Os lobos dormem à minha porta, lá fora apenas o silêncio do cio, alguns gemidos, e a entrada do rio casa dentro, fodi-me
Os lobos querem comer-me, alguns ossos insignificantes, duas bonecas de trapos e uma espingarda de brincar, Pum…
Fodi-me, pensava eu, quando percebi que estava aprisionado às garras das sombras inanimadas do Inverno, acordo, levanto-me, abro a janela…
Fodi-me, foda-se… está um frio de rachar a peida, pego no cachimbo, manuseio-o melancolicamente, e não me apetece fumar cachimbo, apenas o acaricio, nada mais, apenas e só,
Os lobos querem-me, nem que seja apenas para troféu, um ganho, um dia feliz quando percebi que no teu olhar habitavam magnólias cinzentas, tão lindas…
Fodi-me
Tão lindas como são lindas as estrelas em Luanda, como são lindas as estrelas em Lisboa…, e fodi-me
Comi de tudo, inventei sofrimentos de nada só porque me apetecia criar sofrimentos de nada, abracei a pior noite da minha vida, fodi-me, ela não acredita que sou palhaço e trabalho num circo ambulante
Senhor Doutor…, o caranho, Senhor Doutor o caralho, apenas uns miúdos em troca de alguns cêntimos, lá dentro os cânticos Natalícios de sempre,
Fodi-me,
Que se foda o Natal (é triste, aborrecido, jantamos e a pessoa que amamos está longe…, uma merda, uma merda, senhor Doutor),
Fodi-me, os lobos dormem à minha porta, lá fora apenas o silêncio do cio, alguns gemidos, e a entrada do rio casa dentro, fodi-me
Os lobos querem comer-me, alguns ossos insignificantes, duas bonecas de trapos e uma espingarda de brincar, Pum…
Caiu, tombou sobre o sobreiro da geia do meio, PLUF… o grito dela quando vê o desmaiar do sobreiro mais antigo da aldeia dos tristes.
(ficção)
Francisco Luís Fontinha
terça-feira, 22 de Dezembro de 2015