Hei-de encontrar-te
nas masmorras cinzentas do sonho
esquecer-me das noites em solidão
e voar sobre os cadáveres desgovernados das tuas mãos de pano
hei-te encontrar-te
no círculo mais secreto do teu corpo
disfarçada de nuvem
ou... ou vestida de neblina
hei-de encontrar-te
no rio da insónia com cabelos de nenúfar
na cama clandestina da madrugada
ou no sofá com lençóis de pergaminho desejo,
Sentir que há vida na tua boca
perceber que há flores nos teus seios doirados
sentir a água louca
descendo as tuas coxas que alicerçam soldados
sentir o beijo efeminado com perfume de menina
saltar as giestas cansadas da montanha assassina...
Hei-de... hei-de encontrar-te
nas masmorras cinzentas do sonho
galgar as sombras escadas dos edifícios amarelos
ou
ou esperar... esperar que tenhas vida
que sejas a manhã em construção
a estrela do amanhecer
hei-de encontrar-te
no vão do medo
como se fosses a mulher planeta da constelação do amor
encontrar-te
hei-de... hei-de encontrar-te no silêncio do teu orgasmo.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 28 de Maio de 2014