Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

11
Jan 15

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Esse teu corpo de luz

algures no espaço da solidão

ouvindo as lágrimas sem nome

que anoitecem na minha mão

esse teu corpo de vulcão

descendo a montanha do vento

depois... alicerça-se nas árvores negras da tua boca

sílabas estonteantes

e loucas

na ardósia tarde da melancolia

a eira em ferida

o trigo em chamas

salivadas pelo silêncio das palavras

e das vergonhosas gaivotas sem asas

esse teu corpo de luz

dançando na alvorada meus lábios

demoradamente sós...

perdidas

esquecidas

mortas...

como todos os corpos de luz

como todas as palavras...

murmuradas

… e amadas.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 11 de Janeiro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:47

10
Jan 15

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Esta noite desconhecida

quando há palavras que se entranham no meu peito

estas veias onde correm avenidas

e gajos sem jeito

e néones travestidos de solidão

esta noite

a tua noite

sem janelas

sem... sem entardecer

e no entanto

sou laminado pelos teus lábios

incandescentes

 

a arder...

 

esta noite

vou voar no teu silêncio

(se ainda existir em ti silêncio)

caminhar na neblina

como se eu fosse um fio de luz

em translação

as cinco primeiras pedras do amanhecer

cinco apenas

nas palavras estonteantes

mergulhadas em cubos de gelo

e...

e... cabanas de porcelana.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 10 de Janeiro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:56

11
Dez 14

Na prisão do “Adeus”

velhas flores são torturadas pelo silêncio da luz,

não existem janelas, não existe uma porta,

frestas,

ou... ou literatura,

lá fora, na rua,

ouvem-se os gritos dos pássaros e das abelhas,

há um subscrito negro onde alguém escreveu...

“para a morte”

as velhas flores não precisam de saber qual é o significado da morte,

elas são velhas flores torturadas...

pelo silêncio da luz,

(e a morte é o anoitecer de cheiros e sons

que só as velhas flores conseguem desenhar

nas húmidas paredes da prisão do “Adeus”)

na prisão do “Adeus”

velhas flores são torturadas pelo silêncio da luz,

não existem janelas, não existe uma porta,

frestas,

ou pedaço de areia com sabor a mar...

e as grades de ferro transformam-se em madrugada vestida de branco.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 11 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:01

06
Dez 14

Há feridas invisíveis no teu sorriso

que nem o espelho da saudade consegue desenhar,

pareces uma fotografia embalsamada,

sem alma...

esquecida num qualquer lugar,

há feridas invisíveis...

e crateras de espuma

que só as tuas pálpebras alicerçam às meticulosas palavras sem destino,

 

em ti o menino vestido de preia-mar

que corre e correr... e corre sem se cansar,

em ti e de ti...

as feridas entristecidas dos biombos nocturnos da vaidade,

 

esta cidade,

o teu corpo vagueando no sexo da paixão

como um cadáver enraivecido... fundeado no rio sombreado pelo incenso...

uma carta sem destino que te bate à porta,

um carro preguiçoso em tristes aventuras,

há feridas invisíveis no teu sorriso

que os cigarros da despedida alimentam,

mas... mas no teu olhar cessaram as lágrimas de chocolate,

 

em ti

e de ti...

 

a mentira do silêncio embrulhada na portaria

de pequeníssimos fios de luz,

o teu livro preferido que arde... enquanto se extingue o dia,

dentro dos teus seios,

 

em ti

e de ti...

 

o cansaço abstracto das montanhas de papel,

os rochedos envenenados pela noite dos marinheiros

e que tu não entendes os seus medos

e inquietações,

não me ouves... porque a minha voz pertence ao cacimbo

e do cacimbo emerge como uma lâmina de sangue,

em veias de nylon

ao deitar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 6 de Dezembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:35

04
Ago 14

Saber amar-te… é não perceber a razão de existir,

É mais fácil resolver uma equação diferencial… do que saber amar-te,

Escrever-te sabendo que nada lês do que escrevo,

Porque não tens tempo, porque pertences ao grupo que me apelida de louco…

Um coitadinho, um coitadinho que se julga poeta,

Pois eu não sou poeta, pois eu não sou escritor,

Pois eu… ai como eu gostava de saber amar-te…

Eu não sou artista, não sou nada,

Sou um que vagueia nas ruas inventadas por um louco igual a mim,

Julgava que era porta,

Dizia-se escritor, artista…

E… e morreu num banco de jardim,

 

Como eu vou morrer,

 

Saber amar-te sabendo que o amor é um círculo de luz,

Um espelho sombreado quando desce a noite sobre os teus seios,

Saber amar-te eu gostava, esforço-me… mas… mas a vida é uma vaidade,

E o amar… e o amar pertence ao amava,

Esforço-me, esforço-me como se eu fosse um rio abraçado ao mar,

Enrolados, todos nós, eu o rio e o mar… enrolados ao teu sorriso,

E no entanto,

Não sei amar-te,

Nem por palavras,

Nem por desenhos…

E eu, e eu que não sou poeta,

Nem artista… como vou morrer,

 

Morrendo… sem o saber; amar-te!

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 4 de Agosto de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:13

12
Jun 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Não acredito nos teus cabelos, são voláteis, são versos de amor encurralados numa vidraça estilhaçada,

 

Um dia, qualquer dia, todas as árvores do meu jardim se transformarão em desejo,

das suas folhas, cairão palavras,

coisas,

pedras,

cabelos, vidraças... todas... estilhaçadas,

 

Todas perfumadas,

não acredito, e tenho medo à noite vestida de insónia,

todas elas, todas mesmo..., um dia, qualquer dia..., cairão na tua mão,

como granizo envenenado pelo silêncio dos teus beijos,

como barcos defuntos no cemitério do prazer,

 

Não acredito nos teus cabelos,

e quando sinto a presença do teu corpo, percebo que não existe corpo,

apenas uma montanha de sombras,

apenas..., e nada mais do que isso, porque, porque tu nunca tiveste corpo,

porque..., porque tu não existes!

 

Se não existes,

se não tens corpo...

como poderás ter beijos em silêncio..., como?

 

Ah... e a tua boca?

Sem palavras, sem lábios, sem... sem comestíveis corações de papel,

ao jantar,

uma colher de sopa misturada com algumas insignificantes carícias...

e..., e uma flor semeada no teu ventre de cristal,

 

(Não acredito nos teus cabelos, são voláteis, são versos de amor encurralados numa vidraça estilhaçada)

 

Tínhamos cartas que os anos 90 engoliram numa tarde de Agosto,

nas folhas apenas alguns desenhos,

um alucinante odor a paixão,

e..., e tudo se perdeu, e tudo... tudo mesmo, morreu numa noite de Novembro...

Viva a solidão! Viva esta vida sem vida... Viva, vivendo, sem cartas com odor a “paixão”,

 

(ouvem-se sílabas de areias no teu olhar)

 

E a luz da minha biblioteca, ténue como as minhas mãos, despede-se de mim com um sorriso de incenso.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 12 de Junho de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:06

25
Abr 14

vivo fingindo viver

procurando o que já morreu

inventando palavras que nunca tive a coragem de escrever

vivo esperando o amanhecer

que da madrugada cresçam lábios de cereja

e pedacinhos de papel com barquinhos desenhados

vivo debaixo da sanzala encarnada

olho o Sol e sinto a tua pele misturada com imaginados sorrisos

de prata

cachimbos mergulham e acreditam que

vivendo fingindo viver...

um dia

 

um dia vou regressar ao quintal recheado de mangueiras

com sombras estrelares

fingindo

correndo...

amando os velhos telhados de luz

como amo o fingimento de fingir que vivo

 

vivo fingindo viver

nesta jangada de silêncio

com velas de pano

viver viver viver...

não sabendo o significado do amor

amando fingindo que amo

sou um marinheiro esquecido no Oceano

procurando

inventando...

dormindo nas esplanadas que habitam no Tejo

recordando muros amarelos

porque fingindo viver... não vivo... não vivo esta vida de corpos em mármore.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 25 de Abril de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:03

13
Mar 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Tens nos teus doces lábios o labirinto pavimentado do desejo,

há no teu olhar uma caravela de paixão,

beijos, lágrimas que só a madrugada consegue construir,

tens em ti o sofrimento pincelado de amanhecer, como os peixes e os pássaros magoados,

há na tua boca o cansado silêncio,

e às vezes, tão poucas... sinto nas tuas mãos o vibrar da noite,

 

Uma mulher de pálpebras cerradas a gritar por ti, sofre, sente os teus dedos no distante luar,

uma estrela que deixou de brilhar,

a música que cessou e nunca mais se ouviu dentro dos teus seios entre palavras e sonhos de sonhar,

desenhos, rabiscos de luzes em voos nocturnos, ausentes da cidade,

e a cidade vive nas tuas veias de cenário envelhecido, longe, longe do pôr-do-sol,

… longe... longe dos teus doces lábios em pedaços de labirinto pavimentado do desejo...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 13 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:04

19
Fev 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Sabíamos que a noite pertencia aos pilares de areia,

tínhamos nos nossos corações pedaços de papel,

algumas palavras incompreendidas,

palavras... palavras tristes, palavras magoadas,

e versos em construção no interior das nossas veias,

 

Sabíamos que existia o amanhecer,

que éramos só nós os únicos habitantes da cidade da solidão,

sabíamos que o mar nunca, que o mar nunca nos ia pertencer,

e mesmo assim, desconhecendo a madrugada e mesmo assim... sonhávamos,

como cigarros a arder,

 

Sabíamos que em todas as igrejas do nosso corpo poeirento uma nuvem de lágrimas brincava,

que nas nossas mãos existiam palavras e palavras magoadas,

corríamos como comboios desgovernados de encontro às portas do inferno,

tanto, tanto, tanto... tanto sofrimento no tecto do luar, tanto, tanto calor nos lençóis da esperança,

que um dia descobri que não te amava,

 

Tínhamos imagens negras suspensas nas paredes de gesso do nosso imaginário,

brincávamos às escondidas,

escrevíamos palavras, palavras magoadas, palavras tristes, palavras nuas das Cinderelas palavras,

palavras entre palavras,

… nas tuas palavras em mim corpo de geada procurando o busto lendário,

 

Pedaços de papel,

abelhas que desenhavam o céu nos nossos braços picados por... palavras magoadas,

e sonhávamos,

e... e tínhamos nas pálpebras coloridas do incenso os cristais do amor,

e sabíamos e tínhamos... e queríamos fugir para o infinito como duas rectas paralelas em alegre pastel, havia uma tela, uma velha tela... com sabor a mel.

 

(e a tela da vida arde como ardem os livros de poesia dentro do teu e do meu e deles... corpos de gel perdidos numa esquina de luz)

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 19 de Fevereiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:59

02
Fev 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Círculos, círculos de ténue luz sobre os teus olhos cinzentos,

lá fora ouve-se o granizo comendo os sonhos daqueles que dormem, e saltitam sobre as nuvens de vento,

lá fora há pálpebras que choram,

automóveis que se recusam a andar,

suspendem-se nas canadianas, procuram de vez em quando uma bengala de verniz...

lá fora tudo parece ser feliz, as plantas argumentam nas palavras os distintos sons dos teus lábios,

círculos,

quadrados,

quarta-feira... a luz inverna e todos os silêncios ancorados a ti,

tu, quem és?

tu... tu o que fazes junto a mim quando me olho no espelho, quando descrevo as nódoas do meu rosto por meia dúzia de palavras, tão poucas... mínimas... que apenas pronuncio... “ausência e dor”,

e círculos..., círculos viciados em sexo e drogas, deitados na relva do pôr-do-sol,

e... e círculos, círculos de ténue luz sobre os teus olhos cinzentos.

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 2 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:46

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