Deitavas a cabeça na minha algibeira
e imaginavas-me um tumultuoso Oceano de cinza
abrias os olhos
e brincavas nos meus lábios
havia dentro de nós um vulcão adormecido
talvez doente...
ou... ou louco
como as imagens prateadas do silêncio
ardias
parecias a fugitiva clandestina das palavras embriagadas
e os outros
e as outras
ou... ou louco
e loucas
as bocas
dos triciclos de sombra
caminhávamos num sótão com janelas para o mar
os barcos
e as gaivotas
revoltados
revoltadas
em pequenas pálpebras de areia
os triângulos do orgasmo
abandonados numa cama húmida
imunda
desfeita em cacos
e gotículas de sangue...
a cidade
os pássaros em granito
gritando
uivando
como carnívoros corações de cor
amanhã
a cidade
sobre a minha algibeira...
um sorriso
e em cada amanhecer o toque da campainha
saltar a janela
e descer
até à ruela sem saída
um sorriso
uma aldeia vagueando nos meus abraços
como serpentes de iodo
vomitando poemas no meu peito
rangias
uivavas...
e querias-me
acorrentado aos teus desejados sonhos vestidos de adeus...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 7 de Março de 2015