Sabíamos que o tempo se masturbava na clepsidra do desejo,
Sentávamo-nos num ferrugento colchão de pregos em aço,
Pegava no teu corpo e desenhava pequenos círculos,
Que rodopiavam à volta do luar,
Das frestas do gesso embriagado, um sorriso, o nosso, o teu e o meu,
Como dois pássaros poisados na escuridão,
Como dois corpos em combustão…
A velha pensão gemia como gemiam os teus lábios olhando a ruela,
Na cidade mergulhávamos como mergulham as gaivotas,
E as gaivotas
Entranhavam-se nos teus seios,
Sabíamos que seria o último orgasmo da tarde,
Sabíamos que seria o último desejo do corpo,
E no entanto…
Estavas lá, sobre mim, parecendo o inferno voando em direcção à janela da noite,
Sabíamos,
Sabíamos que o tempo se masturbava na clepsidra do desejo,
Sabíamos que os poemas se escreviam nas tuas coxas,
E mesmo assim, querias mais, e além, e depois, e ontem, e amanhã…
Diluídos nos fluidos do sémen,
Nós dois órfãos da madrugada,
Dois esqueletos em busca do prazer desenhado na idade,
Víamo-nos no espelho da saudade…
Sem percebermos o significado da paixão.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 8 de Setembro de 2015