Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

30
Dez 14

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Há um beijo inventado

que habita nos meus lábios

há um corpo adormecido

em mim abraçado

há um poema no teu olhar

que transporta o cheiro do mar...

há uma ponte nos teus cabelos

quase a desmaiar,

 

o desenho no espelho embriagado,

 

há um livro nos teus seios

que não me canso de ler

e folhear...

há um desejo dentro desse livro que vive nos teus seios...

um desejo invisível

um desejo embrulhado em capim

e pedaços de cacimbo

há um beijo inventado

… nos meus lábios

em silêncio

a escrita cuneiforme

entre sombras de mármore e ossos...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 30 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:52

27
Nov 14

Alicerçar-me nos teus braços

como se eu fosse um faminto,

não.

 

Um sorriso de pergaminho

nos lábios de uma caneta de tinta permanente,

uma folha húmida,

como a tua pele...

sobre a secretária desarrumada,

uma pilha de livros à minha espera...

e nada,

nem palavras,

nem leitura,

apenas oiço “Wordsong”...

e... e imagino o “AL Berto” deambulando

pela cidade dos transatlânticos...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 27 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:06

27
Out 14

Sem pressa de caminhar sobre as nefastas palavras de chorar

o fogo das tuas mãos que iluminam esta cabana de chita

o teu sorriso... impregnado no meu silêncio...

enquanto me recordo em frente ao espelho da solidão

sou um vadio navegante

deixei de saber como era

quem era

apenas recordo algumas das imagens

muito sombreadas

como uma nuvem de carvão

voando em direcção ao mar

sem rumo... sem... sem luar,

esta esplanada de incenso

que durante anos arde no meu peito

o odor da tua pele nas paredes em lágrimas

a janela amortalhada

quase a esquecer-se da minha existência...

permaneço neste barco

em círculos

em quadrados imperfeitos

gaguejando

às vezes

às vezes sem perceber porque o meu corpo se evapora ao anoitecer

sem rumo... sem... sem luar,

sem palavras para escrever...

sem pressa de caminhar

vivo e habito nos teus lábios prateados

vivo e habito nos teus seios... como desejos parvos

sem cigarros no tecto da insónia

vivo e habito

em círculos

em quadrados imperfeitos

em parábolas moribundas

e cansadas...

como eu

sem rumo... sem... sem luar!

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 27 de Outubro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:37

06
Ago 14

Nunca vi o teu nome escrito na fogueira da tarde,

imaginava-te uma serpente de luar enrolada no pescoço da noite,

tinha medo de ouvir a tua voz, tinha medo... da minha própria voz,

sabia que havia um espelho onde habitavas, um espelho mágico onde aparecias depois de cessarem todas as luzes em mim,

sentava-me sobre a ponte metálica da sonolência, inventava silêncios para não ouvir os teus gemidos,

desenhava-os como se eles fossem o acordar da manhã no pulso de um mendigo de aço,

e acreditava nas palavras não ditas, aquelas que tu escondias junto ao teu peito de anémona-do-mar,

sem vontade de amar,

sem vontade de viver...

nunca vi o teu nome nas ardósias madrugadas de suor,

quando uma cama recheada de sombras cobria a tua pele...

uma janela que se suicidava, e tombava no pavimento térreo da saudade,

 

Uma criança que chorava, e tu, e tu pensavas que eram os mabecos enfurecidos pelo cacimbo,

e afinal, e afinal eram apenas as mãos do desejo a penetrarem em ti,

desgovernada mulher dos sete lençóis de prata...

 

Tínhamos uma palhota com pernas de solidão,

e nunca vi o teu nome... escrito... na fogueira da tarde,

hoje, hoje sei que a tua voz é de cristal, e com a tempestade... quebrar,

grãos de amêndoa voando na algibeira do Tejo,

os cacilheiros em apitos joalheiros, e cansados de tantas viagens sem regresso...

um dia dia vou regressar?

Nunca soube a resposta aos apelos do Oceano,

num recreio de escola, uma criança vestia-se de estátua, no seu pedestal apenas uma flor amarela, e não palavras, e não... e não sorrisos,

e... e não sonhos,

nunca via o teu nome,

em mim...

como as escoras da insónia nas frestas do gesso envelhecido.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 6 de Agosto de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:51

02
Mar 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Perdi o teu olhar na penumbra seara de trigo,

tínhamos descoberto o silêncios dos rios que dormiam nas nossas veias,

perdi o teu olhar das palavras por escrever,

e sentia em ti o desejo de partires,

à janela apareciam as imagens que tínhamos deixado do outro lado do muro,

havia um fino sorriso de melancolia e as tuas mãos tremiam como tremia a tua voz de centeio,

perdi o teu olhar,

e da penumbra seara de trigo apenas sobejaram as flores envenenadas dos beijos adormecidos,

Descemos a montanha,

dormíamos nas almofadas clarabóias das rochas graníticas,

líamos as estrelas junto ao cais das laranjeiras, e... e sentíamos o florescer da manhã com rosas,

sobre nós um papagaio de papel lançava pequenos grãos de areia e alguns favos de mel...

as abelhas descoloridas morriam,

como nós, hoje,

cadáveres de gesso suspensos nas amoreiras,

e havia sempre uma criança em ti que me fazia sonhar...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 2 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:48

16
Fev 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Da tua janela sentia o pulsar inconstante das tuas veias, do oitavo andar eu conseguia, não, aprendi a perceber as árvores em movimento, aprendi a ouvir os teus lamentos, aprendi a sentir a tua minha dor, contava a vezes que o metro de superfície passava em frente aos teus olhos cerrados, perdi-lhe a conta, desisti de contar, mudei repentinamente para os automóveis sonolentos que enteavam no parque de estacionamento, eram tantos, meu Deus, tantos, tantos que... voltei a desistir,

Percebi o significado do medo, aprendi a esperar pelas palavras do invisível, e confesso que não rezei, confesso que mentalmente colocava a hipótese de te perder, e ainda não tenho a certeza se te vou perder, enquanto dormias, enquanto eu olhava os teus sonhos impregnados no cortinado de fumo, eu, eu sabia que tu me esperavas quando acordasses, acordaste,

Então, chegaram bem?

Não te respondi, sentia-me agoniado, com fome, sem palavras para responder aos teus anseios..., pegava nos cigarros amorfos, acendia um e depois outro e mais outro... até que percebi que no corredor de acesso ao teu quarto, até que entendi a solidão, o amor enquanto esperava as lânguidas manhãs de Janeiro,

Então, chegaram bem?

Muita neve, chuva, vento, e perdemos-nos na tua sonolência de cadáver inventado por um louco, perguntava-te se estavas bem, e respondias-me

Então, chegaram bem?

Que sim, que tudo não passava de um sonho, que tudo nunca tinha existido, que tudo

Então, chegaram bem?

Que tudo acorda quando os silêncios dos teus lábios me diziam

Estou mal, tenho dores, não consigo adormecer,

Me diziam, me obrigavam a acreditar nas palavras escritas na tua cama, oitocentos e trinta e cinco, para os matemáticos um belíssimo número, mas

Então, chegaram bem?

Mas para um poeta esse número significava uma perda, uma ausência de ti para comigo, imagino-te subir as escadas do sótão da saudade, imagino-te a pegar na minha mão e ir-mos ver os barcos ao porto de Luanda...

Então, chegaram bem?

(não te respondi, sentia-me agoniado, com fome, sem palavras para responder aos teus anseios..., pegava nos cigarros amorfos, acendia um e depois outro e mais outro... até que percebi que no corredor de acesso ao teu quarto, até que entendi a solidão, o amor enquanto esperava as lânguidas manhãs de Janeiro...)

E víamos os paquetes abraçados aos longínquos marinheiros com fardas de embriagados esqueletos procurando sexo, álcool... e drogas,

Os coqueiros, os treinos de Hóquei em patins, e sempre, e sempre a tua mão entrelaçada na minha mão de criança, da tua janela sentia o pulsar inconstante das tuas veias, do oitavo andar eu conseguia, não, aprendi a perceber as árvores em movimento, aprendi a ouvir os teus lamentos, aprendi a sentir a tua minha dor, contava a vezes que o metro de superfície,

Então, chegaram bem?

E olhavas-nos, e sei que choravas...





(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha- Alijó

Domingo, 16 de Fevereiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:44

04
Jan 14

foto de: A&M ART and Photos

 

enlouqueço como os ramos cansados da amoreira

evaporam-se no vento agreste que traz a tempestade de areia

vomita barcos e caravelas e mulheres de porcelana

belas às vezes... feias quando os charcos lamacentos do abismo estão sobre o mar...

mulheres que fogem das nuvens invisíveis dos doces torrões de açúcar

enlouqueço

vivo fingindo viver

e escrever fingindo que escrevo

não escrevendo...

… nada

absolutamente... nada

porque odeio as canetas de tinta permanente

 

porque deixei de guardar as velhas folhas em papel amarrotado...

velho

porque... queimei os dedos do teclado da máquina de escrever

ainda oiço os sons magoados das sílabas em sangue...

e enlouquecido... sinto-me um iceberg perdido na espuma tranquila do silêncio medo

procurando travessões longos de madeira firme

palavras

tristes palavras

das cadeiras da sala de jantar...

oiço e choro

perco-me não percebendo que do pavimento da paixão

acordam os laços de nylon dos mastros enferrujados.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 4 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:41

27
Dez 13

foto de: A&M ART and Photos

 

perdi-a sem saber que a tinha

dentro da minha mão despedaçada

enrolada nos meus finos dedos de arame farpado

perdi-a sem o saber

dentro das minhas veias habitavam os insectos da melancolia

três horas antes de adormecer

três vezes ao dia

a insónia invade-me entranhando-se nos meus olhos desnorteados

vagabundos

apaixonados...

e eu sem o perceber entro nas tempestades com sorrisos de mar

perdi-a e nunca mais a conseguirei encontrar no jardim do esquecimento

 

subi escadas

sentei-me em inúmeras varandas...

desci escadas

corri calçadas

tropecei... e caí sobre as lágrimas

perdi-a sem saber que a tinha

dentro da minha mão despedaçada

e uma sombra de mimo jaz na almofada do sonho morto

 

perdi-a

sem o saber

perdi-a de mim quando escrevia

palavras sem rosto

palavras

sílabas de nada

tristes madrugadas

perdi-a sem saber que a tinha

dentro

fora

na dupla esquina

de luz... como a luz dos holofotes dilacerados.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 27 de Dezembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:51

31
Out 13

foto de: A&M ART and Photos

 

havia suspiros na tua voz de chocolate

lanternas diurnas embrulhadas em finas mãos de silêncio

escrevem-se nas palavras dos teus braços

oiço as teclas dos teus dedos na máquina do meu corpo

onde te espera uma folha de tristeza para rasurares como uma tempestade envenenada

havia suspiros uivos nos teus doces lábios

e dos beijos amargos o poema envaidece-se

cresce

e torna-se homem

mulher

apaixonado

apaixonada

 

o amor morre como um esqueleto de vidro

amado

amada

desamada

desalmada

o amor desaparece dentro dos círculos verdes das marés de incenso

 

havia suspiros nos olhos dos crisântemos

sobre a térrea campa do desejo

na lápide uma límpida manhã ensonada conversando sobre esplanadas

rios como cemitérios de ferrugem

e barcos como mulheres ansiosas pela chegada dos corpulentos marinheiros do abismo

tínhamos uma algibeira recheada de geada

tínhamos no peito uma mísera envergonhada madrugada

húmida

comida pelo suor das palavras loucas

tínhamos no sexo uma fiada cinzenta de cinza

que sobejava dos tristes cigarros em papel crepe

havia suspiros nos olhos... e sempre que chovia ouvíamos os comboios suicidarem-se nos carris do sonho

 

o sonho morreu junto aos arbustos em Belém

o rio galgou as montanhas de gelo

e entrou na tua vida alimentando-a de ossos e pedaços de sombra

havia suspiros

lágrimas

desajeitadas mãos na face de um busto granítico...

 

havia suspiros de chapa doirada

nas sanzalas avenidas que sentíamos das janelas de verniz

tínhamos uma lareira em cada suspiro inventado no teu ventre

havia rosas vermelhas nos confins das tuas coxas

migalhas de xisto entranhavam-se nos teus seios borbulhantes

e nós que parecíamos crianças sem infância

brincávamos como bonecas de trapos

e folhas de mangueira

ouvíamos o pulsar garrido do cavalo branco

e sabia dos teus cabelos clandestinos

onde escondias o verdadeiro amor...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 31 de Outubro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:00

31
Mai 13

foto: A&M ART and Photos

 

(não foi por falta de tempo que ainda não escrevi sobre o teu corpo, mão porque o teu corpo seja desajeitado, não, porque ele é lindo, belo, desejado, não foi por falta de tempo, como os livros em fila de espera, como os textos em círculos dentro da minha cabeça, à espera de uma mão e de uma caneta, e claro, papel, não é por falta de tempo, mas confesso, que do teu corpo, sairá um dos mais belos textos, prometo, e não é, não foi, por, falta, de tempo, porque tempo, é certamente o que mais tenho...)

Não observava a luz natural desde que por decreto Real mandaram encerrar todas as janelas com vista para o mar, assim, deixamos de olhar os peixes em cardumes fingindo brincadeiras num qualquer jardim de uma aldeia encastrada na montanha bela adormecida, suas árvores diurnas caminhavam como pedras descendo ravinas, subindo escadas, galgando socalcos e olhando o Douro curvilíneo entre sombras e barcos imaginários, sentávamos-nos nas mãos flácidas dos pássaros negros com pintinhas brancas, recordavam-nos os velhos lençóis de areia que deixamos sobre a mesa da cozinha, quando também por decreto Real, tivemos de abandonar a cabana na margem direita da ribeira, pescávamos, às vezes, entre intervalos, entre palavras, oferecia-te um beijo, desenhava-te um abraço no teu corpo, aquele que espera pelas minhas palavras, que por falta de tempo, preguiça, quiçá... MEDO, ainda não o escrevi, sobre ele, olhando-o como se eu fosse o espelho de olhos verdes que te vê subindo as paredes do desejo, e esse belo corpo uma árvore semi-nua esperando o vento para se baloiçar nas cordas da manhã quando acorda, e as persianas do teu olhar, meias estonteantes, embriagadas pelo sono vernáculo que as palavras provocam no esqueleto feminino...

Tenho fome,

De ti?

Do medo, de olhar-te sem roupa e de não ser capaz de resistir à mais bela imagem a preto-e-branco, pendurada nas garras de um cortinado, velas parecendo lâmpadas, fósforos sobre o lava-loiças como silêncios em alumínio panelas, a sopa, o bacalhau esfriado, insosso, demolhado,

(apetecia-me um cigarro)

Invento nomes de objectos estranhos, lembro-me do hipercubo e de todas as histórias à sua volta, o porquê de ele ter nascido dentro de mim, das pessoas que me acompanharam, apadrinharam, coitadas delas, a paciência para me ouvirem sobre uma coisa quase estranha, mas real, lógica, geométrica, penso

Poderá o corpo nu ser um hipercubo?

E se

Penso, como serás quando todas as lâmpadas estiverem silenciadas, como as pessoas, de boca cerrada por um cortina de fogo, penso, como serás dentro das minhas mãos, quando eu, por uma mera suposição, manuseasse esse teu corpo de hipercubo, complexo, vagabundo no sentido poético, em desejo, eu,

E se, eu? E se eu transformar o teu corpo de hipercubo em flores com pétalas de papel, como as gaivotas, quando sobrevoam os teus seios...

Perceberás as minhas palavras, e dir-me-ás que sou louco, e dir-me-ás que já não queres, que eu, escreva sobre o teu corpo, o mesmo, aquele que é desejado e durante a noite se veste de hipercubo, sobe ao telhado e fica... assim, como eu, imune às imagens de marinheiros escrevendo nas paredes da madrugada...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:08

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