Tens nas veias a saliva do desejo,
O cansaço disperso, quando a alvorada se despede de ti,
Os Oceanos infinitos entre quatro paredes de vidro,
O sangue das palavras embriagadas pela insónia,
Depois acordam as estrelas,
É dia,
Encostas-te a mim, dormes, sonhas, escreves no meu olhar as palavras proibidas,
É dia,
Pegas na minha mão, levas-me para os jardins longínquos da memória,
Ouvíamos música, líamos os limos da madrugada, na serpente, a maçã envenenada,
E outras coisas mais…
Vivíamos sonhando com livros em xisto, descendo os socalcos da miséria,
O poço da aldeia, a água límpida da manhã,
Que absorve toda a porcaria das tuas veias,
Está frio, ranges os dentes e entrelaças as mãos,
Desprega-se do teu cabelo, finíssimos pingos de geada,
Até que seja noite na nossa cidade,
Recordas-me as árvores no Outono, aos poucos despidas, sombrias…
Porque a noite é vadia, porque a noite traz recordações de outros tempos,
Relógios ensanguentados de saliva, do desejo, que alimentam as tuas veias.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 3 de Dezembro de 2017