Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

22
Jun 15

(durante uns tempos não escrever; peço desculpa)

 

Não

Não tenhas pressa de partir,

Imagina no teu olhar

As sonâmbulas asas do mar,

A gaivota desesperada,

Triste,

Tão triste que não dá por nada…

Levanto as mãos,

Passo-as no teu cabelo,

Imagino os teus lábios alicerçados à montanha do Adeus,

Desenhos geométricos no teu peito,

Os teus beijos camuflados pela noite da insónia colorida de prata,

E eu aqui…

Sem nada nas mãos,

Falta-me a última palavra,

E de tantas que escrevo,

Não tenho nada,

Torna-se invisível o teu corpo na alvorada,

Pareces um comboio descarrilhado,

Enferrujado,

Sem maquinista nas curvas do Douro amado,

O poço da tua voz sangrento entre iões e protões,

A lâmina do teu cansaço poisada nos meus braços,

Encerro a janela,

Pego num livro de “AL Berto”…

E não vejo o mar a entrar pela janela…

Ausente,

A partida sem destino na cidade dos Cacilheiros,

O amor dos corpos em sofrimento amor,

Eles amam-se…

Eu.. eu amo-os,

Espalho a saliva do pensamento numa avenida sem nome,

O engate em Cais do Sodré,

O vento emagrecido,

Descendo a “Calçada da Ajuda”,

Eu parecia um cigarro em sentido,

Numa parada imaginária,

Um soldado,

Eu,

Imaginem eu um soldado,

Com uma espingarda de sémen

Disparando palavras contra a ponte 25 de Abril,

Era noite,

Ela lindíssima… vestida de luz

E carros em papel,

Deitava-me debaixo das estrelas,

Escrevia o teu rosto nas minhas lágrimas,

Embriagada cidade das águas sem nome,

Queria ser uma guilhotina,

Uma pistola em chocolate,

Comia a guilhotina…

E oferecia-te o chocolate,

Brincávamos,

Brincávamos entrelaçando as mãos na luz aérea do silêncio,

Emagreço,

Sonho com as tuas fotografias,

Acredito nos caixotes em madeira amarrotados no convés de um paquete,

Era Setembro,

Lembro-me do cheiro das videiras

E das ruas sem transeuntes,

Ouvia o suor das manhãs clandestinas,

O dia,

Anoite,

E o medo…

O medo que tenhas pressa em partir.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 22 de Junho de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:25

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