Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

07
Mar 15

Deitavas a cabeça na minha algibeira

e imaginavas-me um tumultuoso Oceano de cinza

abrias os olhos

e brincavas nos meus lábios

havia dentro de nós um vulcão adormecido

talvez doente...

ou... ou louco

como as imagens prateadas do silêncio

ardias

parecias a fugitiva clandestina das palavras embriagadas

e os outros

e as outras

 

ou... ou louco

e loucas

as bocas

dos triciclos de sombra

caminhávamos num sótão com janelas para o mar

os barcos

e as gaivotas

revoltados

revoltadas

em pequenas pálpebras de areia

os triângulos do orgasmo

abandonados numa cama húmida

 

imunda

desfeita em cacos

e gotículas de sangue...

a cidade

os pássaros em granito

gritando

uivando

como carnívoros corações de cor

amanhã

a cidade

sobre a minha algibeira...

um sorriso

 

e em cada amanhecer o toque da campainha

saltar a janela

e descer

até à ruela sem saída

um sorriso

uma aldeia vagueando nos meus abraços

como serpentes de iodo

vomitando poemas no meu peito

rangias

uivavas...

e querias-me

acorrentado aos teus desejados sonhos vestidos de adeus...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 7 de Março de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:42

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