Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

02
Ago 17

Perguntei ao flamingo se reconhecia a minha voz,

Escrevi-lhe bilhetes de infância sonorizados com nuvens envergonhadas,

Senti nele a tristeza das horas junto ao rio,

Permiti-me abraçá-lo, permiti-me acariciá-lo…

E daí nasceu um poema, palavras dispersas na madrugada por nascer,

Morreram os poemas, morreram as palavras…

Morreram os flamingos amigos do flamingo,

E, e eu fiquei só,

Tão só como as noites de Inverno.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 2 de Agosto de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:23

24
Jul 17

Parto feliz.

Deixo tudo nas tuas mãos, os velhos papeis, os livros… e a minha sombra.

Para onde vou, nada disso necessito…, apenas preciso de paz.

A fuga, depois da alvorada… para além do rio,

Uma caravela com velas de sonho,

Um pedacinho de solidão…

E lá vou eu, eu, feliz…

Parto feliz.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24 de Julho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:34

19
Jun 17

Por uma vida melhor,

Partir sem nada dizer,

Caminhar sobre a sombra do teu corpo,

Quando o mar se suicida contra os rochedos da inocência,

 

Por uma vida melhor,

Sentar-me junto ao rio,

Percorrer as ruas desertas de um livro…

De um livro acabado de morrer,

 

Por uma vida melhor!

 

Deixar-me desfalecer nas avenidas transparentes do infinito.

 

Por uma vida melhor…

 

Deixar de respirar,

Fugir para a montanha…

Ser pássaro sepultado na planície…

Por uma vida melhor,

 

Adormecer no teu colo.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 19 de Junho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:58

15
Jun 17

Embrulho-me no fumo dos meus pobres cigarros,

Um cobertor obscuro de silêncio evapora-se no meu quarto… e rumo à janela desaparece no rio das pontes invisíveis,

Sinto o orvalho clandestino e secreto do teu sorriso,

Os barcos ancoram nos teus braços de silício…

E tenho medo de perder-te na escuridão do deserto,

 

A falência dos meus órgãos começa em cada Primavera,

E a vida é um destino longínquo de sofrimento…

Junto às tangerinas,

 

Morro na tentação de me evadir deste presídio abandonado,

 

Junto à janela,

 

Sentado na tua solidão.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 15 de Junho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:52

12
Jun 17

Na arte de sofrer,

Quando dentro de mim arde um corpo esquelético, e sem o saber,

Ele ilumina a noite que se cansou de crescer,

 

Tenho nas raízes solares a vontade de partir…

Caminhar naquele rio absorvente

Que engole todos os corações,

Tenho nas mãos o sangue valente

Das marés e dos canhões…

Que me obrigam a sorrir,

 

Na arte de sofrer,

Deixo para ti o prazer…

O prazer de escrever,

 

No prazer de morrer.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12 de Junho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:12

10
Jun 17

No desastre dos meus braços naufraga uma barcaça imperfeita,

Um número esquisito suspenso na ardósia da tarde,

O mar está calmo, meu amor,

Tão calmo que podia suicidar-me nele sem ser percebido pelos seus lábios,

Dormir até à próxima maré de solidão que se enrola no meu corpo,

Um ninho de pássaros nunca visto por mim

Vive no meu jardim,

Cantam, brincam… e cagam todo o pavimento…

Mas gosto deles como gosto do teu sorriso na mácula presença de “Deus”,

Um abraço, o desenlace florido dos canteiros, sabes, meu amor, amanhã não haverá flores nos teus cabelos,

E a Madame sem nome entre gritos histéricos ao pôr-do-sol…

 

Salva-me, salva-me meu amor deste cansaço provisório que escreve nas minhas mãos os “poemas perdidos”, os poemas que ninguém lê e não gosta.

No desastre dos meus braços naufraga uma barcaça imperfeita,

E não saberei se estarás cá quando eu partir,

Detesto despedidas, meu amor, junto ao Tejo…

 

O cheiro dos barcos.

 

O perfume das gaivotas em revolta,

Que dormem junto à minha janela,

Quando nos espelhos do corredor acordam os esqueletos do sofrimento,

As estrelas são o teu olhar camuflado na escuridão da feira da vaidade,

Remeto-me ao silêncio, sabes meus amor, os jardins debruçam-se nas tuas coxas de xisto, e do rio regressa a ti a hipnotizante palavra do “Adeus” …

 

O cheiro dos barcos.

 

Junto ao tejo, meu amor… junto ao tejo…

 

O feitiço da Madame sem nome.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 10 de Junho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:02

04
Jun 17

Suspendo nos teus olhos todas as palavras que não quero escrever,

Porque tenho o tempo limitado nas mãos do luar,

Suspendo nos teus olhos todos os sonhos que não quero viver…

Abraçado ao mar,

Recordo os barcos em papel que construías só para mim,

As ruas desertas e o som do capim…

Agora sou um desiludido com a vida suspensa no teu olhar,

Um homem que olha para a forca e para a faca invisível do sofrimento,

Construído em alumínio calcinado pela tempestade,

Adoro o vento,

E a cidade saboreando o vento…

Quero dormir e deixei de ter sono,

Porque nesta montanha onde habito,

Eu grito,

E escrevo nas sombras do destino,

Ai quando eu era menino…!

Ai quando eu era um vagabundo ouvindo o sino…!

E tinha sempre comigo a saudade.

 

Saberei esquecer nos teus olhos todas as palavras que não quero escrever?

 

Vejamos.

 

Ontem sonhei que fui atropelado pelo teu amor,

Um ramo de flores que trazias na tua lapela…

Como trago na minha um ramo de dor…

Ou uma canção tão bela,

Hoje termina o dia como terminam todos os dias…

Tristes e com chuva invisível,

 

Vejamos.

 

As laranjas são doces,

Perfumadas,

 

Encosta abaixo recordo as palavras assassinadas

Nas encostas das janelas entreabertas para o luar…

 

Vejamos.

 

As laranjas são doces,

Encantadas,

 

Quando o rio esconde madrugadas…

E nos teus olhos…

Suspendo todas as palavras.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 4 de Junho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:20

03
Jun 17

Não me interessa quem me apedreja,

Sou um desgostoso filho da noite branca,

Sou filho do feitiço amordaçado das tempestades sem nome,

Caminho nos teus braços como uma serpente sem veneno…

Despois do entardecer,

Vivo vivendo a vida quotidiana das amoreiras em flor,

E das tormentas encarnadas do amor…

Amanhã vou zarpar para a montanha desconhecida,

Levarei comigo um ramo de flores adormecidas pela tempestade,

E não haverá lágrimas no meu rosto,

Nem palavras nos meus livros desgraçados…

Um sonâmbulo pede-me lume,

Faço uma fogueira com a minha tristeza,

Sem perceber que durante o amanhecer

Uma árvore me visita,

E me abraça fortemente,

E a noite me incendeia…

 

O dia termina na minha mão,

Os teus dedos entrelaçados nos meus…

Sempre que o sol acorda livremente

Nos rochedos da solidão,

 

É tarde,

O tempo dorme docemente no meu ventre

Enquanto junto ao rio o voo das gaivotas me atormentam…

E tenho medo do teu sorriso pela madrugada,

Alimento-me de nada,

Alimento-me de uma vazia esplanada

Ancorada na sombra da Primavera,

 

(Não me interessa quem me apedreja),

 

E das pedras invisíveis…

Ergue-se a paisagem nocturna da janela sem cortinados,

Sente-se o teu desgostoso perfume

Contra o meu peito desajeitado,

Sem nome,

Sem morada…

Como sou,

Sem nada,

Despedido dos teus sonhos…

Me suicido na escuridão.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 3 de Junho de 2017

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:55

28
Fev 17

Chove dentro de mim

O silêncio da madrugada,

Habito este corpo de porcelana queimada,

Como os pássaros do meu quintal ao entardecer…

Ardem,

Fogem da minha mão até se esconderem no infinito,

O deserto regressa numa jangada em pedra polida…

Triste,

Cansada,

Triste,

Amordaçada,

Chove dentro de mim

O silêncio da madrugada,

E das noites embriagadas,

Oiço o teu ventre sorrir na alvorada,

Uma lágrima de sono,

Não é nada,

Apenas o reflexo das palavras em suicídio

Que alimentam o poema da desgraça,

Tudo é triste,

E tudo morre numa tábua triturada pela solidão,

Que não resiste,

E assiste…

Ao complexo rio da saudade,

Faço-me à estrada,

Levanto as amarras deste porto nocturno do desgosto

Que trago sobre os ombros,

Vivo na cidade cansada,

Vivo na rua das esplanadas de vidro

Que a morte inventa na minha voz,

Este sítio vadio que não vem nos livros,

Este cansaço de pedra que tritura o pequeno-almoço ao acordar,

Triste,

Cansada,

Amordaçada… esta barcaça em delírio,

Este simples rio

Que traz nos lábios o frio,

A ardósia do desassossego na ponta dos dedos,

A mão alicerçada no medo encapuçado pelo destino,

Morro,

Vivo,

E sinto… e sinto a explosão do sofrimento

Sobre os rochedos dos tristes milagres enjoados…

Este cansaço,

Meu amigo,

Este cansaço meu amigo que me atormenta dia e noite…

Sem que eu saiba

Que chove dentro de mim

O silêncio da madrugada,

Stop.

Amanhã será outro dia nas páginas da desgraça…

 

 

Francisco Luís Fontinha

28/02/17

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:23

14
Mai 16

Sei que nas tuas mãos existe a paisagem do amanhecer,

As plantas e as árvores do meu jardim brincam no teu olhar

Como se o teu olhar fosse um parque infantil,

Um momento de lazer…

Tenho dúvidas se a Primavera já acordou,

Sinto uma enorme tristeza no meu peito,

Um sufoco, o medo de me perder nos teus braços.

Lá fora o ruído do costume,

O vizinho conversando com os cães,

Os cães latindo em minha direcção,

E eu incapaz de os silenciar…

Nada deve ser silenciado,

Nem os meus sonhos,

Nem a noite que me ilumina

E transporta para a cidade do rio imaginário…

O dia despede-se de mim,

Aos poucos, eu, eu despeço-me de ti,

Até que nunca mais haja dia, noite, ou tu…

Ou tu te disfarces de poeira…

E poises nos meus ombros sombreados de saudade.

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 14 de Maio de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:49

Agosto 2020
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
12
13
14
15

16
17
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30
31


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO