Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

14
Set 14

Quem és tu marinheiro

que habitas o meu corpo salgado...

que me aprisionas aos rochedos do medo

e te escondes nos esconderijos do silêncio

invento nomes

quando ela passa por mim

como o luar agachado na madrugada

de mão dada

com uma loira menina

como os muros de xisto

de socalco em socalco

oiço a enxada do cansaço lapidar os corações de pedra

e tu

marinheiro

dentro de mim como uma jangada

quem és tu marinheiro

que apodreces os meus ossos de cristal

e ela

tão bela

sem nome

sem... sem pedestal

caminha

palminha

os montes de papel com odor a amanhecer

sentada numa esplanada de brincar

oiço-as

as enxadas amaldiçoadas

no altar do Oceano

mulher que me acorrentas às palavras

e sofro

e sinto no meu olhar o teu nome que não o sei

quem

quem és tu marinheiro

que habitas o meu corpo salgado

meu amor

vou apelidar-te de Caravela

sem vela

sem rumo

correndo o meu corpo salgado

e tu

marinheiro

serás eternamente o meu comandante

que a solidão guiará até ao cais da ansiedade...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 14 de Setembro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:21

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