Foto de: A&M ART and Photos
(aos meus pais que fazem hoje 49 anos de casados)
As tuas mãos gélidas nas minhas pálpebras de insónia,
oiço-te sorrir junto ao tanque da agonia,
ao longe os gemidos trémulos do sino da Igreja...
percebo que nos teus olhos habitam lágrimas de papel colorido,
e sobre os teus ombros,
o peso,
o peso imensurável das sombras do abismo,
o peso... o peso da saudade saboreando as nuvens de algodão da madrugada,
As tuas mãos são como pedaços de barro esquecido na parede da solidão,
há em ti cabelos perdidos e alguns silêncios intransponíveis, ocultos... mórbidos,
há dentro de ti o cansaço,
o triste cansaço da vida,
e das tuas mãos as doces carícias do amanhecer,
há uma janela com palavras de acordar...
e palavras de acordar nos cortinados que cobrem as tuas mãos gélidas,
as tuas mãos de mim, as tuas mãos de uma sanzala enrolada em capim...
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 27 de Fevereiro de 2014