Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

17
Mai 11

O dia ainda a meio

E eu farto dele

Chove

Não chove

 

E sinto dentro de mim

O cansaço do dia

Que nunca mais termina

 

O dia ainda a meio

E nos meus braços silêncios

Os ossos em desassossego

Que esperam a noite

 

A noite longe

As horas suspensas na parede da sala

E na rua os pássaros contentes

Na rua chove

 

Não chove

Vai chovendo na minha janela

Sem vista para o mar…

E o mar tão longe

 

A noite longe

O dia ainda a meio

E eu farto dele

E eu pendurado na manhã ensopada

 

E eu sentado numa cadeira

A olhar o mar que espera por mim…

Sei que ele vem

Ele vem ter comigo quando a noite acordar.

 

 

Luís Fontinha

17 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:12

08
Mai 11

Sou um pássaro

Que vagueia nos teus lábios

E se deita na tua boca,

 

Quando o mar entra pela janela.

 

 

Luís Fontinha

8 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:47

30
Abr 11

Dentro de mim crescem poemas

Como os silvados da montanha

Rio que corre apressadamente

Entre os socalcos de xisto

 

Na humidade da madrugada.

Os poemas em mim

Saltitando de fresta em fresta

Ou adormecidos no espelho do guarda-fatos

 

À espera que a minha mão

Lhes dêem vida

Nos meus cansados braços

Quando me sento no parapeito da janela

 

E sem forças para me lançar

Voar.

Dentro de mim crescem poemas

Como os silvados da montanha

 

Ou as gaivotas à beira mar

Com a cabeça enterrada na areia

De asas estendidas ao vento

Esperando a chegada da maré.

 

 

Luís Fontinha

30 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:37

29
Abr 11

Ele triste e melancólico, ele e ela, ele deprimido quando o fim de tarde vem buscá-lo para jantar e jantar nenhum, hoje não jantar, três ovos e uma alface, um copo de água e de sobremesa um poema de Cesariny, podia ser pior, ele triste e melancólico à janela a ver passear o mar entre os candeeiros da rua, e do jantar fica a saudade do Mário, o eterno louco, o apaixonado Mário Cesariny.

- Porque poisam as gaivotas na minha mão…

Porque poisam as gaivotas na minha mão se eu sem mão, eu apenas entalado entre três ovos e uma alface, coisa pouca, coisa nenhuma, um miúdo acena-me da rua, ele e ela escondem-se nas ondas, e o mar junto aos candeeiros…, três ovos uma alface um copo de água e um poema do Mário, e o Mário pregado na parede ao lado de um crucifixo esquecido pela poeira da maré, quando sobre a janela poisa uma gaivota com cio, e a gaivota em gemidos abafados pela noite,

- porque poisam as gaivotas na minha mão.

Ele triste e melancólico, ele e ela, ele deprimido quando o fim de tarde vem buscá-lo para jantar e jantar nenhum, o relógio hoje encalhado nas oito horas, nem ata nem desata, tipo cordões de sapatos quando enrolados em beijos suspensos nos lábios, e os sapatos em corrida apressada rumo ao areal, o areal longe, o mar aqui, debaixo da minha janela, debaixo das gaivotas, à espera,

- porque poisam as gaivotas na minha mão,

E eu sem mão, ontem comi a minha mão, e ele e ela, ele sem jantar entalado entre três ovos uma alface um copo de água e um poema do Mário, e o Mário coitado, feliz, deitado, adormecido junto ao mar…

- Porque poisam as gaivotas na minha mão…

Um miúdo acena-me da rua, ele e ela escondem-se nas ondas, e o mar junto aos candeeiros, e o mar à minha espera para me engolir durante a noite e eu à espera do mar para me encontrar com o Mário Cesariny.

 

 

(texto ficção)

Luís Fontinha

29 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:55

28
Abr 11

Amor que se encosta à janela

Nos cortinados de renda púrpura

Os lábios da manhã à espera

Da minha boca em secura

 

Numa árvore o meu corpo pendurado

E nos meus ossos a brancura

Que do meu coração cansado

Despede-se a manhã com ternura.

 

 

Luís Fontinha

28 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:53

21
Abr 11

O crucifixo pendurado na parede do quarto olha-me como se eu fosse um criminoso, malfeitor, impostor, olha-me como se eu fosse uma sombra pendurada na ombreira da porta virada para o mar, o meu corpo sobre a cama com suspensão das funções vitais, dois quadros olham-me e trocem o nariz à minha cara de parvo, à minha cara de incredulidade porque da janela via o mar, e das duas uma, ou a janela estava ao lado da porta, ou,

- ou eu estou a ficar louco

Ou o mar dá a volta à minha casa, a minha casa dentro do mar, e por essa ordem eu conseguiria ver o mar da janela e ver o mar da porta, e a janela e a aporta, em sítios distintos, opostas uma à outra, e

- O crucifixo pendurado na parede do quarto olha-me

E eu detesto, não gosto, e eu fico muito chateado com o olhar de um crucifixo que sempre me lembro de ver naquela posição e que desde miúdo está ali pendurado como se fosse um retrato de um falecido, quando o mar me rodeia eu fico em silêncio, chamo as gaivotas à minha mão e na minha mão poisam cansaços da noite, e da noite

- dois quadros olham-me e trocem o nariz à minha cara de parvo, dois quadros e um crucifixo, e finalmente percebo que não estou só dentro da casa rodeada pelo mar, eu na companhia de três fantasmas pendurados na parede,

Eu chamo as gaivotas à minha mão, e na minha mão começa a acordar o sono, viro-me para o lado, lentamente fecho os olhos e espero, espero que o sono tome conta de mim.

 

 

(texto de ficção)

FLRF

21 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:40

20
Abr 11

Hoje nas lágrimas das nuvens

Vi os teus olhos que me chamavam

E dos teus lábios em silêncio

O sol espreitava-me

 

Como se eu fosse uma janela

Suspensa na fachada do meu corpo

Entreaberta sonâmbula na noite…

 

(Hoje nas lágrimas das nuvens

Vi os teus olhos adormecidos no meu peito)

 

Entreaberta e virada para o mar

As lágrimas das nuvens que me irritam

O sol quer brilhar…

Os pássaros nas amoreiras gritam

 

E as lágrimas das nuvens vieram para ficar.

 

 

FLRF

20 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:54

18
Abr 11

Que faço eu neste espaço exíguo e sem janela

Longe do mar

Que faço eu nesta terra

Sem flores para amar

 

Dos meus braços em angústia

Adormecerem-me as mãos convexas

Pintam-se-me os olhos na madrugada

À espera da manhã primavera

 

Que faço eu sem janela

Neste quarto angustiado

Sem vista para o mar

Cansado do silêncio da maré…

 

Que faço eu neste espaço exíguo e sem janela

Longe do mar

 

Longe da terra

 

Distante do meu jardim de malmequeres.

 

 

 

FLRF

18 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:03

14
Abr 11

Sobejam-me as tuas mãos nos meus ombros

O peso de perder-me na noite

Esquecer-me de dormir

Deitar-me rente ao chão

 

Sobejam-me sonhos que deixo sobre a mesinha de cabeceira

Ao lado de um livro por ler

Sem coragem de o desfolhar

Sem coragem de o comer

 

Sobeja-me a manhã que me chuta para o infinito

Como se eu fosse um condenado

Um simples vagabundo

Deitado rente ao soalho…

 

Sobejam-me as tuas mãos nos meus ombros

O peso de perder-me na noite

A dor de me esconder nas sombras da luz

Quando sobeja em mim a solidão

 

Sobeja de mim a tua mão

Nos meus ombros amarrotados à janela

Nos meus ombros escondidos

Na boca dos cortinados.

 

 

FLRF

14 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:41

10
Abr 11

Saberás perdoar-me quando o vento entrar pela janela, e na rua as ruínas, pedacinhos de ti vaguearem pelo pavimento e das tuas penas brancas silêncios de nada acordarem na madrugada, saberás perdoar-me quando a janela se fechar, quando nos vidros alguém escrever fim, e no soalho junto à praia o teu corpo esconder-se nas algas, enrolar-se nas sombras, e da maré, da maré acordar o monstro que sou eu, com asas, e uma cabeça de vidro, três pernas de madeira e braços de cetim…

- o mar espera-me junto à janela virada para a noite, e nas pernas sinto o medo de caminhar, estou cansada, vagueio pelo pavimento em pedacinhos de ti, das tuas mãos de madrepérola o meu rosto se sacia como um seixo junto à ribeira pronto a ser manuseado, e eu deitada no soalho junto à praia, quase no fim das horas, quando os segundos se esgotam na madrugada, e não fim, não mar, o recomeço da noite à espera de um novo dia, o teu cão impaciente com o luar, e tu,

Saberás perdoar-me quando o vento entrar pela janela, e na rua as ruínas, os caixotes do lixo atulhados à minha espera, e eu também lixo, encaixotado no contentor da saudade, também eu vagueio pelas ruas no trilho de uma janela aberta junto ao mar, olho os barcos que fazem amor no cais, amam-se, o corpo em suor coberto pela neblina, os lábios em fogo percorrendo cada milímetro quadrado do sexo à mercê de um desejo, os barcos enlouquecidos, os barcos esquecidos na noite, e pela janela chamas-me, envias-me um silêncio, e eu,

- e eu à espera que o cigarro se apague e o teu corpo poise nos meus braços, e eu à espera que nos teus lábios cresçam jasmins e na tua boca a janela para o mar, os barcos cansados, os corpos misturados com o sémen da noite, e eu à espera que o teu corpo entre dentro do meu, sorria quando um petroleiro entra na barra, e eu à espera,

E eu à espera que o cigarro se apague e o teu corpo poise nos meus braços, deitar-te na cama devagarinho, e na rua as ruínas, pedacinhos de ti vaguearem pelo pavimento, e eu à espera que a tua roupa comece a voar pela janela em direcção ao mar, e em ti o meu corpo à procura do teu, no divã é noite, os pássaros novamente pendurados nos teus braços, os corpos misturados com o sémen da noite, e eu à espera que o teu corpo entre dentro do meu, e a minha cabeça de vidro iluminada pelo luar…

- Saberás perdoar-me quando o vento entrar pela janela,

E a janela encerrada, fechado para obras, remodelação do nosso espaço comercial, seremos breves, pedimos desculpa pelo incómodo, saberás perdoar-me quando o vento entrar pela janela, e da minha mão de madrepérola uma rosa acariciará os teus lábios, os teus doces lábios…

 

 

(texto de ficção)

FLRF

10 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:41

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