Tínhamos na enxada do silêncio
A esperança de uma nova madrugada
Ouvíamos todas as noites
O ranger do xisto contra os corações de sombra
E ninguém percebia
Que aquele
O rio
Que aquela
A cidade
Pertenciam-nos
Como crianças
Brincando
Sem destino
Ou vaidade
Como sonâmbulos de pedra
Dormindo
Num qualquer jardim
Entre beijos
Abraços
E palavras sem fim
Tínhamos na enxada do silêncio
A vergonha do cansaço
Porque habitava na noite um barco de sémen
Descendo pausadamente
A Calçada
E morria
E morria
Junto ao teu corpo
E morria
Enquanto te abraçavas às estátuas da solidão
Que caminhavam
Caminhavam
Que caminhavam na tua mão…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 10 de Maio de 2015