Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

28
Set 15

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Fontinha – Setembro/2015

 

Atravesso esta cidade de olhos vendados,

Apenas tenho tempo para desenhar o cheiro das flores

E dos beijos que vagueiam nos jardins da infância,

Não tenho medo da noite

Nem das estrelas que brincam no meu cabelo…

Sinto as carruagens enferrujadas de um comboio descendo a Avenida,

Sentam-se junto a mim…

Puxamos de um cigarro,

E acreditamos no regresso das sanzalas

E dos musseques em finas placas de zinco,

Depois, depois vem o silêncio disfarçado de luar,

Não fuma, não bebe…

 

Apenas escreve nos nossos corpos…

Saudade,

 

E depois a saudade escrita

Transforma-se em homem,

Corre, brinca e sofre…

Até que a cidade dispara sobre ele uma bala envenenada…

 

E morre.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 28 de Setembro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:42

03
Set 15

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(Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)

 

Habito numa cidade de abutres,

Manhã cedo, ao acordar, percebo que sou apenas uma sombra misturada com outras sombras como eu,

Não sei se dormi, não sei se estive toda a noite a sonhar,

Perdi o cheiro do mar,

E a paisagem dos Oceanos de vidro,

Olho, olho para o Céu…

E todas as estrelas de papel… voam em direcção ao Luar,

Peço às abelhas entranhadas no mel, ajuda,

Desço a Calçada,

E Ajuda, não ajuda…

A regressar a noite aos meus braços pincelados de ferrugem,

E Ajuda, não ajuda… sobe um Cacilheiro a dita Calçada.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 3 de Setembro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:32

14
Ago 15

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(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

Sinto a voz dos teus medos

Entranhada no meu peito rochoso,

Pareço o mar

Cansado de sonhar,

E levo nos ombros os barcos do entardecer,

Quando me sinto triste, tão triste de não escrever,

Tão triste de não te amar…

Restam-me as tuas mãos invisíveis no meu rosto,

Em lágrimas,

Entre as sombras das flores desenhadas

No teu corpo negro que apenas consola a solidão,

Sou um homem esculpido no coração da noite,

Não tenho futuro,

Não tenho a ambição de dormir sobre as tuas coxas abraçadas ao vento,

Mas quero tocar no luar,

Atravessar a ponte sobre a cidade do teu quarto,

Onde habitas, como uma andorinha sem sítio para poisar,

Rochoso,

Deambulas na minha escuridão,

Sofres, e amas… todas as pedras da calçada,

Estátua,

Canção entre poeira e árvores caducas,

Em lágrimas,

“Entre as sombras das flores desenhadas

No teu corpo negro que apenas consola a solidão”,

Descalça, cansada do meu olhar,

Não tenho tempo para sofrer,

Nem chorar…

Sinto a voz dos teus medos

Entranhada no meu peito rochoso,

Espero o acordar do amanhecer,

Sentado em frente ao espelho…

Não vens,

Sei que nunca mais regressarás aos meus braços,

Como este poema rasgado

E lançado no abismo da paixão…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 14 de Agosto de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:15

04
Jun 15

Invento desenhos

Nas paredes negras do sonho,

Acorrento o sono aos socalcos inanimados da minha vida,

Procuro a cidade prometida,

E apenas encontro lápides em xisto

E ruas esverdeadas

Com sabor a lágrimas,

Invento desenhos

Nas paredes cinzentas dos teus lábios,

Escrevo palavras na tua pele artificial

Enquanto ainda há luar

E estrelas no céu para pintar,

 

Depois,

Olho-me no espelho da solidão,

Sou feliz sem ninguém…

Porque as pessoas à minha volta,

Irritam-me,

E sinto saudades do meu velho cão,

Sempre sorridente,

Sempre… em silêncio,

Olhava-me

E percebia nele as palavras que te escrevo,

Porque ele,

Nada me perguntava,

 

Apenas me olhava

E nada mais do que isso,

 

E nada mais do que isso…

 

Apenas me amava sem o saber.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 4 de Junho de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:25

21
Mai 15

Tumultuosos riscos de luz

Sobre a pedra adormecida do luar

Não há vento

Nem há mar,

 

Que alimente

Esta gente

Sem tecto

Sem… sem maré para abraçar,

 

E este triste barco

Fundeado no teu corpo de espuma,

Não há vento

Nem há mar,

E da bruma,

Apenas uma sombra entre palavras e cidades obscuras,

Deambulo nas desertas ruas

Que os teus lábios escondem,

 

Esta gente

Sem tecto

Sem… sem maré para abraçar,

 

E no entanto,

 

Ninguém o consegue parar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 21 de Maio de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:12

27
Mar 15

Tenho no corpo

o sentido proibido do silêncio

os ossos choram todas as madrugadas

das lágrimas

as palavras

e nas mãos o feitiço do amanhecer

querer

não quero

ser

sem o saber

a leveza insignificante dos meus braços

suspensos no sorriso do luar

não acredito

acreditar

nas nefastas sentinelas da noite

o amor camuflado

caminhando no capim

as pálpebras cinzentas

misturadas nos cigarros embriagados

que só o fumo consegue desenhar

no triste pavimento da sanzala

oiço a sombra da paixão

voando sobre os coqueiros

o papel colorido

inventando poemas

nas nuvens cortinas do meu aposento

os livros

os livros são como homens em cio

cansados

cansados das sílabas em flor

e do rio

onde adormece a ponte do desejo

não desejando

desejar

não desejando

desejar o perfume do mar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 27 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:16

16
Mar 15

A melodia nocturna da aventura

os esteios do silêncio abraçados ao cansaço

desespero

e espero

que acorde o dia

sem amargura

sem... sem cortinados de penumbra

baloiçando no pescoço da saudade

os cigarros entre as estrelas

os dedos mergulhados nos teus seios

acesos

em espuma

palavras

números

portas

e ruas

despidas

nuas

e sinto do outro lado do rio

os guindastes da solidão

voando como gaivotas

livres

como os barcos

sem marinheiros

sem...

acesos

os ossos em papel

das migalhas invisíveis do voo

o infinito

destino

das mãos

quando alguém desiste do luar

e sem... acesos

os ossos

o infinito destino

das mãos no leito do sono...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 16 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:22

13
Mar 15

No trajecto da insónia

um ponto embrulhado nas coordenadas do silêncio

percebe-se pelo movimento lento

que a parábola incendeia o pequeno quadrado

lá dentro o medo

viver ele

enquanto desenho na ardósia tarde

o significado das imagens nocturnas do prazer

o corpo é um pesadelo sem porto onde aportar

viver ele

no mar

e cansa-se do rasurado veneno que o vento semeou

 

a carta regressa

endereço insuficiente

ausente

talvez morto

talvez contente...

no mar

o luar pincelado de andorinhas marés

e ele

sempre ele

viver ele

e cansa-se

não o devia fazer

 

fugir

sem...

sem deixar um bilhete sobre a secretária

ou

ou apenas um traço no espelho embaciado da casa de banho

eu percebia

ausentou-se

foi-se

nunca mais voltará aos livros...

nunca mais acordarão as vozes das sílabas embriagadas

nos sonhos

da alvorada.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 13 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:56

11
Mar 15

Este sítio encalhado nos muros da solidão

que acorda dentro de mim

todos os dias

e dorme

comigo

todas as noites

este sítio embarcado

como sinfonias voando numa seara negra

junto à eira

olhando o silêncio luar

do corpo as desassossegadas imagens

entre parênteses

 

curvos

rectos

uniformes

disformes

molhados

às vezes

outras

sangrando lágrimas de nada

e tudo

ou...

o amor envenenado pelas ervas daninhas

ou...

 

imaginando flores em papel aprisionadas numa esquina

da cidade

a abarrotar de sombras

e sombras

e tudo

e nada

como as simples fotografias do prazer

na cama

sentado

ouvindo o pulsar do mar

brincando no corredor da saudade...

o carrossel infinito da infância.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 11 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:55

20
Fev 15

Desenho_A1_048.jpg

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Estes versos não têm destino,

imagino-me na penumbra saudade das arcadas em flor,

janelas prateadas,

com grades de nylon,

âncoras, barcos encalhados no meu peito,

o sal,

e a noite,

quando termina o calendário suspenso numa parede sem memória...

e o mar avança para mim como um cão faminto,

tão faminto como a própria sede,

a tranquila viagem nos confins da paixão,

como se alguém apagasse todos os candeeiros da cidade,

e todas as sombras do luar,

amanhã estes versos...

num mísero caixote perfumado,

com corações de areia húmida,

e nem assim conseguem acordar as jangadas de silêncio

que vivem enclausuradas numa rua sem nome,

nem idade...

estes

versos

não

têm destino...

ou estória.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2015

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:26

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