Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

03
Dez 17

Tens nas veias a saliva do desejo,

O cansaço disperso, quando a alvorada se despede de ti,

Os Oceanos infinitos entre quatro paredes de vidro,

O sangue das palavras embriagadas pela insónia,

Depois acordam as estrelas,

É dia,

Encostas-te a mim, dormes, sonhas, escreves no meu olhar as palavras proibidas,

É dia,

Pegas na minha mão, levas-me para os jardins longínquos da memória,

Ouvíamos música, líamos os limos da madrugada, na serpente, a maçã envenenada,

E outras coisas mais…

Vivíamos sonhando com livros em xisto, descendo os socalcos da miséria,

O poço da aldeia, a água límpida da manhã,

Que absorve toda a porcaria das tuas veias,

Está frio, ranges os dentes e entrelaças as mãos,

Desprega-se do teu cabelo, finíssimos pingos de geada,

Até que seja noite na nossa cidade,

Recordas-me as árvores no Outono, aos poucos despidas, sombrias…

Porque a noite é vadia, porque a noite traz recordações de outros tempos,

Relógios ensanguentados de saliva, do desejo, que alimentam as tuas veias.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 3 de Dezembro de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:42

25
Nov 17

Entre quatro paredes, tenho o meu esqueleto de granito infestado de lágrimas, e, quando o meu pobre relógio acorda, todas as noites, fujo para as sombreadas ruas da Avenida, pinto as árvores no meu olhar, semeio na lapela as frágeis sementes da morte, sempre que o vento regressa do mar,

A janela do sofrimento rasgada na penumbra madrugada, o silêncio das acácias misturado com os soníferos orgasmos de prata, e esta terra me alimenta das esmolas não recebidas, tenho medo, medo de perder-te no infinito amanhecer, porque nas tuas mãos habitam as flores da despedida, lamento, fico cansado de olhar-te no espelho caduco do meu quatro, e, os livros empilhados junto à madrugada, lamento, que todas as tardes sejam em pedaços de sofrimento, como as jangadas dos pilares de areia da tua voz,

Entre quatro paredes, de vidro, o silêncio amanha, dorme… e morre na alvorada.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 25 de Novembro de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:34

12
Nov 17

Acusais-me de tudo e de nada.

Acusais-me da chuva e do sol,

Das províncias desgovernadas,

Dos socalcos inanimados,

Tristes…

Cansados.

 

Acusais-me do cansaço,

De ser o menino dos papagaios

E das estrelas em sombreados tentáculos,

Acusais-me de o mar não regressar…

 

E de matar.

Acusais-me do eterno ventrículo agachado no musseque,

Das palmeiras envenenadas pelo silêncio,

Acusais-me das palavras gastas,

Tontas,

Nas paredes da solidão.

 

Acusais-me de tudo e de nada.

Acusais-me do medo,

Da morte em segredo,

Acusais-me do sofrimento

Nas montanhas solidificas dos livros

E dos momentos passados na escuridão de um velho bar.

 

Acusais-me da dor,

Das metástases ensanguentadas de um corpo em delírio…

Acusais-me de nada,

De tudo,

Até da triste madrugada…

Que a sombra alimenta.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12 de Novembro de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:48

06
Nov 17

As minhas tulipas são anónimas.
Acordo ao som dos seus delas gemidos,
Entre parêntesis e pontos de interrogação,
A lapidação do meu corpo ao amanhecer,
O perfumado banho,
Antes de comer,
As minhas tulipas são ardósias.
Todas as palavras são assassinadas nas suas delas bocas,
Como se fossem nuvens esfomeadas,
Canibais canetas de tinta permanente,
Poisadas sobre a minha lápide invisível,
Todas as palavras me detestam,
Todas as palavras me agridem ao anoitecer,
Como correntes em aço que brincam na rua.
O espelho desfigurado,
Os lençóis emagrecidos pela geada,
O cansaço meu desperdiçado nas ombreiras do mar,
O sangue dorme. O meu corpo é uma jangada de vidro…
Perdido no cais da saudade,
Tenho medo das encostas da montanha,
Que assobiam a todos os minutos passados,
Que vão passar e todos aqueles que não passam,
Porque habito num apeadeiro selvagem,
Doente.
As minhas tulipas são anónimas…
E o meu jardim em papel amarrotado.



Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:58

05
Nov 17

As ratazanas do quinto monte castanho, as metástases da dor suspensas num pendulo prateado, o relógio oculto no pulso da dor, o medo de perder-te no Oceano... Quando as palavras se suicidam nas tuas mãos de Princesa, choro, sofro, deixei de ter sorrisos e dou-me conta que estamos sós.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:14

04
Nov 17

Não sei o que te diga... A minha vida é um círculo em pequenas rotações, sem esperança, um cubo vazio, grená quando a escuridão invade o meu espaço. Não, não sei o que te diga... Porque as minhas palavras estão nas tuas veias.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:43

31
Out 17

Perfeito.

Imperfeito.

O silêncio mutante da escuridão,

Quando desce da montanha uma pobre canção,

Feio,

Feito, diz ele, antes da morte,

Perfeito.

Imperfeito.

Pobre,

Nobre,

Enquanto caminham sobre a Lua as sombras terrestres do medo,

Um foguetão em apuros,

Uma traineira desgovernada,

Só, e sem nada,

Perfeito.

Imperfeito.

Sempre suspenso no alpendre da dor,

Sente,

Sofre,

Para quê? Se ele percebe que vai morrer…

Sinto,

Ele,

No deserto das serpentes,

Perfeito.

Imperfeito.

Sem jeito.

Silêncio…

Um caixão em lágrimas,

As pálpebras em chamas,

E, a vida parece uma lâmpada sem alma.

 


Francisco Luís Fontinha

Alijó, 31 de Outubro de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:58

29
Out 17

Iluminado sejas, coração das sete serpentes.

O cansaço das pedras, perfumadas almas na escuridão,

Palavras dispersas,

Nas garras de uma canção.

Iluminado sejas, corpo desengonçado das sete maravilhas…

O sorriso perfeito, nas tardes estátuas,

Os livros mortos, os textos acorrentados aos braços da madrugada,

Iluminado sejas, obscuro cansado prato, sobre a mesa do sono,

E das pedras abençoadas.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 29 de Outubro de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:19

22
Out 17

Nas cinzas do meu corpo

Habitam as palavras do fogo sombrio do sofrimento,

A dor semeia-se na terra cansada da minha mão,

Quando o luar adormece, quando uma flecha sangrenta se espeta no meu coração,

Domingo à noite,

Música fúnebre para me alimentar,

Palavras que voam em direcção ao mar…

E te levam, e te levam para o Oceano da tristeza,

E fica a beleza,

Os livros sobre a mesa…

Escrevo-te,

Imploro-te…

Que fiques, aqui, comigo…

À lareira.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 22 de Outubro de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:12

10
Out 17

O corpo pincelado de noite,

Quando da noite regressam as barcaças do Inferno,

Não trazem destino,

Como no Inverno,

O menino…

O menino recheado de luz e incenso verbo,

Lá fora chora uma flor,

Um pequeníssimo poema morre de dor…

E o menino em febre, cansado da flor,

Deita-se sobre o orvalho imaginado pelo seu progenitor,

Prometo conquistar todos os ossos do teu corpo,

Prometo desenhar no teu corpo a sombra da revolta,

E que nunca mais volta,

Às escadas do sofrimento.

Oiço o teu lamento,

Os teus gritos contra os cortinados da Primavera…

Oiço o Outono na tua mão tão bela,

Quando a barcaça,

Em passo acelerado,

Bate contra os rochedos da desgraça…

E o menino,

Coitadinho…

No chão sentado.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 10 de Outubro de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:15

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