Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

20
Abr 14

a espuma em pálpebras de cianeto

o relógio suspenso entre o sono e a madrugada construída de esferas metálicas

a chuva miudinha entranha-se no corpo da serpente de chapa

enrola-se na sinfonia do teu olhar...

e descansa

dorme

e sonha com as sandálias do amanhecer

eu procuro-te na imensidão da escuridão nocturna do perfume

 

tu disfarçada de árvore e apenas em ti poisam gaivotas ensonadas

a espuma embainha-se nos teus seios floridos

há palavras inaudíveis no teu sorriso

há cansaços desgovernados vestidos de barcos

prostitutas com coração de marinheiro

e candeeiros em braços de lentidão

o amor fuma cigarros com poemas de cartão

e tu pareces a ponte iluminada da paixão

 

o amor é uma parvoíce

como todos os poemas que escrevo

como todas as palavras que grito...

a espuma é o teu corpo em pedaços de retracto

imagens simples

tristes

o amor é a noite desconexa

com olhos de naftaleno...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 20 de Abril de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:45

16
Fev 14

foto de: A&M ART and Photos

 

há silêncios nos teus olhos

existe uma mão que absorve as lágrimas dos teus olhos

tens cabelos semeados pelo vento que cerram os teus olhos

o medo que cruza os teus braços que aprisionam os teus olhos...

há silêncios nos teus olhos

há palavras que descrevem a cor dos teus olhos

imagens

negras

a noite

o dia

a morte... que brinca nos teus olhos

há silêncios de amor nos teus olhos

 

há silêncios de ciume nos teus olhos

searas campos montanhas árvores nuas

despidas cidades amargas ruas cansadas

que os teus olhos vêem e se calam como pedras silenciosas

há rios mares barcos e gaivotas

há desejo nos teus olhos

há corpos em cio que magoam os teus olhos

há madrugadas onde habitam os teus olhos

bares mesas de bares copos recheados de uísque em bares dos teus olhos...

jardins inclinados

tristes tristes como os teus olhos chorados

há seios que me esperam na criança dos teus olhos

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 16 de Fevereiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:18

11
Fev 14

foto de: A&M ART and Photos

 

A face oculta do silêncio entre quatro esquinas de paixão,

o sofrimento que cresce, que dorme... que alimenta o cansaço do triste Inverno,

as três pedras da literatura que habitam sobre ti como rios indomáveis, doentes...

como solidões prisioneiras nas árvores do medo,

a face da maré envenenada quando os peixes voam na cidade do inferno,

quando o vento bate na tua janela e cedo percebes que a madrugada não existe,

que ela não é mais do que uma sílaba tonta nos lábios de um homem de palha molhada,

que hoje me sinto tão cansado... que perdi a minha face na lareira do fim de tarde,

 

A face tua que me deixa nas penumbras luzes dos holofotes de areia,

a palavra não dita,

esquecida,

a palavra maldita que transportas na tua boca...

 

Que hoje, hoje pareço um farrapo mergulhado em fenol...

 

A face planície das gaivotas de porcelana,

às tuas mãos o distante caminho da esperança,

acreditas,

e fazes-me acreditar nos lençóis de amianto,

nas flores em papel crepe,

no orvalho,

e na geada envelhecida das noites sem poesia,

e o poema morre nos teus olhos de vidro...

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 10 de Fevereiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:02

09
Fev 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Sentia-me surpreendentemente minúsculo no colo dele, sentia-lhe o medo na ponta dos dedos, sentia-lhe a ofegante madrugada a entranhar-se nos seus olhos castanhos, sentia-me

E ele percebia as minhas tristes pálpebras desde que acordei da noite e nunca mais adormeci, e nunca mais sonhei, e nunca mais..., amei, porque

Sentia-me envergonhado de ser um menino em papel colorido com cabeça a preto-e-branco, sentia-me envergonhado porque sabia que o vento me vinha buscar, e que eu, eu não tinha coragem de pronunciar a palavra “Obrigado”, porque, porque percebia-se nas telhas do casebre que mais tarde ou mais cedo algo de triste

Triste?

Que algo de triste ia acontecer, e aconteceu, e... senti-me ténue nas mãos garras da gaivota sem nome, pediram-me a certidão de nascimento, acanhadamente respondi-lhes que não a tinha, que nunca a tive, porque

Sou,

Sentia-lhe o cheiro da naftalina nas roupas emagrecidas, e eu

Sou, sou um apátrida com dentes de marfim, e eu, eu sabia que morreria como um rio de encontro ao mar, que morreria como um barco encalhado num velho quintal de um velho bairro onde habitavam velhas casas, com velhas árvores, onde viviam velhos

Sou,

Pássaros como bolas de naftalina, como beijos prometidos e nunca dados, como beijos perdidos na avenida longínqua da saudade, e sentia-te sentir na minha mão os teus velhos lábios, os teus lábios inventados pelo batom encarnado, e de uma roulote ouviam-se-lhe os gritos da distância, no oitavo andar sentia-lhe os sons amorfos encurralados na janela de porcelana, ele chorava entre as linhas do velho, também ele, do velho

Caderno quadriculado?

Um lindo poema morre, e sou, sentia-lhe o cheiro da naftalina nas roupas emagrecidas, e eu conversava com as também velhas sombras de Deus, e de nada percebia, queríamos conversar e não tínhamos todas as palavras necessárias, Deus imaginava-me um louco vestido de andaime suspenso num oitavo andar da memória, Deus queria-me e eu sentia-lhe os sonoros melódicos suspiros do velho piano de cauda, um livro estava com febre, uma mão agachada no capim, tristemente agoniada... mão, não tinha força para se levantar, para gritar, para chamar os velhos pássaros que viviam nas velhas árvores no velho quintal,

Caderno quadriculado?

Sou,

Sou, sou um apátrida com dentes de marfim, e eu, eu sabia que morreria como um rio de encontro ao mar, que morreria como um barco encalhado num velho quintal de um velho bairro onde habitavam velhas casas, com velhas árvores, onde viviam velhos meninos, e que vestiam velhos calções e calçavam velhas sandálias... e nas mãos

Nas mãos velhos papagaios em papel pardo,

E nas mãos sentia-lhe o nome “pai”, e ele percebia o meu choro, as minhas lágrimas, como percebeu muito mais tarde o meu sonho...

 

 

(ficção – não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 9 de Fevereiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:10

foto de: A&M ART and Photos

 

Sinto-me uma gaivota embriagada em busca do barco adormecido,

um livro perdido,

na tua mão,

esquecido,

na tua mão,

cansada de amar,

sinto-me o volátil nocturno inferno das canções ensonadas,

o velho e eterno... triste coração das estrelas apaixonadas,

 

Triste Inverno,

sinto a madrugada construída numa folha em papel,

triste, triste, não amada,

triste, triste... como todas as vozes caladas,

silêncios desertos em bosques de areia,

uma veia de aveia,

uma veia... uma veia sentido-se como eu, uma gaivota embriagada,

à procura de um barco, à procura do céu.

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 9 de Fevereiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:49

07
Fev 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Hoje preciso de sorrir,

simplesmente... hoje, um simples olhar, como as pálpebras do silêncio entranhada nos teus olhos,

hoje sinto-me como uma gaivota apaixonada,

alegre,

não cansada, pelo contrário... cessaram os cansaços,

os... cessaram os triste segundos de tristeza...

hoje, hoje apenas um sorriso,

hoje... como ontem sentíamos os desejos em pequenos pedaços de papel...

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 7 de Fevereiro de2014

(só agora percebi que tenho andado a publicar poemas escritos em Fevereiro e coloco-lhes a data de Janeiro... coisas da vida)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:21

27
Jan 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Saturno nas tuas trémulas mãos de sede,

o infinito que habita nos teus olhos despede-se da maldição madrugada,

há um livro em desgraça,

uma fogueira inventada que consome a tua fúria no centro da praça,

há uma calçada com braços e mais nada,

e... e Saturno que teima em viver dentro de ti,

assim,

como vivem as plantas nos charcos das sanzalas de prata...

como tu desenhando cigarros de lata nos vidros da janela azul,

Saturno sempre nos teus lábios,

comendo Primaveras,

aos Sábados... em tristes sábios,

 

Saturno saturado da cidade,

da chuva,

do vento que teima em desabitar os teus cabelos das nuvens cinzentas...

Saturno é como as árvores que cobrem as tuas pálpebras de solidão,

e sempre que uma gaivota grita o teu nome em vão...

Saturno não se cala,

se revolta,

se revolta como os homens de uma canção,

Saturno nas tuas trémulas mãos de sede,

correndo cinzeiros,

escrevendo palavras no corredor da morte...

Saturno... Saturno sem sorte... sorte que nunca teve porque de feiticeiro nasceu o texto com beijos de avião...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 27 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:11

20
Jan 14

Foto: Ellestudio.net / Fabien Queloz photographi

 

Nesta vida de nada

que não me pertence porque amanhã sou apenas um grão de areia

vagueando pelas calçadas da cidade

nesta vida sem nada

caminho caminhando... procurando as palpitações das pálpebras embriagadas

e sinto-me pertencer aos mausoléus da saudade

e às janelas quebradas...

nesta vida há o nada e o alguém

que ama

que busca

que cresce... e morre também

nesta vida eu sou o quê? uma pedra um sapato pontiagudo ou uma enxada?

 

Nada não sou nada

nesta vida de ninguém

nesta triste vida de nada,

 

Eu sinto-me uma alma penada

um pedaço de papel ardendo nos teus seios

nesta vida de corpos circunflexos... e anexos... e nesta vida de equações lineares

em nada

sou o nada

e sinto-me uma pedra pesada

tão pesada como a penugem de uma gaivota

nesta vida malvada sou um crucifixo disfarçado de madrugada

uma lápide

ou uma dolorosa argila sofrendo nas mãos do pedreiro

que antes de uma vida de anda

foi mestre em culinária e barbeiro... e carpinteiro... poeta sofredor... e nada... nada de doutor.

 

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 20 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:22

12
Jan 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Não quero ser a lágrima inventada pelo teu putrefacto corpo

a palavra escrita na tua lápide de silêncio como uma gaivota em sofrimento

não quero ser o teu desejo inacabado

a porta encerrada do jazigo da tua minha loucura...

não quero as tuas cinzas embrulhadas em prata

numa urna calafetada

um cortinado chorando

não quero ser a estrada onde permaneces invisível

erva comestível... folha de jornal húmida das tempestades da paixão

não

não quero ser a chave do teu coração

a tua mão,

 

Não quero ser o teu corpo de porcelana

envenenado

com sabor a poema

não

não... não quero que tu me digas – Amo-te... quando eu não quero ser amado

não

não quero os teus cabelos

fecho os olhos quando imagino os teus lábios

e sinto no teu olhar a ravina até ao poço da desgraça

és a cidade empenhada

a pulseira sem nome no braço do condenado...

não,

 

Não quero ser o teu amado

prefiro um cadeado

um cão

um livro

mas não

não quero ser o que tu queres que eu seja

um doente mental

um quarto desabitado...

um punhal espetado

não

não o quero...

não,

 

Não o quero no meu peito

os beijos

as carícias

vestidas de milícias...

não... não... não... não te quero porque és uma migalha de pão sobre a pedra mesa da solidão

não te quero porque pertences às brancas montanhas dos alicates em aço.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 12 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:47

31
Dez 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Voo entre as espadas de sombra das paredes de gesso

oiço do vão de escada os uivos do lobo cinzento

talvez se sente

talvez... me espere

oiço-lhe na voz os silêncios do medo

os arrufos da solidão

do vão de escada... alcança-se o sótão das palavras

onde habita uma folha rasgada,

 

Uma frase suspensa no arame da paixão...

uma moeda de prata que roda sobre a mesa-de-cabeceira

voo e não dou conta dos ponteiros do velho relógio em direcção ao abismo

uma trégua... preciso urgentemente da trégua do sossego

uma amiga palavra

uma toalha envenenada

encharcada... como o éter embriagado depois das pétalas caírem sobre o mar

e a gaivota dos teus lábios acordar das marés esverdeadas,

 

Voo... entre as espadas... gesso

sinto-o como lâminas de espuma sobre o meu pescoço à deriva no Oceano do amor

voo e não voo.. vou depois de partir conhecer os túmulos secretos dos esqueletos em desejo

voo como uma gaivota sem asas

estonteante

doente...

fugindo da doce guilhotina dos dias sem Primavera

voo e voo até tombar como uma árvore sobre o jardim das despedidas...

 

Fingidas

sinto-o como sentia o sal dentro das minhas veias

cordas de nylon voavam como eu sobre a cidade dos delírios

despedidas...

porquê?

aceites somos palhaços de palha seca dormindo no centro da eira com vista para a torre da Igreja

e de fingidas

às... prometidas... prometidas espadas de sombra das paredes de gesso.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 31 de Dezembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:45

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