Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

12
Mar 19

O cachimbo suicida-se nas mãos do poeta.

Era noite, caminhava pelos trilhos que a geada tinha desenhado, e na mão, o caderno embalsamado pelas palavras da morte, tinha medo do escuro, tinha medo dos versos envenenados pelo luar, e mesmo assim, caminhava, caminhava,

O cachimbo embrulhado em metástases desesperadas pela fadiga do corpo, do fígado saía o camuflado texto das palavras inventadas pelas crianças da aldeia, às vezes, poucas, tinha fome, e

Fumas?

E, fumava desalmadamente até o nascer do Sol, poisava a caneta sobre a mesa-de-cabeceira, atirava o caderno contra o espelho, sonhava;

Sonhava!

O cabelo que outrora lhe tinha pertencido, fugiu para a praia mais distante, ficando ele, apenas com o usufruto do rio, uma enxada, rangia lá longe, nos socalcos, e, o cachimbo

Sonhava!

E, o cachimbo de mão dada com o caderno, como o amor de duas flores, uma roseira e um craveiro, uma sombra de luz poisava na boquilha, marinheiro agreste dos oceanos enlouquecidos, o falso milagre,

Sonhava…

E, suicidou-se na minha mão.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12/03/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:30

15
Jul 18

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 Sons do Parque Alijó 2018

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:25

30
Mar 18

As sanzalas de vidro,

O silêncio suspenso nas sanzalas de vidro quando a manhã se suicida contra os rochedos do medo,

Os musseques que brotam sangue, os musseques que dormem na tua mão, meu amor,

São palavras escritas no vento,

Na despedida do sofrimento.

As maçãs da madrugada sobre as pálpebras do cansaço, digo-o enquanto habita no teu corpo uma serpente de aço,

As ratazanas que brincam com os meninos nas sanzalas de vidro,

O pequeno-almoço penhorado pelas Finanças, e lá fora a tua sombra encurralada nos livros,

Assim, como quem esquece a vida,

Ou se esquece da vida, como tu, meu amor, como tu…

Silabas tenho-as quantas quero, guardadas nos meus braços, no longínquo ângulo recto, o tecto da noite empobrecido, como eu, como tu.

As sanzalas de vidro, meu amor, os pequenos trapos das bonecas de areia que o mar alimenta, e há sempre um barco entre nós.

E há sempre um poema em nós, meu amor,

As pedras,

As pedras assassinas descendo a montanha,

O sigilo bancário nas barbas das Finanças, o horror, o terror, a torrente aventura de partir para o teu colo, meu amor, telegrama insignificante; STOP. MORREU. STOP.

E que sim, que fugia das cavernas que habitavam as sanzalas de vidro,

A chuva que não cai, a chuva que cai, o trémulo beijo no leite da manhã,

A literatura, tua, na minha cama,

Adormecida, cansada,

E desperto ao som de um velho relógio com engrenagens MADE in CHINA…

STOP.

MORTE. STOP.

Nas sanzalas de vidro.

Há caracóis, cerveja choca, poesia embriagada…

Dia,

A noite,

Na despedida da MORTE. STOP.

Encerro a luz, ficam tristes as sanzalas de vidro,

E mesmo assim, desenho-as nos teus lábios.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 30 de Março de 2018

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:37

08
Jul 17

Uma caneta cravada no peito,

Jorram palavras amargas das veias do poeta,

O homem suicidado deita-se no chão firme junto ao mar…

Uma árvore cintila no vento invisível da noite,

A morte,

O homem suicidado sorri das flores sobre o seu corpo,

A cada dia, uma amoreira dorme,

Sonha…

Inventa desenhos no silêncio da escuridão,

A viagem renasce ao nascer do Sol,

A aventura de galgar os rochedos da solidão,

Adormecidos os corpos nos fósforos da miséria…

O poema grita,

Chora…

Uma caneta cravada no peito do artista,

O fim aproxima-se enquanto lá fora uma criança brinca…

E chora,

O poeta grita…

E morre na tua mão.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 8 de Julho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:10

26
Mar 15

Engano-me nos teus olhos

Pareço um espelho confuso

Desfocado como os decenários da saudade

(perdi-me porra)

Sei lá agora

Meu amor

Se existes

Pareces

Uma lâmina de sémen baloiçando no teu peito

Amanhã

Meu amor

Caminharemos sobre o desejado orgasmo

(literário)

Pensavam o quê?

Engano-me nos teus olhos

Como se enganam os automobilistas de óculos escuros

Os escravos do sonho

As drageias congeladas no coração da minha flor

O caixão prateado

Amanhã

Saberei…

O quê?

Aldeia

Gajas boas

Lanternas radioactivas

Um disparo

Contra a morte

A “puta” sempre só

E mesmo assim

Percebo-a… como percebo os teus caprichos.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 25 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:00

05
Mar 15

Tenho na sombra do sono

um pilar de areia

uma casa em ruínas

sem telhado

sem braços

sem cabeça

tenho na sombra do sono

o cansaço das palavras

o sorriso do poema

enquanto o poeta gagueja

sofre

e sofre

 

(sem braços

sem cabeça

sem telhado)

os olhos da serpente

fingindo corações de luz

como charcos de lama

sapateando junto ao mar

e eu

na sombra do sono...

inventado papéis de amar

comestíveis

ao pequeno-almoço

 

(sem braços

sem cabeça

sem telhado)

este poema disparado

pela mão do sofrimento

levanto-me da insónia

pensando que já acordou o dia

levanto-me do dia...

acreditando que já é noite

escura

húmida

e vagabunda...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 5 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:36

20
Jan 15

Esta paixão não arde

não termina

não existe,

 

e teima em suicidar-se...

 

ausente

sinto-me

árvore

pássaro doente

sinfonia

caixão...

melodia enfaixada nas palavras do Adeus

não pensa

e não quer

beijar o mar

como se o mar fosse os lábios de uma mulher

sem nome

 

e teima em suicidar-se...

 

o poema

o poeta

e todas as flores do jardim de pedra.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 20 de Janeiro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:01

26
Nov 14

A mecânica do esqueleto de pedra

em movimento uniformemente acelerado,

no abismo das amendoeiras enlouquecidas

adormece um sorriso cansado,

triste,

porque habitam nos lábios de uma gaivota os desenhos embriagados,

a mecânica...

do sexo quando emerge das sílabas tontas o orgasmo da palavra,

deita-se na fina folha de papel não escrita,

branca como o silêncio... como o silêncio da mecânica...

que grita,

e chora nas encostas perdidas,

na montanha do Adeus,

brincam as crianças das planícies nocturnas do infinito,

descobrem o beijo num qualquer espelho sem nome,

e a cidade entra em ebulição quando uma janela se alimenta do cortinado colorido,

a mecânica... não sabe o que é o amor,

a física quântica alicerça-se ao esqueleto de pedra,

e as mandíbulas ínfimas de espuma...

correm nas veias do poeta,

tenho no meu quarto um veleiro ensonado,

sem bandeira,

sem... sem Nacionalidade,

como a saudade...

sempre desalinhada com os carris invisíveis da paixão.

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 26 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:19

16
Nov 14

as migalhas são pedaços de inveja

da miserabilidade dos enlatados caixões de porcelana

há sempre uma janela não encerrada...

há sempre uma porta sem saída

não iluminada

há sempre uma rua finíssima

tão fina como as fatias de poesia

que o poeta deixa num banco de jardim.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 16 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:41

03
Nov 14

Pindéricos esqueletos sobrevoando o pólen embriagado

marinheiros raquíticos encostados ao mar salgado

esta vida de sangue entranhada nas mandíbulas da cidade

este vento envergonhado que se enforca nos meus abraços

os sinos da ferrugem engatados numa ruela quadriculada

a tarde que se afunda

e mata

nos estilhaços de uma espingarda

as mulheres procurando carícias debaixo das palmeiras

um poeta encardido

sentado numa cadeira...

e ninguém... e ninguém olha a ponte de nylon com cabeça de xisto,

 

O poeta enlouquece

e transforma-se em pedacinho de poeira

não escreve porque lhe falta a esplanada de Belém...

cerra hermeticamente os olhos de areia

e... e ninguém...

e ninguém olha a ponte de nylon

que o rio embala nas noites de neblina

os pindéricos esqueletos consumindo vodka falsificado...

os apitos de um drogado

quando os carris de aço desaguam em Cais do Sodré

e o magala desgovernado

tomba... tomba suavemente no pavimento florido,

 

O céu em chamas dançando nas espinhas do almoço

o guardanapo esbranquiçado poisado sobre o clitóris da esperança

gemem as sílabas nas ruínas que a tua voz devastou

canso-me das marés

e desta cidade sem escala

não encontro o fim do sacrifício

que o poema me obriga...

cambalhotas e palhaços encerrados numa tenda clandestina...

solto-me

e grito

e saltito...

como o encharcado luar no centro da tempestade...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 3 de Novembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:46

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