Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

12
Jul 11

Odeio o mar

Quando cabeceia contra a maré

E um finíssimo pingo de cabelo

Enrolado nos peixes

 

Os bracinhos pregados ao corpo

As barbatanas de asas

Suspensas nas rochas de areia

E dos lábios desprende-se um Ai…

 

Que no silêncio do fundo do mar

Finge-se de sombra

Pétala abandonada de rosa vadia

Sem casa para morar

 

Nem porto onde atracar

Odeio o mar

Quando cabeceia contra a maré

E a minha mão se afoga como um corpo desiludido

 

Com as teias de aranha

Cansado das ruas da cidade

Como um corpo sem fé

Quando o mar cabeceia contra a maré…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:55

30
Abr 11

Dentro de mim crescem poemas

Como os silvados da montanha

Rio que corre apressadamente

Entre os socalcos de xisto

 

Na humidade da madrugada.

Os poemas em mim

Saltitando de fresta em fresta

Ou adormecidos no espelho do guarda-fatos

 

À espera que a minha mão

Lhes dêem vida

Nos meus cansados braços

Quando me sento no parapeito da janela

 

E sem forças para me lançar

Voar.

Dentro de mim crescem poemas

Como os silvados da montanha

 

Ou as gaivotas à beira mar

Com a cabeça enterrada na areia

De asas estendidas ao vento

Esperando a chegada da maré.

 

 

Luís Fontinha

30 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:37

24
Abr 11

Tenho medo de perder-te

Na esquina de uma rua

Tenho medo

Do mar quando se revolta

 

E o teu sorriso suspenso nas ondas

Junto ao cais que me viu partir

Ontem

Eu criança enrolado nas mãos do vento

 

Procurava o teu corpo que brincava na água

E hoje não

Hoje não água

Hoje apenas o silêncio prisioneiro da maré

 

À minha espera no pôr-do-sol

À espera de uma criança

Enrolado nas mãos do vento

Com medo de perder-te…

 

Com medo de acordar

E nos teus olhos as lágrimas

Que aos teus lábios transporta

A revolta do mar.

 

 

FLRF

24 de Abril de 2011

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:17

12
Abr 11

Enquanto o teu sorriso

Se ausenta de mim

Escrevo na claridade da ribeira

Entre a montanha dos teus seios

 

E as conchas das tuas coxas

Entaladas nos socalcos

O xisto vem a mim meu corpo em voos elípticos

Vagueando tenazmente na madrugada

 

E deixo para outro dia o teu sorriso

No luar que acorda dele em suspenso…

Porque na vida sem alegria

O meu corpo vagabundo

 

Se afunda na espera do teu sorriso

Se ausenta de mim

Procura na minha sombra

As sombras dos teus lábios

 

Os feitiços da primavera

Gaivotas em suspenso

Andorinhas empalhadas na maré

Esperam o teu sorriso ausente…

 

 

 

FLRF

12 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:20

09
Abr 11

Eu pescador

Sem corpo para habitar

Sonâmbulo do movimento rectilíneo uniformemente acelerado

À procura dos duzentos e seis ossos junto à maré

 

E a maré

Um chuto no cu

Manda-me trabalhar

Eu pescador

 

Sem embarcação

Sem barco para atracar

 

Eu pescador

Ateu e dissidente de esquerda

Preciso já

É urgente ter um cadáver

 

Um corpo para brincar

Um sorriso onde me agarrar

Uma rede para lançar ao mar…

E a maré

 

Eu pescador

Sem corpo para habitar

Sem deus para me zangar

E chamar-lhe nomes feios

 

E atirar-lhe com os meus duzentos e seis ossos às fuças

Desenhar-lhe caretas na areia

Fazer-lhe festinhas nas trombas…

Eu pescador

 

Eu pescador perdido junto ao mar

Abandonado por deus

Com duzentos e seis ossos e alguns em bom estado

Com duzentos e seis ossos para penhorar…

 

 

FLRF

9 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:58

08
Abr 11

Os barcos enrolam-se no meu corpo

Sinto o peso da água

No fundo do oceano

Os barcos agarram-se às minhas mãos

E puxam-me

E não me deixam respirar

 

O meu corpo aos poucos

Não corpo

Um barco afundado

Nas sombras da noite

 

Um barco eu

Sem leme

Um barco eu

Sem velas

 

Preciso de gritar

Deixei de ter garganta

Nem guelras…

E na boca circulam-me safiras

Coxas de mulheres com cio…

À espera do desejo de um crucifixo pendurado na maré

 

Há peixe frito

Com feijão-frade

Pataniscas…

E outra merda qualquer

 

Não me apetece comer

Os barcos enrolam-se no meu corpo

Sinto o peso da água

Sinto a corda que me esgana

 

E me Sufoca na multidão

Atiram-me com pedras

Levo com os vapores de nafta

Nos olhos que aos poucos se enterram junto ao cais

 

O meu corpo aos poucos

Não corpo

Um barco afundado

Nas sombras da noite

 

E a corda pronta para me suicidar

À minha espera pendurada no silêncio

Os barcos enrolam-se no meu corpo

Sinto o peso da água

No fundo do oceano

À espera do desejo de um crucifixo pendurado na maré.

 

 

FLRF

8 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:46

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