára tudo

meu amor

as pessoas

os carros

as pessoas e os carros

embrulhados em perfume de luz

vou

e acredito não voltar mais

para quê?

meu amor...

regressar aos teus braços...

 

Francisco Luís Fontinha - Alijó

Sábado, 25 de Abril de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:19

21
Dez 14

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Esta porta

morta

infeliz aquele que deseja entrar

e a sombra o acorrenta

aos velhos telhados de cartão

esta porta

sem acesso ao coração

em vidro

de pedra

o xisto desfeito em lágrimas de papel...

e há sempre um corpo esperando pelo regresso da tempestade

sem vaidade,

sem... sem amizade

esta porta encerrada para obras de restauro

lapidações em trinta e seis prestações...

a vida se perde neste labirinto de palavras

e madeira apodrecida

esta porta

sem entrada para o casebre da mendicidade

e elas em guerra por um punhado de areia

ou... ou por um poema em decomposição

os braços achatados

e sobre os ombros... a fugitivo da madrugada...

de cidade em cidade... de corpo em corpo... de nada em nada.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 21 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:49

10
Dez 14

Sou um estranho teclado

dentro do teu peito,

sou a manhã na boca da insónia...

e perco-me nas tuas mãos

como um pássaro em sofrimento,

surpreendo-me com o teu olhar entranhado na escuridão,

pareces um cortinado invisível,

uma espingarda de papel...

 

sou um estranho teclado

dentro do teu peito,

sou os rochedos incinerados

que escondem as tuas palavras,

e nunca tenho tempo para abrir a janela

do teu coração,

sou um emaranhado de estrelas

sem passado nem canseiras,

 

Sou um estranho...

… no teu peito,

visto-em de negro

e confundem-me com a noite,

sou o silêncio dos teus cabelos

e a cartilha dos teus medos...

sou a clarabóia do teu sorriso

quando lá fora...

 

gritam o meu nome em vão,

e eu, e eu nunca tive um nome,

uma pátria,

uma bandeira,

 

nem... nem paixão...

 

gritam o meu nome em vão,

e o teclado estranho

que habita no teu peito...

chora... chora como a bala de um canhão.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 10 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:47

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